Deficiência visual em questão – Resenha de Luiz Fernando de Carvalho Reis (FAI) sobre o livro “A cuia e a bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993)”, de José Jorge Andrade Damasceno

José Jorge Andrade Damasceno. Detalhe de capa de A cuia e a bengala (2022) | Imagem: RI/UFBA

Resumo: A cuia e a bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993), de José Jorge Andrade Damasceno problematiza o preconceito e explora o empoderamento das pessoas cegas na sociedade contemporânea.

Palavras – chave: Pessoas cegas, Preconceito, Deficiência visual.


Em A cuia e a bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993), de José Jorge Andrade Damasceno, abordam-se os resultados da implementação de políticas públicas e iniciativas privadas voltadas para a assistência, apoio e capacitação profissional de pessoas com deficiência visual. O foco recai sobre as ações conduzidas por indivíduos e/ou organizações, oferecendo uma oportunidade para entender como a educação dessas pessoas se desenvolveu na Bahia. Além disso, exploram-se as escassas oportunidades oferecidas a elas no mercado de trabalho, revelando informações detalhadas que não estão disponíveis em outras publicações. Esses insights são apresentados por meio da exploração das vivências das pessoas cegas. O livro busca ampliar a compreensão da sociedade sobre as capacidades e potenciais desses indivíduos, desafiando estereótipos e preconceitos arraigados. Assim, o objetivo geral é promover uma mudança de perspectiva e fomentar ações concretas para garantir a plena participação e o empoderamento das pessoas cegas na sociedade.

José Jorge Andrade Damasceno é professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras (PPGEAFIN) no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias (DCHT), no campus XVI, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), localizado na cidade de Irecê. O livro que é resultado de sua dissertação de mestrado, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), defendida no ano de 1998. Nele, o pesquisador se dedica ao estudo da cegueira, apresentando uma análise abrangente sobre a integração de pessoas cegas em Salvador – BA, durante as décadas de 1960 a 1990, apresentando-nos uma dura realidade e revelando detalhes impactantes. O livro está organizado em duas partes, com um total de quatro capítulos, em que os entrevistados, cegos, expressam seus pontos de vista sobre o olhar da sociedade frente à cegueira.

Da introdução, ressaltamos a força e a coragem que o professor Damasceno demonstrou para seguir com o seu propósito de pesquisador, mesmo diante das portas que se fecharam, inclusive do ICB, por onde passou na condição de estudante. A análise das entrevistas realizadas em seu trabalho permitiu-lhe inferir que a atuação das instituições para cegos apenas reforça a visão social de que eles são pessoas dependentes.

Na primeira parte – “Histórias e Memórias do Processo de Inserção de Pessoas Cegas na Escola, no Trabalho e na Sociedade” – analisam-se as diversas políticas e ações implementadas por instituições para cegos. Embora devessem fazer parte de um esforço para integrar social, cultural e profissionalmente os indivíduos cegos, isso não ocorre na medida em que se cria um vínculo de dependência e acomodação muito forte, do qual poucos conseguem desvencilhar-se, conforme pontuado no segundo capítulo (p.46). Este capítulo aborda principalmente a história do ICB como um centro educacional para pessoas cegas em Salvador, durante período de crescimento urbano acelerado. Destaca-se a importância do trabalho dos cegos no processo industrial da cidade e a transformação de um abrigo em um local promotor de educação e autonomia na vida urbana de Salvador, entre 1960 e 1985, período de industrialização da cidade. A expansão econômica e os limites urbanos, impostos pelo crescimento populacional, condicionaram a ação do Instituto de Cegos da Bahia (ICB), que ficou mais conhecido por abrigar uma fábrica de vassouras, geradora de renda para a instituição.

Importante salientar que o texto repete informações e conceitos diversas vezes, tornando-o prolixo e cansativo. Alguns exemplos disso são a reiteração da ideia de que o Instituto de Cegos da Bahia não era apenas um abrigo, a menção repetida de nomes de pessoas envolvidas na fundação do instituto e a redundância de informações sobre a crise econômica e a redução na arrecadação da instituição. Falta clareza em relação aos objetivos e à estrutura do ICB, há mistura de informações sobre seu papel como abrigo e seu papel como educandário. Além disso, a organização prejudica a fluidez da leitura, empregam-se citações em excesso, inseridas abruptamente.

