Crítica Historiográfica na era da Inteligência Artificial

Hermenêutica futurista | Imagem: IA/Canva/IF

Resumo: Neste editorial, anunciamos a adoção consciente de modelos de linguagem de Inteligência Artificial (IA) no gerenciamento da revista Crítica Historiográfica, discriminando as seções nas quais ela está embutida, as vantagens de uso e as prescrições em termos de autoria e referenciação que regerão o periódico a partir desta edição.

Palavras-chave: Inteligência Artificial, Periódicos Acadêmicos, Crítica Historiográfica.


Caros leitores da Revista Crítica Historiográfica,

É com imenso prazer que a equipe editorial da nossa revista anuncia a incorporação consciente e voluntária de modelos de linguagem de Inteligência Artificial (IA).

A IA, exemplificada recentemente, na grande mídia, pelo ChatGPT, é uma tecnologia avançada que pode ser empregada em uma série de tarefas relacionadas à edição de textos, oferecendo muitos benefícios para o gerenciamento de Crítica Historiográfica.

Além de empregarmos na revisão de textos, sugerindo correções de gramática e estilo nos textos recebidos para avaliação (“Resenhas” e “Artigos de revisão”), usamos a tecnologia para revisar traduções de resumos, sugerir títulos das resenhas e palavras-chave, criar imagens físicas (como a que ilustra este editorial), operar sistemática e mensalmente sobre dados brutos colhidos na web, mobilizando grandezas absolutas e relativas sobre a produção bibliográfica brasileira, lendo, descrevendo e interpretando quadros e tabelas e produzindo relatórios descritivos, possibilitando a publicação de relatórios e artigos com melhor qualidade em termos de clareza e objetividade (como seção de “Informação bibliográfica”, último tópico da nossa página inicial).

O uso da IA não se limita ao trabalho de edição de textos e produção de relatórios. A tecnologia também pode ser empregada pelos leitores e articulistas da revista. Facilita a construção de resenhas de livros e artigos de revisão, tornando o processo de produção mais eficiente e consistente porque os seus recursos alcançam todas as etapas da produção da pesquisa e de sua divulgação. Limitemo-nos, contudo, aos dois produtos alvo da nossa revista: a resenha e o artigo de revisão.

Para a produção de resenhas, sobretudo de estudantes que se iniciam nos cursos superiores, a tecnologia pode antecipar um esboço clássico do gênero, construído gradativamente com as anotações autorais de leitura. O estudante pode retirar as informações dos elementos do título, prefácio, sumário e introdução e já prover o seu primeiro parágrafo, segundo as regras da nossa revista para o gênero. Finalizada a primeira versão texto, ele pode submetê-la ao exame lógico, por exemplo, verificando a existência de argumentos incompletos (sem justificação) e de falácias lógicas de relevância e de evidência. Dessa forma, ele percebe que é capaz de produzir um texto escorreito e pode adquirir mais fácil um padrão prescrito por um domínio histórico (ver a aba “Submissões”).

A Tecnologia também provê uma primeira revisão estilística e gramatical do texto. Mediante sucessivos comandos em processos de tentativa e erro, exame do erro e nova tentativa, o estudante recebe um relatório detalhado sobre o que deve ser aperfeiçoado. Consequentemente, esse exercício sistemático de interrogar a máquina desenvolve no estudante a capacidade de elaborar questões e hipóteses mais sofisticadas, algo que um professor (um humano) não consegue prover com a mesma rapidez porque é impossível fornecer a cada estudante o feedback instantâneo que ele deseja ou necessita.

Para a produção de artigos de revisão, a tecnologia pode sugerir questões de pesquisa, partindo de um tema ou de um conjunto de temas em rede, pode sugerir hipóteses, linhas de investigação configuradas em objetivos gerais e específicos e, respectivamente, planos de investigação, tipologia de fontes primárias, autoridades bibliográficas e métodos para o processamento de fontes. Pode analisar textos, processar o fruto dessas analises qualitativa e quantitativamente, comparando e estabelecendo diferenças e semelhanças, pontos positivos e pontos problemáticos. Pode sugerir planos de redação, estratégias de desenvolvimento de parágrafos, argumentos dotados de evidências e conclusões, exemplificações e analogias e revisar o texto segundo prescrições do periódico ao qual se endereça o trabalho.

A tecnologia, por fim, pode produzir resumos, abstracts, palavras-chave e keywords objetivos e íntegros, releases, postagens para as redes sociais. Pode sugerir transladação do artigo de revisão em linguagens artísticas, em material didático imagético, escrito ou sonoro, em ementas e planos de curso, planos de aula e itens de prova e testes completos para a avaliação da aprendizagem, visando a tradução do texto acadêmico ao público mais amplo.

