Aprendizagem zás trás – Resenha de José Ítalo dos Santos Nascimento (URCA) sobre o livro “História do Brasil para quem tem pressa”, de Marcos Costa

Marcos Costa | Imagem: Facebook

Resumo: História do Brasil para quem tem pressa, de Marcos Costa, visa oferecer uma visão rápida da história brasileira, mas é criticada por sua falta de profundidade e detalhamento, especialmente nas perspectivas subalternizadas. A obra, atraente para leitores casuais, não atende às expectativas acadêmicas para estudos detalhados.

Palavras-chave: História do Brasil; síntese histórica.


História do Brasil para quem tem pressa, de autor Marcos Costa, foi publicada pela editora Valenina. O escrito tem por objetivo fazer uma “viagem” pela história do país tentando responder questionamentos que necessitam do conhecimento histórico. É parte da coleção “História para quem tem pressa”, publicação que chamou e chama atenção do público, principalmente pela facilidade e rapidez de leitura o que não a inclui nas escolhas de quem procura uma leitura mais detalhada e acadêmica a respeito da história nacional.

Marcos Costa, possui graduação, mestrado e doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), tendo concluído, no ano de 2007, Biografia Histórica: a trajetória intelectual de Sérgio Buarque de Holanda entre os anos de 1930 e 1982, sob orientação de Carlos Eduardo Jordão Machado. O autor possui experiência nas áreas de História do Brasil, Historiografia Brasileira e Teoria da história.

História do Brasil para quem tem pressa, apresenta alguns questionamentos na sua introdução: Por que, do ponto de vista político, o Brasil ainda é um país muito frágil? Por que a nossa imensa riqueza natural não se reverte em um estado de bem-estar social universal? O que estava por trás da viagem que trouxe Cabral ao Brasil? Por que o território foi dividido em Capitanias Hereditárias? Por que fomos a última nação ocidental a abolir de forma oficial o trabalho escravo? O livro anuncia essas  perguntas com intuito de descrever seis séculos de história em menos de 200 páginas.

O primeiro capítulo do livro fala sobre o mercantilismo e o protagonismo de Portugal nas grandes navegações. O texto também destaca algumas situações que contribuíram para a chegada dos portugueses no território que hoje é chamado de Brasil. Na sua formatação, o trabalho inicia uma discussão em alguns parágrafos e apresenta em seguida um parágrafo em letras maiúsculas, como uma espécie de fichamento, traçando assim um roteiro entre o comércio, sua expansão, a tomada de Ceuta, a tomada de Constantinopla, trajetória de Dom João II, a viagem de Cabral, descrições de Américo Vespúcio e as capitanias hereditárias. Esses são os principais pontos de argumentação do autor no primeiro capítulo que se estende por menos de 15 páginas. Ocorre que o autor poderia ter exemplificado melhor às questões das capitanias hereditárias, jogando seus nomes e os motivos pelos quais não deram certo. O autor ainda tenta fazer isso, expondo uma fonte cartográfica sem sua transcrição,  que pode deslocar a atenção do leitor e deixar sua leitura menos fluida.

No segundo capítulo, o autor narra experiências que se estendem de 1534 até 1822 (Independência do Brasil). A estrutura do texto segue o mesmo roteiro descrito sobre o capítulo primeiro, ou seja, iniciando com um embasamento a respeito dos interesses de exploração de Portugal para com o Brasil e, em seguida, entrando no assunto das minas de Potosí, Governo Geral, relações econômicas a partir do açúcar e a escassez de metais preciosos (ouro), o encontro e a alteridade, escravidão africana, Felipe II na Espanha e a questão ibérica, Reforma e Contrarreforma, invasão holandesa, o ouro no século XVII e a Inconfidência mineira, vinda da família real, os interesses ingleses e a Revolução Pernambucana. Esses temas são discutidos em 23 páginas e, neste contexto resumido, destacamos, é insuficiente a exploração das temáticas sobre indígenas e africanos para que evitemos a romantização das relações entre escravizados e senhores. É estranha a lacuna porque há fontes acessíveis, como os textos de John Manuel Monteiro, Eduardo Viveiros de Castro, assim como autores indígenas que estão reescrevendo sua história, a exemplo de Ailton Krenak e Davi Kopenawa.