No entanto, o texto apresenta uma contextualização detalhada da ação do ICB, abordando sua fundação, transformações ao longo do tempo e as influências externas que motivaram a sua reestruturação. Esse tratamento fornece uma compreensão mais completa do tema, mediada, inclusive, por entrevistas.

O instituto atende pessoas de zero a 100 anos com problema de cegueira, baixa visão, surdocegueira e deficiência múltipla | Foto: Filipe Augusto

Na segunda parte – “Histórias e Memórias de Rumos e Trajetórias” – apresenta-se um conjunto de narrativas sobre trajetórias envolvendo doze pessoas cegas. O objetivo é mostrar que essas pessoas estavam sujeitas às mesmas eventualidades e peculiaridades de todos os outros componentes do corpo social. Narram-se histórias de pessoas cegas que enfrentaram obstáculos em suas vidas e contribuíram para a que as gerações futuras superassem preconceitos e discriminações. A sociedade impõe representações e estereótipos às pessoas com deficiência, marginalizando-as e limitando seu pleno desenvolvimento. No caso das pessoas cegas, elas são muitas vezes vistas como incapazes e dependentes, o que impacta sua autoimagem e reivindicações.

O texto desta parte, contudo, apresenta estrutura confusa, com informações e ideias desconexas, excesso de linguagem complexa e formal, frases longas e terminologia técnica desacompanhada dos devidos esclarecimentos ao leitor. Também faltam referências bibliográficas e/ou fontes que embasem as afirmações do autor. Não obstante esses problemas, o texto aborda o tema das políticas públicas e ações privadas em relação às pessoas cegas, discutindo suas profissionalizações e empregos. Oferece também insights sobre as mudanças sociais e econômicas que ocorreram ao longo do tempo e seu impacto na inclusão e autonomia dessas pessoas. Apresenta exemplos que embasam suas afirmações e destaca as consequências das guerras, o surgimento de novas tecnologias e o papel das instituições, como o Serviço Nacional da Indústria (SENAI) na busca por oportunidades de trabalho para pessoas cegas. O texto fornece diferentes pontos de vista e opiniões, dando voz a diferentes entrevistados e suas experiências. Finalmente, demonstra sensibilidade em relação às dificuldades e necessidades das pessoas cegas, enfatizando a importância de políticas públicas adequadas e do apoio familiar para a promoção da independência e inclusão dessas pessoas na sociedade.

Na conclusão, a obra problematiza a esmola e sua associação à cegueira, discutindo como essa prática é vista na sociedade e a persistência de estereótipos negativos relacionados às pessoas cegas. O texto informa que a esmola é uma prática antiga, mencionada nos evangelhos, sendo associada a recompensas para aqueles que a praticavam de maneira discreta e desinteressada. Salienta que, durante a Idade Média, a Igreja estabeleceu grupos de pessoas consideradas dignas de receber esmola, incluindo os cegos, vistos como incapazes de prover por si mesmos as suas condições de existência. O texto cita um artigo de jornal de 1934 que retrata os cegos e a cegueira com emoção, pena e comoção, destacando a criação de uma fundação como uma forma de redenção para os cegos. Apesar do tempo decorrido, os conceitos e modos de pensar presentes no artigo ainda ressoam na mentalidade social atual.

Apesar das declarações pertinentes, a conclusão apresenta problemas de clareza e coerência, a exemplo da seção anterior. Ainda assim, é louvável a discussão que associa esmola e cegueira e os estereótipos negativos que persistem. Essa reflexão visa despertar no leitor a importância de combater preconceitos.

