Historicidades da IA — Resenha de Hermeson Alves de Menezes (UFS/SEED) sobre o livro “História da inteligência artificial: Século 23”, de Michael R. Santos

Michael R. Santos | Imagem: Linkedin

Resumo: História da Inteligência Artificial: Século 23, de Michael R. Santos, explora a evolução da IA. Apesar do objetivo de tornar o tema acessível, a obra é criticada por sua complexidade e abordagem futurista, que podem confundir leitores sem conhecimento prévio, limitando seu público alvo.

Palavras-chave: Inteligência Artificial; computação; robô.


História da inteligência artificial: Século 23 foi lançado em 2022, dentro do Kindle Direct Publishing — plataforma da Amazon para publicação de eBooks de forma independente —, com o objetivo explicitado de explorar o campo teórico e explicar como funciona uma Inteligência Artificial (IA). Direcionado ao público interessado pelo tema, a obra possui 232 páginas, distribuídas em uma Introdução e mais dezoito capítulos, simulando aulas, conversas entre um professor de IA e seus alunos e entrevistas com a IA.

Seu autor, Michael R. Santos, faz parte da equipe do Principia Economica — direcionado a temas sobre Economia —, e Aranea Science — que trata sobre ciência e tecnologia, com foco em temas como computação quântica, inteligência artificial, segurança da informação, Biologia computacional e Física computacional —, ambos podcasts hospedados no serviço de streaming Spotify. Santos têm dez livros publicados na plataforma da Amazon, além de um canal no Youtube, no qual fala sobre o mundo digital. Não conseguimos informações sobre a formação acadêmica do autor. No perfil de autores da Amazon, Michael R. Santos afirma ser “um pesquisador independente de ciência da computação”.

Na Introdução, o autor descreve seu contato e aprendizado sobre as inteligências artificiais e as razões para escrever o livro e já no primeiro capítulo explica que a concepção da Inteligência Artificial (IA) emergiu após a criação dos computadores, inspirada na ideia pré-existente de uma máquina com inteligência humana generalizada. Durante o século XXI, a pesquisa em IA se voltou para a Neurociência computacional, procurando entender como simular a capacidade de processamento cerebral sem alcançar a consciência. A necessidade de um modelo matemático que integrasse teoria neurocientífica e aprendizado baseado no cérebro levou ao desenvolvimento de estruturas que imitam a vida, sem criar uma nova forma de vida.

No segundo capítulo, a contribuição de Alan Turing é destacada, especialmente sua proposta de um sistema com a capacidade cognitiva de uma criança. Turing também introduziu conceitos de recompensa e punição, essenciais para o aprendizado de reforço na IA. Santos discute se máquinas podem ser consideradas inteligentes ou ter direitos, ressaltando a diferença na adaptabilidade do cérebro humano em comparação com máquinas e sistemas de IA. No capítulo seguinte aborda o Dartmouth Summer Research Project de 1956, marcando o início formal dos estudos em IA. A importância das redes neurais e da meta-aprendizagem é discutida, além da capacidade humana de aprendizado influenciada por recompensas dopaminérgicas e considerações morais, diferenciando humanos das máquinas.

No quarto capítulo, Santos examina o medo da substituição de trabalhos humanos por IAs, argumentando que novas ocupações surgirão e que a interdisciplinaridade é crucial para evitar interpretações reducionistas sobre a IA. O estudo da Psicologia do desenvolvimento, Sociologia, e outras áreas são essenciais para compreender e desenvolver a Robótica e IA. Na sequência, apresenta uma entrevista fictícia com o prof. Volkof sobre a consciência nas máquinas, destacando a obra de Isaac Asimov, Eu, Robô, e a necessidade de regulamentação, não por causa da consciência nas máquinas, mas para prevenir o uso criminoso de IAs.

No sexto, sétimo e oitavo capítulos, explora, respectivamente:o uso da IA para resolver problemas complexos de computação, como os NP-Complete, demonstrando o potencial da IA em campos desafiadores, a relação consciência e legalidade das máquinas, introduzindo o conceito de “teatralidade” para explicar a apresentação de consciência por IAs, e a Super Inteligência Artificial (SAI), questionando sua viabilidade e impacto futuro, com ênfase na diferenciação entre empatia e desenvolvimento social em humanos versus IAs.

