Curiosidade historiadora – Resenha de Marianne de Menezes Gally (UnB), sobre o livro “Turismo e viagem no Egito Antigo”, de Mohammed Yehia Z. Ahmed.
Detalhe de capa de Tourism and travel in Ancient Egypt Travel like an Egyptian (2016)
Turismo e viagem no Egito Antigo, de Mohammed Yehia Zakaria Z. Ahmed, foi lançado pela Pro Audio Voices, em San Rafael, Califórnia, no ano 2017. É, antes de tudo, uma obra didática e de fruição. Seu prefácio é estruturado em tópicos sintéticos: quem deveria ler o livro, razões para a escrita e conteúdo. Para o autor, egiptólogos turismólogos e estudiosos da História deveriam ler o livro para conhecer os objetivos das viagens no Egito Antigo, inscritas em tumbas e templos do período.
Estranhamente, neste mundo da Internet, as informações sobre Mohamed Yehia Zakaria Zakaria Ahmed são escassas, tanto em plataformas de audiobooks, como na Amazon, onde o livro está à venda em vários idiomas. Segundo conta pessoal no Google Acadêmico, ele atua na Swiss School of Business and Management (Genebra) e se interessa principalmente por maketing cultural e turismo cultural. Na conta da Academia.edu, declara-se praticante de turismo industrial, além de experiência acadêmica na área. Ele é egípcio e concluou bacharelado e mestrado em Turismo, na Universidade do Cairo e na Universidade de Viena. O livro é estruturado em introdução e sete capítulos. Traz lista de referências empregadas e três apêndices: A cronologia da História do Egito Antigo, Mapa adaptado dos destinos e Glossário Básico de termos e definições de turismo.
O primeiro capítulo apresenta o tema do livro e oferece uma visão geral das viagens no Egito, contextualizando as jornadas históricas do período pré-dinástico até o fim do Novo Reino. Destaca as viagens importantes da história egípcia sob a perspectiva do turismo. O segundo capítulo aprofunda a análise do tema, apresentando sinônimos de viagens e turismo na língua egípcia e suas equivalências na vida diária. Investiga sinônimos de viagem na literatura egípcia, expandindo o estudo no quarto capítulo.
O terceiro capítulo analisa e sintetiza os contextos apresentados nos capítulos anteriores, explorando o quadro das viagens no Egito e explicando fatores que as sustentavam, como a natureza da terra, localização e navegação, além dos destinos preferidos. O sexto capítulo complementa essa análise destacando a infraestrutura do Egito, abordando rotas marítimas, recursos hídricos como canais, o Rio Nilo, o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, bem como o papel do clima e da geografia na promoção de viagens.
Egito ainda tem a estrada pavimentada mais antiga do mundo […]. Esta estrada é Widan el-Faras, a cerca de 12 km de comprimento, que vem da área da pedreira Widan el-Faras ao Lago Moeris “Fayoum hoje”. Esta estrada atravessava os desertos ocidentais e era usada para transferir as pedras extraídas, bem como para viajar. Além
desta estrada, havia rotas de caravanas que eram usadas por viajantes egípcios nos desertos ocidentais e orientais e no sul. (p.95)
Estrada Widan el-Faras (Gebel el-Qatrani, Faiyum, 60 km a sudoeste do Cairo no deserto Ocidental) | Fonte: Köpp (2009)
Os capítulos quatro e cinco aprofundam a análise do tema do livro através de contos e fontes literárias egípcias, como textos das pirâmides, narrativas de Sinuhe, histórias de náufragos e a viagem de Hatshepsut a Punt. Analisam cenas pintadas em templos e tumbas, traduzindo textos egípcios sobre viagens faraônicas e demonstrando a evolução dos textos literários por meio de evidências e dados, como cenas em túmulos e templos.
Os capítulos sete e oito abordam os fatores de sucesso das viagens no Egito, respondendo a perguntas sobre a duração das viagens, destinos turísticos, tipos de alojamento, transporte e alimentação. Incluem uma análise dos componentes das viagens, como acomodação, alimentação e os meios de transporte utilizados. A conclusão do livro é dividida em duas seções: a primeira discute termos como “viagem” e “turismo” segundo organizações de turismo, como a OMT, enquanto a segunda aplica esses termos ao contexto do Egito, investigando se as viagens dos egípcios podem ser classificadas como turismo e analisando semelhanças entre as viagens antigas e modernas (cf. Apêndices C e D).