O terceiro capítulo comenta sobre o período monárquico, dando ênfase ao primeiro e ao segundo reinado de Dom Pedro I e Dom Pedro II. Aqui, o autor comenta sobre a Confederação do Equador, a ascensão da oligarquia do café, lei Eusébio de Queiróz, lei Áurea e o golpe que vai instaurar a República. Esse capítulo apresenta-se como um destaque positivo, pois aproxima-se de do debate historiográfico, fazendo um diálogo com fontes históricas.

No quarto capítulo, o livro faz um breve relato sobre período republicano (1889-2015), constituindo sintéticas trajetórias dos presidentes, acompanhadas de reproduções fotográficas em preto e branco. Contextualizando o governo provisório, História do Brasil para quem tem pressa conta os feitos de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto no âmbito político-militar. A narrativa continua com a descrição da República do café com leite, momento em que predominavam as oligarquias de Minas Gerais e São Paulo. O texto fala da decadência desse sistema, saltando para os governos de Getúlio Vargas. Considerando que o texto é escrito por um historiador, compreende-se pelos princípios do método histórico e, de maneira geral, do ofício do historiador (a necessidade de dar voz ao contraditório, de informar sobre pluralidades, ambiguidades e outras versões em nota de rodapé, por exemplo), percebemos que que historiadores(as) não tem pressa.

Por outro lado, devemos considerar que maioria do público leitor de história (e desse livro, em particular) é dominantemente parcial e opta por estudar uma história breve e unívoca em termos de interpretação.

O texto, por exemplo, poderia abordar o protagonismo dos povos subalternizados dentro dessas dinâmicas históricas, destacando seus próprios objetivos e interesses, como das populações indígenas, negras e quilombolas.

A política de queima do café no porto de Santos | Foto: “Gosto Amargo”, 1930/(Costa, 2016)

Numa visão geral, podemos afirmar que a obra possui possui seus méritos, considerando os elogios através de comentários feitos em redes sociais, com por exemplo, na rede social Skoob que se tornou ponto de encontro para leitores. Apesar de exibir uma história pouco detalhada e pouco fundamentada teoricamente, o livro chama atenção e consegue preencher uma breve curiosidade dos consumidores com relação à história do Brasil. O livro cumpre, assim, o seu objetivo de fazer uma viagem pela história do Brasil, a despeito de seu conteúdo não ocupar espaço dentro da academia como referência de estudos inspiradores.

Sumário de História do Brasil para quem tem pressa

  • Prefácio
  • Introdução
  • 1. Os Antecedentes 1453–1534
  • 2. Período Colonial 1534–1822
  • 3. Período Monárquico 1822–1889
  • 4. Período Republicano 1889–2015
  • Índice onomástico
  • Sobre o autor
  • Notas

Resenhista

José Ítalo dos Santos Nascimento é mestrando em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e licenciado em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Entre outros trabalhos, publicou: “Pega dente de cachorro“: mulheres indígenas no Ceará colonial, início do século XVIII e O efeito além dos palcos: reflexões sobre o espetáculo Prefiro rosa e não azul (2016), da Companhia de Teatro e Dança Traquejo, na cidade de Exu-PE. ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/8823269543249881; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9455-2476; Redes sociais, Instagram: @italo_nascimentu; E-mail: santos.italo@urca.br.


Para citar esta resenha

COSTA, Marcos. História do Brasil para quem tem pressa. Rio de Janeiro: Valenina, 2016. 200p. Resenha de: NASCIMENTO, José Ítalo dos Santos. Aprendizagem zás-trás. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.16, mar./abr., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/aprendizagem-zas-tras-resenha-de-jose-italo-dos-santos-nascimento-urca-sobre-o-livro-historia-do-brasil-para-quem-tem-pressa-de-marcos-costa/>.

 


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n. 16, mar./abr., 2024 | ISSN 2764-2666

Pesquisa/Search

Alertas/Alerts

Aprendizagem zás trás – Resenha de José Ítalo dos Santos Nascimento (URCA) sobre o livro “História do Brasil para quem tem pressa”, de Marcos Costa

Marcos Costa | Imagem: Facebook

Resumo: História do Brasil para quem tem pressa, de Marcos Costa, visa oferecer uma visão rápida da história brasileira, mas é criticada por sua falta de profundidade e detalhamento, especialmente nas perspectivas subalternizadas. A obra, atraente para leitores casuais, não atende às expectativas acadêmicas para estudos detalhados.