O nono capítulo ressalta a linguística matemática para entender o processamento de linguagem pelas IAs e a criação de linguagens próprias. No décimo capítulo, Santos detalha como as IAs funcionam, desde a definição de objetivos até a otimização de aprendizado através de algoritmos, comparando-o com o aprendizado humano. Nos três seguintes, são apresentados diálogos com IAs sobre contribuições científicas e o papel da teoria da informação e do teorema do almoço grátis na IA.

No décimo quinto, sexto e sétimo capítulos, o autor discute a ligação aprendizado/cérebro humano, sugerindo a aplicabilidade da Global Workspace Theory na criação de IAs conscientes, reitera a capacidade da IA em resolver problemas NP utilizando aprendizado por reforço, destacando o potencial de soluções inovadoras e, ainda, discute os desafios na criação de uma AGI, apontando a complexidade da consciência humana e a necessidade de uma abordagem interdisciplinar.

Finalmente, no décimo oitavo capítulo, é debatido o conceito de consciência e individualidade, enfatizando a complexidade do cérebro humano e a integração de suas funções para a experiência de ser.

Identidades | Imagem: IF/Midjourney

A obra contribui para compreensão da Inteligência Artifical. No entanto, a forma escolhida pelo autor para apresentar o conteúdo esbarra em dois principais problemas: o primeiro deles, a opção por situar a narrativa no século XXIII pelas vozes de personagens fictícios provoca em alguns momentos a dúvida do leitor sobre os acontecimentos.

Além disso, a grande quantidade de informações muito técnicas e a literatura citada, geralmente em língua estrangeira, pode restringir o provável público consumidor da obra —, destoando da intenção do próprio autor, anunciada na introdução do livro: que adotou “essa estratégia porque […] é mais legal de se escrever e de se ler. Vamos falar também da parte matemática da coisa, mas você não precisa saber nada. O professor irá te ensinar do zero, sobre o passado, presente e futuro da IA” (p. 2). Ao final, não é isso o que a leitura proporciona, exigindo, em alguns momentos, um conhecimento prévio de pontos da temática.

Apesar dos problemas, a obra consegue construir uma cronologia dos acontecimentos fundadores e o desenvolvimento da Inteligência Artificial ao longo do tempo. Não obstante em alguns momentos a linguagem técnica prevalecer, o texto pode representar a entrada de muitos leitores no mundo da Inteligência Artificial. Além disso, algumas discussões, a exemplo da existência ou não de uma consciência nas IAs, permite uma reflexão oportuna sobre as características e limites desses sistemas.

Assim, o objetivo de explorar o campo teórico e explicar como funciona uma Inteligência Artificial foi cumprido. O autor apresenta os principais nomes que contribuíram para o desenvolvimento de teorias que formam a base da Inteligência Artifical, bem como uma discussão qualitativa sobre o funcionamento de uma IA. Embora possa ser lida por iniciantes na temática, a obra será mais bem aproveitada por aqueles que já dominam alguns conceitos e usam a IA no seu dia a dia.


Resenhista

Hermeson Alves de Menezes possui graduação em História Licenciatura (2006), mestrado em Educação (2011) e doutorado em Educação (2020), todos pela Universidade Federal de Sergipe. É bolsista do Núcleo de Material Didático do CESAD/UFS e professor da Rede Pública Estadual de Sergipe nos ensinos Fundamental e Médio. Entre outros trabalhos, publicou A festa do Senhor dos Passos em São Cristóvão/SE, a partir das memórias de Dona Neném e Livros didáticos de história de Sergipe: questões sobre um objeto da cultura escolar”.  ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/9725173762578379; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6948-3296; E-mail: hermeson@hotmail.com.


Para citar esta resenha

SANTOS, Michael R. História da inteligência artificial: século 23. sdt.: Amazon, 2022. v. 1. Ebook Kindle. Resenha de: MENEZES, Hermeson Alves de. Historicidades da IA. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.16, mar./abr., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/historicidades-da-ia-resenha-de-hermeson-alves-de-menezes-ufs-seed-sobre-o-livro-historia-da-inteligencia-artificial-seculo-23-de-michael-r-santos/>.

