Profissão de fé – Resenha de Ednalva Freire Caetano (UFS) sobre o livro “Marcelo Déda na construção da democracia”, de Ibarê Dantas

Ibarê Dantas: Photo: Eugenio Barreto/Seed-Se

Resumo: Marcelo Déda na construção da democracia é o novo livro de Ibarê Dantas, historiador e professor de Ciências Sociais, onde explora as vitórias e o infortúnio do referido militante estudantil, bacharel em direito e governador sergipano.

Palavras-chave: Marcelo Déda, Democracia, História Política de Sergipe.


No último mês de maio a sociedade sergipana foi presenteada com a obra Marcelo Déda na construção da democracia. O livro retrata a vida do parlamentar e gestor nas esferas municipal e estadual e no Brasil e a influência contundente que o líder sergipano teria sobre os rumos do seu partido no poder. O autor, professor e historiador Ibarê Dantas, analisa o papel de Marcelo Déda na política, desde a sua participação nos movimentos estudantis, passando pelas sucessivas derrotas nas tentativas de ingresso nas esferas de representação política, até as vitórias alcançadas para a legislatura estadual e federal e as sucessivas eleições exitosas para o executivo em Aracaju com a reeleição, e em seguida, para o executivo estadual também em duas eleições.

Com essa obra, o Prof. Ibarê Dantas se coloca entre os maiores historiadores de nossa história, escrevendo sobre Sergipe e em Sergipe, cobrindo quase um século da política sergipana. Iniciando com O Tenentismo em Sergipe (da Revolta de 1924 à Revolução de 1930), o pesquisador da nossa história segue os caminhos de Clio, aprofundando estudos sobre Os partidos políticos em Sergipe (1889 – 1964), passando pela Tutela Militar (1964 – 1984), Eleições em Sergipe (1985 – 2000), retornando ao período de Leandro Maciel na política do século XX, com incursões na Velha República para detalhar a vida de Leandro, o pai, e finalmente desaguar na primeira década do século XXI. É uma vida inteira dedicada aos estudos da Ciência Política, colocando a sua ciência e a sua competência a serviço do nosso Estado.

O livro é dividido em dezesseis capítulos: o primeiro é dedicado a informações sobre as origens do biografado, desde os seus antecessores familiares, sobretudo aqueles que iriam exercer influências sobre a sua formação intelectual e política, até a sua passagem pelos movimentos estudantis e sindicais encerrando com a sua primeira candidatura para Prefeito de Aracaju, em 1985, quando foi derrotado.

O segundo capítulo intitulado Triunfo e Derrotas analisa a sua eleição para deputado estadual (1987 – 1990) e as campanhas perdidas para prefeito em 1988 e para deputado estadual em 1990 levando-o para fora do Estado. No capítulo 3 o autor se debruça com detalhes sobre a sua eleição vitoriosa e sua atuação como deputado federal (1995 – 2000) período no qual reafirma as suas qualidades políticas de exímio orador e conhecedor das matérias destinadas às avaliações e análises pela câmara, o que lhe favorece a reeleição ao cargo em 1998.

Do capítulo 4 ao capítulo 7 o historiador nos traz múltiplas informações sobre as campanhas e as duas eleições vitoriosas para prefeito. Nesses, o autor faz análises aprofundadas sobre os processos eleitorais com dados sobre os pleitos e suas consequentes formações na câmara de vereadores. Analisa também, com a apresentação de dados e opiniões recolhidos nos diferentes órgãos de comunicação e em relatórios, os feitos e realizações das suas gestões como prefeito de Aracaju.

A segunda metade do livro que se desenrola do capítulo 8 ao capítulo 15 apresenta informações sobre os dois mandatos de Marcelo Déda à frente do executivo sergipano. Nesses capítulos, o pesquisador se esmera numa análise detalhada sobre as campanhas eleitorais, inclusive as nacionais, cujos resultados favoreceriam a administração do Governador, mas que lhe trariam, por outro lado, alguns percalços. São analisados ainda o papel dos movimentos sociais e dos sindicatos e dos embates sem trégua travados entre o governo e as categorias por eles representadas. São apresentados ainda dados sobre as eleições para as diversas prefeituras e os papéis por elas desempenhados na condução dos destinos da política no estado. Do mesmo modo, também é feita a análise dos resultados das eleições para a Assembleia Legislativa e suas consequências na formação de alianças tão necessárias à governança na democracia. Por fim, os capítulos registram com riqueza de informações as realizações do governo, além de explorar os discursos densos, recheados de cultura e de extrema beleza, que o exímio orador e poeta proferiu em diversas ocasiões.