De modo geral, a obra atinge seus objetivos de promover uma mudança de perspectiva e incentivar ações concretas para assegurar a plena participação e o empoderamento das pessoas cegas na sociedade contemporânea. Como uma compilação extensa das memórias de indivíduos sem visão, o livro serve é orientação valiosa para a formulação de novos modelos de inclusão no presente século. Assim, transitando entre independência e interdependência, Damasceno desafia o leitor a transcender a simples filantropia e instiga a reflexão sobre o fortalecimento, indo além dos discursos acadêmicos politicamente aceitos. Por esses motivos, esse livro deveria ser lido por profissionais da saúde e educação, bem como por estudantes e pesquisadores das áreas de Psicologia, Educação, Sociologia, Antropologia e campos correlatos. A leitura é especialmente recomendada para pessoas cegas e os seus familiares, que podem se identificar com as histórias e experiências compartilhadas no livro. É uma oportunidade de encontrar relatos inspiradores, aprender sobre estratégias para superar desafios e refletir sobre como a sociedade percebe e trata as pessoas cegas.

Sumário de A Cuia e a Bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993)

  • Prefácio
  • Apresentação
  • Introdução
  • Primeira parte
    • Histórias e memórias do processo de inserção de pessoas cegas na escola, no trabalho e na sociedade
    • Uma contextualização histórica e espacial do processo de inserção de pessoas cegas na escola, no trabalho e na sociedade – 1960 -1985
    • Políticas públicas e assistencialismo
  • Segunda parte
    • Histórias e memórias de rumos e trajetórias
    • Histórias e memórias de mulheres
    • Histórias e memórias de percursos masculinos
  • Conclusão
  • Posfácio
  • Referências

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Resenhista

Luiz Fernando de Carvalho Reis é mestre em Administração Estratégica pela Universidade Salvador (US), especialista em Cultura Teológica pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e bacharel em Administração e Teologia. É professor da Faculdade Irecê (FAI).  ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/1500485484897919; ID: https://orcid.org/0009-0007-1755-3014; E-mail: luxreis75.lr@gmail.com.br.

 


Referências

DAMASCENO, José Jorge Andrade. A Cuia e a Bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993). Salvador: Editora da UFBA, 2022. 341p. Resenha de: REIS, Luiz Fernando de Carvalho. Deficiência visual em questão. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.11, maio/jun.2023.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 11, maio/jun., 2023 | ISSN 2764-2666

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Deficiência visual em questão – Resenha de Luiz Fernando de Carvalho Reis (FAI) sobre o livro “A cuia e a bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993)”, de José Jorge Andrade Damasceno

José Jorge Andrade Damasceno. Detalhe de capa de A cuia e a bengala (2022) | Imagem: RI/UFBA

Resumo: A cuia e a bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993), de José Jorge Andrade Damasceno problematiza o preconceito e explora o empoderamento das pessoas cegas na sociedade contemporânea.

Palavras – chave: Pessoas cegas, Preconceito, Deficiência visual.


Em A cuia e a bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993), de José Jorge Andrade Damasceno, abordam-se os resultados da implementação de políticas públicas e iniciativas privadas voltadas para a assistência, apoio e capacitação profissional de pessoas com deficiência visual. O foco recai sobre as ações conduzidas por indivíduos e/ou organizações, oferecendo uma oportunidade para entender como a educação dessas pessoas se desenvolveu na Bahia. Além disso, exploram-se as escassas oportunidades oferecidas a elas no mercado de trabalho, revelando informações detalhadas que não estão disponíveis em outras publicações. Esses insights são apresentados por meio da exploração das vivências das pessoas cegas. O livro busca ampliar a compreensão da sociedade sobre as capacidades e potenciais desses indivíduos, desafiando estereótipos e preconceitos arraigados. Assim, o objetivo geral é promover uma mudança de perspectiva e fomentar ações concretas para garantir a plena participação e o empoderamento das pessoas cegas na sociedade.

José Jorge Andrade Damasceno é professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras (PPGEAFIN) no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias (DCHT), no campus XVI, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), localizado na cidade de Irecê. O livro que é resultado de sua dissertação de mestrado, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), defendida no ano de 1998. Nele, o pesquisador se dedica ao estudo da cegueira, apresentando uma análise abrangente sobre a integração de pessoas cegas em Salvador – BA, durante as décadas de 1960 a 1990, apresentando-nos uma dura realidade e revelando detalhes impactantes. O livro está organizado em duas partes, com um total de quatro capítulos, em que os entrevistados, cegos, expressam seus pontos de vista sobre o olhar da sociedade frente à cegueira.