Tudo isso somente é possível na presença de pessoas adequadamente formadas em seus domínios, bem-informadas e predispostas a fazer ciência dentro dos parâmetros conhecidos nos últimos 100 anos pela maioria, ou seja, que pensem o conhecimento científico como coisa construída, incerta, mutável e dependente de evidências e justificações regradas por pares.

Isso significa que os seres humanos de carne e osso continuam no comando da produção acadêmica. Isso também significa que nós, da revista Crítica Historiográfica, seguindo parâmetros já em circulação no exterior das ciências humanas e sociais[i], não aceitamos modelos de inteligência artificial como autores e exigimos que as ferramentas de IA, quando empregadas nas resenhas e nos artigos de revisão, sejam inseridas como meios de pesquisa em suas mais distintas acepções (método, técnica, estratégia, instrumento, recurso etc.).

A equipe editorial de Crítica Historiográfica gostaria de agradecer a todos os leitores e colaboradores pelo apoio e dedicação à nossa revista. Convidamos todos a continuarem acompanhando nossa produção científica e a explorarem as possibilidades da tecnologia a serviço da ciência.

Atenciosamente,

Profa. Dra. Margarida Maria Dias de Oliveira (UFRN)

Prof. Dr. Itamar Freitas (UFS)

Prof. Dr. Magno Francisco de Jesus Santos (UFRN)

Prof. Dr. Fábio Alves dos Santos (UFS)

Profa. Dra. Jane Semeão (URCA)

Nota

[i] Conferir posição da revista Nature, em 23 de janeiro de 2023.


Para citar este texto

OLIVEIRA, Maria Margarida Dias; FREITAS, Itamar Freitas; SANTOS, Magno Francisco de Jesus; SANTO, Fábio Alves dos; SEMEÃO, Jane. Crítica Historiográfica na era da Inteligência Artificial. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.10, mar./abr., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/critica-historiografica-na-era-da-inteligencia-artificial/> DOI: 10.29327/254374.3.10-1


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 10, mar./abr., 2023 | ISSN 2764-2666

 

Pesquisa/Search

Alertas/Alerts

Crítica Historiográfica na era da Inteligência Artificial

Hermenêutica futurista | Imagem: IA/Canva/IF

Resumo: Neste editorial, anunciamos a adoção consciente de modelos de linguagem de Inteligência Artificial (IA) no gerenciamento da revista Crítica Historiográfica, discriminando as seções nas quais ela está embutida, as vantagens de uso e as prescrições em termos de autoria e referenciação que regerão o periódico a partir desta edição.

Palavras-chave: Inteligência Artificial, Periódicos Acadêmicos, Crítica Historiográfica.


Caros leitores da Revista Crítica Historiográfica,

É com imenso prazer que a equipe editorial da nossa revista anuncia a incorporação consciente e voluntária de modelos de linguagem de Inteligência Artificial (IA).

A IA, exemplificada recentemente, na grande mídia, pelo ChatGPT, é uma tecnologia avançada que pode ser empregada em uma série de tarefas relacionadas à edição de textos, oferecendo muitos benefícios para o gerenciamento de Crítica Historiográfica.

Além de empregarmos na revisão de textos, sugerindo correções de gramática e estilo nos textos recebidos para avaliação (“Resenhas” e “Artigos de revisão”), usamos a tecnologia para revisar traduções de resumos, sugerir títulos das resenhas e palavras-chave, criar imagens físicas (como a que ilustra este editorial), operar sistemática e mensalmente sobre dados brutos colhidos na web, mobilizando grandezas absolutas e relativas sobre a produção bibliográfica brasileira, lendo, descrevendo e interpretando quadros e tabelas e produzindo relatórios descritivos, possibilitando a publicação de relatórios e artigos com melhor qualidade em termos de clareza e objetividade (como seção de “Informação bibliográfica”, último tópico da nossa página inicial).

O uso da IA não se limita ao trabalho de edição de textos e produção de relatórios. A tecnologia também pode ser empregada pelos leitores e articulistas da revista. Facilita a construção de resenhas de livros e artigos de revisão, tornando o processo de produção mais eficiente e consistente porque os seus recursos alcançam todas as etapas da produção da pesquisa e de sua divulgação. Limitemo-nos, contudo, aos dois produtos alvo da nossa revista: a resenha e o artigo de revisão.

Para a produção de resenhas, sobretudo de estudantes que se iniciam nos cursos superiores, a tecnologia pode antecipar um esboço clássico do gênero, construído gradativamente com as anotações autorais de leitura. O estudante pode retirar as informações dos elementos do título, prefácio, sumário e introdução e já prover o seu primeiro parágrafo, segundo as regras da nossa revista para o gênero. Finalizada a primeira versão texto, ele pode submetê-la ao exame lógico, por exemplo, verificando a existência de argumentos incompletos (sem justificação) e de falácias lógicas de relevância e de evidência. Dessa forma, ele percebe que é capaz de produzir um texto escorreito e pode adquirir mais fácil um padrão prescrito por um domínio histórico (ver a aba “Submissões”).