 


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n. 16, mar./abr., 2023 | ISSN 2764-2666

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Historicidades da IA — Resenha de Hermeson Alves de Menezes (UFS/SEED) sobre o livro “História da inteligência artificial: Século 23”, de Michael R. Santos

Michael R. Santos | Imagem: Linkedin

Resumo: História da Inteligência Artificial: Século 23, de Michael R. Santos, explora a evolução da IA. Apesar do objetivo de tornar o tema acessível, a obra é criticada por sua complexidade e abordagem futurista, que podem confundir leitores sem conhecimento prévio, limitando seu público alvo.

Palavras-chave: Inteligência Artificial; computação; robô.


História da inteligência artificial: Século 23 foi lançado em 2022, dentro do Kindle Direct Publishing — plataforma da Amazon para publicação de eBooks de forma independente —, com o objetivo explicitado de explorar o campo teórico e explicar como funciona uma Inteligência Artificial (IA). Direcionado ao público interessado pelo tema, a obra possui 232 páginas, distribuídas em uma Introdução e mais dezoito capítulos, simulando aulas, conversas entre um professor de IA e seus alunos e entrevistas com a IA.

Seu autor, Michael R. Santos, faz parte da equipe do Principia Economica — direcionado a temas sobre Economia —, e Aranea Science — que trata sobre ciência e tecnologia, com foco em temas como computação quântica, inteligência artificial, segurança da informação, Biologia computacional e Física computacional —, ambos podcasts hospedados no serviço de streaming Spotify. Santos têm dez livros publicados na plataforma da Amazon, além de um canal no Youtube, no qual fala sobre o mundo digital. Não conseguimos informações sobre a formação acadêmica do autor. No perfil de autores da Amazon, Michael R. Santos afirma ser “um pesquisador independente de ciência da computação”.

Na Introdução, o autor descreve seu contato e aprendizado sobre as inteligências artificiais e as razões para escrever o livro e já no primeiro capítulo explica que a concepção da Inteligência Artificial (IA) emergiu após a criação dos computadores, inspirada na ideia pré-existente de uma máquina com inteligência humana generalizada. Durante o século XXI, a pesquisa em IA se voltou para a Neurociência computacional, procurando entender como simular a capacidade de processamento cerebral sem alcançar a consciência. A necessidade de um modelo matemático que integrasse teoria neurocientífica e aprendizado baseado no cérebro levou ao desenvolvimento de estruturas que imitam a vida, sem criar uma nova forma de vida.

No segundo capítulo, a contribuição de Alan Turing é destacada, especialmente sua proposta de um sistema com a capacidade cognitiva de uma criança. Turing também introduziu conceitos de recompensa e punição, essenciais para o aprendizado de reforço na IA. Santos discute se máquinas podem ser consideradas inteligentes ou ter direitos, ressaltando a diferença na adaptabilidade do cérebro humano em comparação com máquinas e sistemas de IA. No capítulo seguinte aborda o Dartmouth Summer Research Project de 1956, marcando o início formal dos estudos em IA. A importância das redes neurais e da meta-aprendizagem é discutida, além da capacidade humana de aprendizado influenciada por recompensas dopaminérgicas e considerações morais, diferenciando humanos das máquinas.

No quarto capítulo, Santos examina o medo da substituição de trabalhos humanos por IAs, argumentando que novas ocupações surgirão e que a interdisciplinaridade é crucial para evitar interpretações reducionistas sobre a IA. O estudo da Psicologia do desenvolvimento, Sociologia, e outras áreas são essenciais para compreender e desenvolver a Robótica e IA. Na sequência, apresenta uma entrevista fictícia com o prof. Volkof sobre a consciência nas máquinas, destacando a obra de Isaac Asimov, Eu, Robô, e a necessidade de regulamentação, não por causa da consciência nas máquinas, mas para prevenir o uso criminoso de IAs.

No sexto, sétimo e oitavo capítulos, explora, respectivamente:o uso da IA para resolver problemas complexos de computação, como os NP-Complete, demonstrando o potencial da IA em campos desafiadores, a relação consciência e legalidade das máquinas, introduzindo o conceito de “teatralidade” para explicar a apresentação de consciência por IAs, e a Super Inteligência Artificial (SAI), questionando sua viabilidade e impacto futuro, com ênfase na diferenciação entre empatia e desenvolvimento social em humanos versus IAs.