A obra apresenta inconsistências gramaticais, erros de digitação e grafia que dificultam e distraem uma leitura fluida e dinâmica. Apesar de seu pioneirismo na área, Mohammed articula suas ideias de forma repetitiva e circular, sendo necessário inclusive uma atualização de dados, já que houve novas descobertas no campo turístico do Egito, assim como um novo fluxo turístico pós pandêmico.
O livro cumpre os objetivos apresentados, na medida em que confirma, ao longo dos capítulos, a defesa de valores como a liberdade e a dignidade humana, e reitera a ideia de turismo como fenômeno inerentemente humano de deslocar-se, conhecer o outro e conhecer a si mesmo. Mohammed explicita suas metas e descobertas através de suas pesquisas assim como os resultados e reflexões que acarretaram. É de fato uma obra riquíssima, extensa e singular, com elementos minuciosos sobre a cultura egípcia e primeiros indícios de viagens daquela cultura. Replicando as indicações dos organizadores, o livro se destina aos alunos e professores universitários dos cursos de Filosofia, Turismo, Estudos Culturais e Estudos Ambientais.
Resenhista
Marianne de Menezes Gally é bacharel em Turismo pela Universidade de Brasília (UnB) e tem experiência em turismo receptivo e turismo de eventos. Entre outros trabalhos, escreveu Uso público no Parque Nacional da Serra da Capivara: uma análise da estrutura para a promoção do turismo sustentável (2023). ID LATTES: xxx; ID: ORCID: xxx; e-mail: mariannegally@outlook.com.
Para citar esta resenha
AHMED, Mohammed Yehia Z. Turismo e viagem no Egito Antigo. San Rafael: Pro Audio Voices, 2017. [E-book]. Resenha de: GALLY, Marianne de Menezes. Curiosidade historiadora. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.16, mar./abr., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/curiosidade-historiadora-resenha-de-marianne-de-menezes-gally-unb-sobre-o-livro-turismo-e-viagem-no-egito-antigo-de-mohammed-yehia-z-ahmed/>.
Curiosidade historiadora – Resenha de Marianne de Menezes Gally (UnB), sobre o livro “Turismo e viagem no Egito Antigo”, de Mohammed Yehia Z. Ahmed.
01 outubro 2024
Detalhe de capa de Tourism and travel in Ancient Egypt Travel like an Egyptian (2016)
Turismo e viagem no Egito Antigo, de Mohammed Yehia Zakaria Z. Ahmed, foi lançado pela Pro Audio Voices, em San Rafael, Califórnia, no ano 2017. É, antes de tudo, uma obra didática e de fruição. Seu prefácio é estruturado em tópicos sintéticos: quem deveria ler o livro, razões para a escrita e conteúdo. Para o autor, egiptólogos turismólogos e estudiosos da História deveriam ler o livro para conhecer os objetivos das viagens no Egito Antigo, inscritas em tumbas e templos do período.
Estranhamente, neste mundo da Internet, as informações sobre Mohamed Yehia Zakaria Zakaria Ahmed são escassas, tanto em plataformas de audiobooks, como na Amazon, onde o livro está à venda em vários idiomas. Segundo conta pessoal no Google Acadêmico, ele atua na Swiss School of Business and Management (Genebra) e se interessa principalmente por maketing cultural e turismo cultural. Na conta da Academia.edu, declara-se praticante de turismo industrial, além de experiência acadêmica na área. Ele é egípcio e concluou bacharelado e mestrado em Turismo, na Universidade do Cairo e na Universidade de Viena. O livro é estruturado em introdução e sete capítulos. Traz lista de referências empregadas e três apêndices: A cronologia da História do Egito Antigo, Mapa adaptado dos destinos e Glossário Básico de termos e definições de turismo.
O primeiro capítulo apresenta o tema do livro e oferece uma visão geral das viagens no Egito, contextualizando as jornadas históricas do período pré-dinástico até o fim do Novo Reino. Destaca as viagens importantes da história egípcia sob a perspectiva do turismo. O segundo capítulo aprofunda a análise do tema, apresentando sinônimos de viagens e turismo na língua egípcia e suas equivalências na vida diária. Investiga sinônimos de viagem na literatura egípcia, expandindo o estudo no quarto capítulo.