Palavras-chave: História do Brasil; síntese histórica.


História do Brasil para quem tem pressa, de autor Marcos Costa, foi publicada pela editora Valenina. O escrito tem por objetivo fazer uma “viagem” pela história do país tentando responder questionamentos que necessitam do conhecimento histórico. É parte da coleção “História para quem tem pressa”, publicação que chamou e chama atenção do público, principalmente pela facilidade e rapidez de leitura o que não a inclui nas escolhas de quem procura uma leitura mais detalhada e acadêmica a respeito da história nacional.

Marcos Costa, possui graduação, mestrado e doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), tendo concluído, no ano de 2007, Biografia Histórica: a trajetória intelectual de Sérgio Buarque de Holanda entre os anos de 1930 e 1982, sob orientação de Carlos Eduardo Jordão Machado. O autor possui experiência nas áreas de História do Brasil, Historiografia Brasileira e Teoria da história.

História do Brasil para quem tem pressa, apresenta alguns questionamentos na sua introdução: Por que, do ponto de vista político, o Brasil ainda é um país muito frágil? Por que a nossa imensa riqueza natural não se reverte em um estado de bem-estar social universal? O que estava por trás da viagem que trouxe Cabral ao Brasil? Por que o território foi dividido em Capitanias Hereditárias? Por que fomos a última nação ocidental a abolir de forma oficial o trabalho escravo? O livro anuncia essas  perguntas com intuito de descrever seis séculos de história em menos de 200 páginas.

O primeiro capítulo do livro fala sobre o mercantilismo e o protagonismo de Portugal nas grandes navegações. O texto também destaca algumas situações que contribuíram para a chegada dos portugueses no território que hoje é chamado de Brasil. Na sua formatação, o trabalho inicia uma discussão em alguns parágrafos e apresenta em seguida um parágrafo em letras maiúsculas, como uma espécie de fichamento, traçando assim um roteiro entre o comércio, sua expansão, a tomada de Ceuta, a tomada de Constantinopla, trajetória de Dom João II, a viagem de Cabral, descrições de Américo Vespúcio e as capitanias hereditárias. Esses são os principais pontos de argumentação do autor no primeiro capítulo que se estende por menos de 15 páginas. Ocorre que o autor poderia ter exemplificado melhor às questões das capitanias hereditárias, jogando seus nomes e os motivos pelos quais não deram certo. O autor ainda tenta fazer isso, expondo uma fonte cartográfica sem sua transcrição,  que pode deslocar a atenção do leitor e deixar sua leitura menos fluida.

No segundo capítulo, o autor narra experiências que se estendem de 1534 até 1822 (Independência do Brasil). A estrutura do texto segue o mesmo roteiro descrito sobre o capítulo primeiro, ou seja, iniciando com um embasamento a respeito dos interesses de exploração de Portugal para com o Brasil e, em seguida, entrando no assunto das minas de Potosí, Governo Geral, relações econômicas a partir do açúcar e a escassez de metais preciosos (ouro), o encontro e a alteridade, escravidão africana, Felipe II na Espanha e a questão ibérica, Reforma e Contrarreforma, invasão holandesa, o ouro no século XVII e a Inconfidência mineira, vinda da família real, os interesses ingleses e a Revolução Pernambucana. Esses temas são discutidos em 23 páginas e, neste contexto resumido, destacamos, é insuficiente a exploração das temáticas sobre indígenas e africanos para que evitemos a romantização das relações entre escravizados e senhores. É estranha a lacuna porque há fontes acessíveis, como os textos de John Manuel Monteiro, Eduardo Viveiros de Castro, assim como autores indígenas que estão reescrevendo sua história, a exemplo de Ailton Krenak e Davi Kopenawa.

O terceiro capítulo comenta sobre o período monárquico, dando ênfase ao primeiro e ao segundo reinado de Dom Pedro I e Dom Pedro II. Aqui, o autor comenta sobre a Confederação do Equador, a ascensão da oligarquia do café, lei Eusébio de Queiróz, lei Áurea e o golpe que vai instaurar a República. Esse capítulo apresenta-se como um destaque positivo, pois aproxima-se de do debate historiográfico, fazendo um diálogo com fontes históricas.