A Tecnologia também provê uma primeira revisão estilística e gramatical do texto. Mediante sucessivos comandos em processos de tentativa e erro, exame do erro e nova tentativa, o estudante recebe um relatório detalhado sobre o que deve ser aperfeiçoado. Consequentemente, esse exercício sistemático de interrogar a máquina desenvolve no estudante a capacidade de elaborar questões e hipóteses mais sofisticadas, algo que um professor (um humano) não consegue prover com a mesma rapidez porque é impossível fornecer a cada estudante o feedback instantâneo que ele deseja ou necessita.

Para a produção de artigos de revisão, a tecnologia pode sugerir questões de pesquisa, partindo de um tema ou de um conjunto de temas em rede, pode sugerir hipóteses, linhas de investigação configuradas em objetivos gerais e específicos e, respectivamente, planos de investigação, tipologia de fontes primárias, autoridades bibliográficas e métodos para o processamento de fontes. Pode analisar textos, processar o fruto dessas analises qualitativa e quantitativamente, comparando e estabelecendo diferenças e semelhanças, pontos positivos e pontos problemáticos. Pode sugerir planos de redação, estratégias de desenvolvimento de parágrafos, argumentos dotados de evidências e conclusões, exemplificações e analogias e revisar o texto segundo prescrições do periódico ao qual se endereça o trabalho.

A tecnologia, por fim, pode produzir resumos, abstracts, palavras-chave e keywords objetivos e íntegros, releases, postagens para as redes sociais. Pode sugerir transladação do artigo de revisão em linguagens artísticas, em material didático imagético, escrito ou sonoro, em ementas e planos de curso, planos de aula e itens de prova e testes completos para a avaliação da aprendizagem, visando a tradução do texto acadêmico ao público mais amplo.

Tudo isso somente é possível na presença de pessoas adequadamente formadas em seus domínios, bem-informadas e predispostas a fazer ciência dentro dos parâmetros conhecidos nos últimos 100 anos pela maioria, ou seja, que pensem o conhecimento científico como coisa construída, incerta, mutável e dependente de evidências e justificações regradas por pares.

Isso significa que os seres humanos de carne e osso continuam no comando da produção acadêmica. Isso também significa que nós, da revista Crítica Historiográfica, seguindo parâmetros já em circulação no exterior das ciências humanas e sociais[i], não aceitamos modelos de inteligência artificial como autores e exigimos que as ferramentas de IA, quando empregadas nas resenhas e nos artigos de revisão, sejam inseridas como meios de pesquisa em suas mais distintas acepções (método, técnica, estratégia, instrumento, recurso etc.).

A equipe editorial de Crítica Historiográfica gostaria de agradecer a todos os leitores e colaboradores pelo apoio e dedicação à nossa revista. Convidamos todos a continuarem acompanhando nossa produção científica e a explorarem as possibilidades da tecnologia a serviço da ciência.

Atenciosamente,

Profa. Dra. Margarida Maria Dias de Oliveira (UFRN)

Prof. Dr. Itamar Freitas (UFS)

Prof. Dr. Magno Francisco de Jesus Santos (UFRN)

Prof. Dr. Fábio Alves dos Santos (UFS)

Profa. Dra. Jane Semeão (URCA)

Nota

[i] Conferir posição da revista Nature, em 23 de janeiro de 2023.


Para citar este texto

OLIVEIRA, Maria Margarida Dias; FREITAS, Itamar Freitas; SANTOS, Magno Francisco de Jesus; SANTO, Fábio Alves dos; SEMEÃO, Jane. Crítica Historiográfica na era da Inteligência Artificial. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.10, mar./abr., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/critica-historiografica-na-era-da-inteligencia-artificial/> DOI: 10.29327/254374.3.10-1


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 10, mar./abr., 2023 | ISSN 2764-2666

 

Resenhistas

Privacidade

Ao se inscrever nesta lista de e-mails, você estará sujeito à nossa política de privacidade.

Acesso livre

Crítica Historiográfica não cobra taxas para submissão, publicação ou uso dos artigos. Os leitores podem baixar, copiar, distribuir, imprimir os textos para fins não comerciais, desde que citem a fonte.

Foco e escopo

Publicamos resenhas de livros e de dossiês de artigos de revistas acadêmicas que tratem da reflexão, investigação, comunicação e/ou consumo da escrita da História. Saiba mais sobre o único periódico de História inteiramente dedicado à Crítica em formato resenha.

Corpo editorial

Somos professore(a)s do ensino superior brasileiro, especializado(a)s em mais de duas dezenas de áreas relacionadas à reflexão, produção e usos da História. Faça parte dessa equipe.

Submissões

As resenhas devem expressar avaliações de livros ou de dossiês de revistas acadêmicas autodesignadas como "de História". Conheça as normas e envie-nos o seu texto.

Pesquisa


Enviar mensagem de WhatsApp