O terceiro capítulo analisa e sintetiza os contextos apresentados nos capítulos anteriores, explorando o quadro das viagens no Egito e explicando fatores que as sustentavam, como a natureza da terra, localização e navegação, além dos destinos preferidos. O sexto capítulo complementa essa análise destacando a infraestrutura do Egito, abordando rotas marítimas, recursos hídricos como canais, o Rio Nilo, o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, bem como o papel do clima e da geografia na promoção de viagens.
Egito ainda tem a estrada pavimentada mais antiga do mundo […]. Esta estrada é Widan el-Faras, a cerca de 12 km de comprimento, que vem da área da pedreira Widan el-Faras ao Lago Moeris “Fayoum hoje”. Esta estrada atravessava os desertos ocidentais e era usada para transferir as pedras extraídas, bem como para viajar. Além
desta estrada, havia rotas de caravanas que eram usadas por viajantes egípcios nos desertos ocidentais e orientais e no sul. (p.95)
Estrada Widan el-Faras (Gebel el-Qatrani, Faiyum, 60 km a sudoeste do Cairo no deserto Ocidental) | Fonte: Köpp (2009)
Os capítulos quatro e cinco aprofundam a análise do tema do livro através de contos e fontes literárias egípcias, como textos das pirâmides, narrativas de Sinuhe, histórias de náufragos e a viagem de Hatshepsut a Punt. Analisam cenas pintadas em templos e tumbas, traduzindo textos egípcios sobre viagens faraônicas e demonstrando a evolução dos textos literários por meio de evidências e dados, como cenas em túmulos e templos.
Os capítulos sete e oito abordam os fatores de sucesso das viagens no Egito, respondendo a perguntas sobre a duração das viagens, destinos turísticos, tipos de alojamento, transporte e alimentação. Incluem uma análise dos componentes das viagens, como acomodação, alimentação e os meios de transporte utilizados. A conclusão do livro é dividida em duas seções: a primeira discute termos como “viagem” e “turismo” segundo organizações de turismo, como a OMT, enquanto a segunda aplica esses termos ao contexto do Egito, investigando se as viagens dos egípcios podem ser classificadas como turismo e analisando semelhanças entre as viagens antigas e modernas (cf. Apêndices C e D).
A obra apresenta inconsistências gramaticais, erros de digitação e grafia que dificultam e distraem uma leitura fluida e dinâmica. Apesar de seu pioneirismo na área, Mohammed articula suas ideias de forma repetitiva e circular, sendo necessário inclusive uma atualização de dados, já que houve novas descobertas no campo turístico do Egito, assim como um novo fluxo turístico pós pandêmico.
O livro cumpre os objetivos apresentados, na medida em que confirma, ao longo dos capítulos, a defesa de valores como a liberdade e a dignidade humana, e reitera a ideia de turismo como fenômeno inerentemente humano de deslocar-se, conhecer o outro e conhecer a si mesmo. Mohammed explicita suas metas e descobertas através de suas pesquisas assim como os resultados e reflexões que acarretaram. É de fato uma obra riquíssima, extensa e singular, com elementos minuciosos sobre a cultura egípcia e primeiros indícios de viagens daquela cultura. Replicando as indicações dos organizadores, o livro se destina aos alunos e professores universitários dos cursos de Filosofia, Turismo, Estudos Culturais e Estudos Ambientais.
Resenhista
Marianne de Menezes Gally é bacharel em Turismo pela Universidade de Brasília (UnB) e tem experiência em turismo receptivo e turismo de eventos. Entre outros trabalhos, escreveu Uso público no Parque Nacional da Serra da Capivara: uma análise da estrutura para a promoção do turismo sustentável (2023). ID LATTES: xxx; ID: ORCID: xxx; e-mail: mariannegally@outlook.com.
Para citar esta resenha
AHMED, Mohammed Yehia Z. Turismo e viagem no Egito Antigo. San Rafael: Pro Audio Voices, 2017. [E-book]. Resenha de: GALLY, Marianne de Menezes. Curiosidade historiadora. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.16, mar./abr., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/curiosidade-historiadora-resenha-de-marianne-de-menezes-gally-unb-sobre-o-livro-turismo-e-viagem-no-egito-antigo-de-mohammed-yehia-z-ahmed/>.
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