Da introdução, ressaltamos a força e a coragem que o professor Damasceno demonstrou para seguir com o seu propósito de pesquisador, mesmo diante das portas que se fecharam, inclusive do ICB, por onde passou na condição de estudante. A análise das entrevistas realizadas em seu trabalho permitiu-lhe inferir que a atuação das instituições para cegos apenas reforça a visão social de que eles são pessoas dependentes.

Na primeira parte – “Histórias e Memórias do Processo de Inserção de Pessoas Cegas na Escola, no Trabalho e na Sociedade” – analisam-se as diversas políticas e ações implementadas por instituições para cegos. Embora devessem fazer parte de um esforço para integrar social, cultural e profissionalmente os indivíduos cegos, isso não ocorre na medida em que se cria um vínculo de dependência e acomodação muito forte, do qual poucos conseguem desvencilhar-se, conforme pontuado no segundo capítulo (p.46). Este capítulo aborda principalmente a história do ICB como um centro educacional para pessoas cegas em Salvador, durante período de crescimento urbano acelerado. Destaca-se a importância do trabalho dos cegos no processo industrial da cidade e a transformação de um abrigo em um local promotor de educação e autonomia na vida urbana de Salvador, entre 1960 e 1985, período de industrialização da cidade. A expansão econômica e os limites urbanos, impostos pelo crescimento populacional, condicionaram a ação do Instituto de Cegos da Bahia (ICB), que ficou mais conhecido por abrigar uma fábrica de vassouras, geradora de renda para a instituição.

Importante salientar que o texto repete informações e conceitos diversas vezes, tornando-o prolixo e cansativo. Alguns exemplos disso são a reiteração da ideia de que o Instituto de Cegos da Bahia não era apenas um abrigo, a menção repetida de nomes de pessoas envolvidas na fundação do instituto e a redundância de informações sobre a crise econômica e a redução na arrecadação da instituição. Falta clareza em relação aos objetivos e à estrutura do ICB, há mistura de informações sobre seu papel como abrigo e seu papel como educandário. Além disso, a organização prejudica a fluidez da leitura, empregam-se citações em excesso, inseridas abruptamente.

No entanto, o texto apresenta uma contextualização detalhada da ação do ICB, abordando sua fundação, transformações ao longo do tempo e as influências externas que motivaram a sua reestruturação. Esse tratamento fornece uma compreensão mais completa do tema, mediada, inclusive, por entrevistas.

O instituto atende pessoas de zero a 100 anos com problema de cegueira, baixa visão, surdocegueira e deficiência múltipla | Foto: Filipe Augusto

Na segunda parte – “Histórias e Memórias de Rumos e Trajetórias” – apresenta-se um conjunto de narrativas sobre trajetórias envolvendo doze pessoas cegas. O objetivo é mostrar que essas pessoas estavam sujeitas às mesmas eventualidades e peculiaridades de todos os outros componentes do corpo social. Narram-se histórias de pessoas cegas que enfrentaram obstáculos em suas vidas e contribuíram para a que as gerações futuras superassem preconceitos e discriminações. A sociedade impõe representações e estereótipos às pessoas com deficiência, marginalizando-as e limitando seu pleno desenvolvimento. No caso das pessoas cegas, elas são muitas vezes vistas como incapazes e dependentes, o que impacta sua autoimagem e reivindicações.

O texto desta parte, contudo, apresenta estrutura confusa, com informações e ideias desconexas, excesso de linguagem complexa e formal, frases longas e terminologia técnica desacompanhada dos devidos esclarecimentos ao leitor. Também faltam referências bibliográficas e/ou fontes que embasem as afirmações do autor. Não obstante esses problemas, o texto aborda o tema das políticas públicas e ações privadas em relação às pessoas cegas, discutindo suas profissionalizações e empregos. Oferece também insights sobre as mudanças sociais e econômicas que ocorreram ao longo do tempo e seu impacto na inclusão e autonomia dessas pessoas. Apresenta exemplos que embasam suas afirmações e destaca as consequências das guerras, o surgimento de novas tecnologias e o papel das instituições, como o Serviço Nacional da Indústria (SENAI) na busca por oportunidades de trabalho para pessoas cegas. O texto fornece diferentes pontos de vista e opiniões, dando voz a diferentes entrevistados e suas experiências. Finalmente, demonstra sensibilidade em relação às dificuldades e necessidades das pessoas cegas, enfatizando a importância de políticas públicas adequadas e do apoio familiar para a promoção da independência e inclusão dessas pessoas na sociedade.