No quarto capítulo, o livro faz um breve relato sobre período republicano (1889-2015), constituindo sintéticas trajetórias dos presidentes, acompanhadas de reproduções fotográficas em preto e branco. Contextualizando o governo provisório, História do Brasil para quem tem pressa conta os feitos de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto no âmbito político-militar. A narrativa continua com a descrição da República do café com leite, momento em que predominavam as oligarquias de Minas Gerais e São Paulo. O texto fala da decadência desse sistema, saltando para os governos de Getúlio Vargas. Considerando que o texto é escrito por um historiador, compreende-se pelos princípios do método histórico e, de maneira geral, do ofício do historiador (a necessidade de dar voz ao contraditório, de informar sobre pluralidades, ambiguidades e outras versões em nota de rodapé, por exemplo), percebemos que que historiadores(as) não tem pressa.

Por outro lado, devemos considerar que maioria do público leitor de história (e desse livro, em particular) é dominantemente parcial e opta por estudar uma história breve e unívoca em termos de interpretação.

O texto, por exemplo, poderia abordar o protagonismo dos povos subalternizados dentro dessas dinâmicas históricas, destacando seus próprios objetivos e interesses, como das populações indígenas, negras e quilombolas.

A política de queima do café no porto de Santos | Foto: “Gosto Amargo”, 1930/(Costa, 2016)

Numa visão geral, podemos afirmar que a obra possui possui seus méritos, considerando os elogios através de comentários feitos em redes sociais, com por exemplo, na rede social Skoob que se tornou ponto de encontro para leitores. Apesar de exibir uma história pouco detalhada e pouco fundamentada teoricamente, o livro chama atenção e consegue preencher uma breve curiosidade dos consumidores com relação à história do Brasil. O livro cumpre, assim, o seu objetivo de fazer uma viagem pela história do Brasil, a despeito de seu conteúdo não ocupar espaço dentro da academia como referência de estudos inspiradores.

Sumário de História do Brasil para quem tem pressa

  • Prefácio
  • Introdução
  • 1. Os Antecedentes 1453–1534
  • 2. Período Colonial 1534–1822
  • 3. Período Monárquico 1822–1889
  • 4. Período Republicano 1889–2015
  • Índice onomástico
  • Sobre o autor
  • Notas

Resenhista

José Ítalo dos Santos Nascimento é mestrando em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e licenciado em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Entre outros trabalhos, publicou: “Pega dente de cachorro“: mulheres indígenas no Ceará colonial, início do século XVIII e O efeito além dos palcos: reflexões sobre o espetáculo Prefiro rosa e não azul (2016), da Companhia de Teatro e Dança Traquejo, na cidade de Exu-PE. ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/8823269543249881; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9455-2476; Redes sociais, Instagram: @italo_nascimentu; E-mail: santos.italo@urca.br.


Para citar esta resenha

COSTA, Marcos. História do Brasil para quem tem pressa. Rio de Janeiro: Valenina, 2016. 200p. Resenha de: NASCIMENTO, José Ítalo dos Santos. Aprendizagem zás-trás. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.16, mar./abr., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/aprendizagem-zas-tras-resenha-de-jose-italo-dos-santos-nascimento-urca-sobre-o-livro-historia-do-brasil-para-quem-tem-pressa-de-marcos-costa/>.

 


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n. 16, mar./abr., 2024 | ISSN 2764-2666

Resenhistas

Privacidade

Ao se inscrever nesta lista de e-mails, você estará sujeito à nossa política de privacidade.

Acesso livre

Crítica Historiográfica não cobra taxas para submissão, publicação ou uso dos artigos. Os leitores podem baixar, copiar, distribuir, imprimir os textos para fins não comerciais, desde que citem a fonte.

Foco e escopo

Publicamos resenhas de livros e de dossiês de artigos de revistas acadêmicas que tratem da reflexão, investigação, comunicação e/ou consumo da escrita da História. Saiba mais sobre o único periódico de História inteiramente dedicado à Crítica em formato resenha.

Corpo editorial

Somos professore(a)s do ensino superior brasileiro, especializado(a)s em mais de duas dezenas de áreas relacionadas à reflexão, produção e usos da História. Faça parte dessa equipe.

Submissões

As resenhas devem expressar avaliações de livros ou de dossiês de revistas acadêmicas autodesignadas como "de História". Conheça as normas e envie-nos o seu texto.

Pesquisa


Enviar mensagem de WhatsApp