O capítulo final cujo título denota os revezes da Fortun — “O Tormento” relata as adversidades que o biografado enfrentou entre os anos de 2012 e 2013, com informações sobre as dificuldades para a aprovação do Proinveste que ele considerava essencial para o Estado. Relata ainda uma conversa presencial entre o escritor e o jovem governador que se despede da vida aos 53 anos.

A primeira constatação que me ocorre ao terminar a leitura é pensar o quanto é difícil e o quanto de coragem é necessário para escrever sobre a história do passado recente, quando alguns personagens ainda circulam nas diversas esferas de poder, e tantas outras, testemunhas dos fatos analisados, podem apresentar as suas versões, num tempo em que as versões muitas vezes se sobrepõem aos fatos. O Prof. Ibarê aponta as fontes (e são muitas!), indica os entrevistados, entre os quais o próprio biografado, e deixa pouca ou nenhuma dúvida sobre as múltiplas informações apresentadas no livro. Mais um ponto para o historiador do tempo presente.

Marcelo Déda foi batizado nas águas profundas do conhecimento pelo seu avô materno, como transcreve o autor: “ele foi ao longo da minha infância e da minha adolescência, na ausência, a mais marcante presença intelectual de minha vida”. E essa presença forte vai determinar o grande intelectual e eloquente orador que iria impressionar os pares no legislativo e conduziria mais tarde os rumos de Aracaju e do seu Estado em mais de um mandato.

Cumprido o rito do batismo, necessário se faz uma profissão de fé e ele a efetiva no movimento estudantil secundarista do Atheneu, por onde passaram grandes intelectuais e grandes líderes das lutas pela democracia, num tempo em que a escola pública referenciava a Educação no Brasil.

Também na Universidade Pública iria exercitar ao máximo os atributos que se tornariam mais brilhantes na medida em que eram apurados pelas constantes e vigorosas leituras e por debates acalorados que exercitam o cérebro e assentam as convicções.

Marcelo Déda e Ibarê Dantes, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (2017) | Foto: Alisson Fabiano Silva Ferro/Infonet

Os embates democráticos são sempre feitos de avanços e recuos, de vitórias e derrotas, e Marcelo Déda viveu, com o fervor dos que creem, essas contradições, sacrificando muitas vezes no altar da democracia a sua governança. Mas essa fé o tornaria profeta das boas novas, a anunciar um novo tempo como o fez no seu discurso de posse ao primeiro mandato no governo do Estado quando alguns graves equívocos do seu partido ainda não o castigavam:“Foi duro o caminho e árdua a jornada, mas chegamos. Como um marujo na gávea já podemos enxergar no horizonte sinais de mudança e anunciar ao povo desta terra sergipana. Alvíssaras, meu capitão! O sonho de uma geração, a esperança que alimentou tanta luta, a fé que convocou tanta gente, é agora história!”

Como profeta da democracia, Marcelo Déda usou a sua retórica bela e profunda para encantar os corredores encardidos do poder, seja na esfera do partido, seja na esfera nacional onde a sua estrela brilhou ao ponto de ofuscar alguns sacerdotes. Como um bom democrata, amargou derrotas em lutas difíceis de serem travadas, mas que sorveu como cálice de fel sem nunca perder a ternura, poeta que era.

Olavo Bilac, empresta-me um dos versos de um dos seus poemas mais belos também chamado “Profissão de fé” no qual o grande poeta declara todo o seu amor à poesia dizendo: Invejo o ourives quando escrevo/ Imito o amor/Com que ele, em ouro, o alto relevo faz de uma flor/Imito-o”. Marcelo Déda, poeta que era, praticou a democracia imitando o amor com muito cuidado — pelo seu partido, pelo povo e para o povo. Mas acima de tudo ele o fez com a fé baseada na Utopia de Thomas More que idealiza uma sociedade fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade.

A obra Marcelo Déda na construção da democracia, colocada à disposição para o público sergipano pelo Prof. Ibarê Dantas, cumpre com galhardia a sua função assegurando-nos o direito a informações fidedignas sobre a importância do papel desempenhado por esse ilustre sergipano na construção e no desenvolvimento da política em Sergipe e no Brasil, posto que a sua capacidade intelectual brilhante transcendeu os nossos pequenos domínios territoriais. A obra traz informações valiosas, fruto de pesquisa acurada e muito com olhar percuciente sobre os fatos políticos e sobre a trajetória desse brilhante líder, deve ser lida por todo cidadão interessado em conhecer a experiência política local do nosso passado recente.