Na conclusão, a obra problematiza a esmola e sua associação à cegueira, discutindo como essa prática é vista na sociedade e a persistência de estereótipos negativos relacionados às pessoas cegas. O texto informa que a esmola é uma prática antiga, mencionada nos evangelhos, sendo associada a recompensas para aqueles que a praticavam de maneira discreta e desinteressada. Salienta que, durante a Idade Média, a Igreja estabeleceu grupos de pessoas consideradas dignas de receber esmola, incluindo os cegos, vistos como incapazes de prover por si mesmos as suas condições de existência. O texto cita um artigo de jornal de 1934 que retrata os cegos e a cegueira com emoção, pena e comoção, destacando a criação de uma fundação como uma forma de redenção para os cegos. Apesar do tempo decorrido, os conceitos e modos de pensar presentes no artigo ainda ressoam na mentalidade social atual.

Apesar das declarações pertinentes, a conclusão apresenta problemas de clareza e coerência, a exemplo da seção anterior. Ainda assim, é louvável a discussão que associa esmola e cegueira e os estereótipos negativos que persistem. Essa reflexão visa despertar no leitor a importância de combater preconceitos.

De modo geral, a obra atinge seus objetivos de promover uma mudança de perspectiva e incentivar ações concretas para assegurar a plena participação e o empoderamento das pessoas cegas na sociedade contemporânea. Como uma compilação extensa das memórias de indivíduos sem visão, o livro serve é orientação valiosa para a formulação de novos modelos de inclusão no presente século. Assim, transitando entre independência e interdependência, Damasceno desafia o leitor a transcender a simples filantropia e instiga a reflexão sobre o fortalecimento, indo além dos discursos acadêmicos politicamente aceitos. Por esses motivos, esse livro deveria ser lido por profissionais da saúde e educação, bem como por estudantes e pesquisadores das áreas de Psicologia, Educação, Sociologia, Antropologia e campos correlatos. A leitura é especialmente recomendada para pessoas cegas e os seus familiares, que podem se identificar com as histórias e experiências compartilhadas no livro. É uma oportunidade de encontrar relatos inspiradores, aprender sobre estratégias para superar desafios e refletir sobre como a sociedade percebe e trata as pessoas cegas.

Sumário de A Cuia e a Bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993)

  • Prefácio
  • Apresentação
  • Introdução
  • Primeira parte
    • Histórias e memórias do processo de inserção de pessoas cegas na escola, no trabalho e na sociedade
    • Uma contextualização histórica e espacial do processo de inserção de pessoas cegas na escola, no trabalho e na sociedade – 1960 -1985
    • Políticas públicas e assistencialismo
  • Segunda parte
    • Histórias e memórias de rumos e trajetórias
    • Histórias e memórias de mulheres
    • Histórias e memórias de percursos masculinos
  • Conclusão
  • Posfácio
  • Referências

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Resenhista

Luiz Fernando de Carvalho Reis é mestre em Administração Estratégica pela Universidade Salvador (US), especialista em Cultura Teológica pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e bacharel em Administração e Teologia. É professor da Faculdade Irecê (FAI).  ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/1500485484897919; ID: https://orcid.org/0009-0007-1755-3014; E-mail: luxreis75.lr@gmail.com.br.

 


Referências

DAMASCENO, José Jorge Andrade. A Cuia e a Bengala: histórias, memórias e trajetórias de pessoas cegas em Salvador, em busca de inserção econômica e autodeterminação social (1963-1993). Salvador: Editora da UFBA, 2022. 341p. Resenha de: REIS, Luiz Fernando de Carvalho. Deficiência visual em questão. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.11, maio/jun.2023.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

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