O nono capítulo ressalta a linguística matemática para entender o processamento de linguagem pelas IAs e a criação de linguagens próprias. No décimo capítulo, Santos detalha como as IAs funcionam, desde a definição de objetivos até a otimização de aprendizado através de algoritmos, comparando-o com o aprendizado humano. Nos três seguintes, são apresentados diálogos com IAs sobre contribuições científicas e o papel da teoria da informação e do teorema do almoço grátis na IA.

No décimo quinto, sexto e sétimo capítulos, o autor discute a ligação aprendizado/cérebro humano, sugerindo a aplicabilidade da Global Workspace Theory na criação de IAs conscientes, reitera a capacidade da IA em resolver problemas NP utilizando aprendizado por reforço, destacando o potencial de soluções inovadoras e, ainda, discute os desafios na criação de uma AGI, apontando a complexidade da consciência humana e a necessidade de uma abordagem interdisciplinar.

Finalmente, no décimo oitavo capítulo, é debatido o conceito de consciência e individualidade, enfatizando a complexidade do cérebro humano e a integração de suas funções para a experiência de ser.

Identidades | Imagem: IF/Midjourney

A obra contribui para compreensão da Inteligência Artifical. No entanto, a forma escolhida pelo autor para apresentar o conteúdo esbarra em dois principais problemas: o primeiro deles, a opção por situar a narrativa no século XXIII pelas vozes de personagens fictícios provoca em alguns momentos a dúvida do leitor sobre os acontecimentos.

Além disso, a grande quantidade de informações muito técnicas e a literatura citada, geralmente em língua estrangeira, pode restringir o provável público consumidor da obra —, destoando da intenção do próprio autor, anunciada na introdução do livro: que adotou “essa estratégia porque […] é mais legal de se escrever e de se ler. Vamos falar também da parte matemática da coisa, mas você não precisa saber nada. O professor irá te ensinar do zero, sobre o passado, presente e futuro da IA” (p. 2). Ao final, não é isso o que a leitura proporciona, exigindo, em alguns momentos, um conhecimento prévio de pontos da temática.

Apesar dos problemas, a obra consegue construir uma cronologia dos acontecimentos fundadores e o desenvolvimento da Inteligência Artificial ao longo do tempo. Não obstante em alguns momentos a linguagem técnica prevalecer, o texto pode representar a entrada de muitos leitores no mundo da Inteligência Artificial. Além disso, algumas discussões, a exemplo da existência ou não de uma consciência nas IAs, permite uma reflexão oportuna sobre as características e limites desses sistemas.

Assim, o objetivo de explorar o campo teórico e explicar como funciona uma Inteligência Artificial foi cumprido. O autor apresenta os principais nomes que contribuíram para o desenvolvimento de teorias que formam a base da Inteligência Artifical, bem como uma discussão qualitativa sobre o funcionamento de uma IA. Embora possa ser lida por iniciantes na temática, a obra será mais bem aproveitada por aqueles que já dominam alguns conceitos e usam a IA no seu dia a dia.


Resenhista

Hermeson Alves de Menezes possui graduação em História Licenciatura (2006), mestrado em Educação (2011) e doutorado em Educação (2020), todos pela Universidade Federal de Sergipe. É bolsista do Núcleo de Material Didático do CESAD/UFS e professor da Rede Pública Estadual de Sergipe nos ensinos Fundamental e Médio. Entre outros trabalhos, publicou A festa do Senhor dos Passos em São Cristóvão/SE, a partir das memórias de Dona Neném e Livros didáticos de história de Sergipe: questões sobre um objeto da cultura escolar”.  ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/9725173762578379; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6948-3296; E-mail: hermeson@hotmail.com.


Para citar esta resenha

SANTOS, Michael R. História da inteligência artificial: século 23. sdt.: Amazon, 2022. v. 1. Ebook Kindle. Resenha de: MENEZES, Hermeson Alves de. Historicidades da IA. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.16, mar./abr., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/historicidades-da-ia-resenha-de-hermeson-alves-de-menezes-ufs-seed-sobre-o-livro-historia-da-inteligencia-artificial-seculo-23-de-michael-r-santos/>.

 


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n. 16, mar./abr., 2023 | ISSN 2764-2666

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