Como bom cristão que foi, imagino que, no átimo de segundo que o levou desta vida conhecida para aquela que não sabemos, Marcelo Déda pensou, na lucidez que lhe restava, como o apóstolo Paulo: combati o bom combate e guardei a fé. A fé que professara ainda jovem no velho Atheneu, que colocou em prática ao longo da vida e que deixa como legado à democracia e ao povo sergipano.

Sumário de Marcelo Déda na construção da democracia

  • Introdução
  • 1. Origens e formação
  • 2. Triunfo e derrotas
  • 3. Deputado federal (1995-2000)
  • 4. 2000: a eleição para prefeito de Aracaju
  • 5. Prefeito da capital: primeiras ações. Críticas e contradições
  • 6. Prefeito: realizações (2001-2004)
  • 7. A eleição de 2004 e a segunda gestão na prefeitura
  • 8. O embate de 2006
  • 9. Transição e posse
  • 10. Governador (2007-2010)
  • 11. Governador (2007-2010): eleição e negociações
  • 12. A reeleição de 2010 para governador
  • 13. Posse e secretariado
  • 14. Governador (2011-2012)
  • 15. O tormento (2012-2013)
  • Epílogo
  • Cronologia
  • Agradecimentos
  • Referências

Para ampliar a sua revisão da literatura


Sobre a resenhista

Ednalva Freire Caetano é mestre em Educação (1997) e graduada em Pedagogia (1975) pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Foi Chefe de Gabinete do Reitor (1996 – 2000 e 2006 a 2012) da UFS, Gerente de Recursos Humanos (2000-2004) e Pró-Reitora de Gestão de Pessoas (2016-2022) da UFS. Publicou, entre outros textos, A caminho de Betulia: crônicas (2022). ID LATTES: 2062208000453510; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0000-8723-8254; E-mail: ednalvafcaetano@gmail.com.br.

 


Para citar esta resenha

DANTAS, Ibarê. Marcelo Déda na construção da democracia. Aracaju: Criaçao, 2023. 539p. Resenha de: CAETANO, Ednalva Freire. Profissão de fé na Política. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.11, maio/jun. 2023. Disponível em <>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 11, maio/jun., 2023 | ISSN 2764-2666

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Profissão de fé – Resenha de Ednalva Freire Caetano (UFS) sobre o livro “Marcelo Déda na construção da democracia”, de Ibarê Dantas

Ibarê Dantas: Photo: Eugenio Barreto/Seed-Se

Resumo: Marcelo Déda na construção da democracia é o novo livro de Ibarê Dantas, historiador e professor de Ciências Sociais, onde explora as vitórias e o infortúnio do referido militante estudantil, bacharel em direito e governador sergipano.

Palavras-chave: Marcelo Déda, Democracia, História Política de Sergipe.


No último mês de maio a sociedade sergipana foi presenteada com a obra Marcelo Déda na construção da democracia. O livro retrata a vida do parlamentar e gestor nas esferas municipal e estadual e no Brasil e a influência contundente que o líder sergipano teria sobre os rumos do seu partido no poder. O autor, professor e historiador Ibarê Dantas, analisa o papel de Marcelo Déda na política, desde a sua participação nos movimentos estudantis, passando pelas sucessivas derrotas nas tentativas de ingresso nas esferas de representação política, até as vitórias alcançadas para a legislatura estadual e federal e as sucessivas eleições exitosas para o executivo em Aracaju com a reeleição, e em seguida, para o executivo estadual também em duas eleições.

Com essa obra, o Prof. Ibarê Dantas se coloca entre os maiores historiadores de nossa história, escrevendo sobre Sergipe e em Sergipe, cobrindo quase um século da política sergipana. Iniciando com O Tenentismo em Sergipe (da Revolta de 1924 à Revolução de 1930), o pesquisador da nossa história segue os caminhos de Clio, aprofundando estudos sobre Os partidos políticos em Sergipe (1889 – 1964), passando pela Tutela Militar (1964 – 1984), Eleições em Sergipe (1985 – 2000), retornando ao período de Leandro Maciel na política do século XX, com incursões na Velha República para detalhar a vida de Leandro, o pai, e finalmente desaguar na primeira década do século XXI. É uma vida inteira dedicada aos estudos da Ciência Política, colocando a sua ciência e a sua competência a serviço do nosso Estado.

O livro é dividido em dezesseis capítulos: o primeiro é dedicado a informações sobre as origens do biografado, desde os seus antecessores familiares, sobretudo aqueles que iriam exercer influências sobre a sua formação intelectual e política, até a sua passagem pelos movimentos estudantis e sindicais encerrando com a sua primeira candidatura para Prefeito de Aracaju, em 1985, quando foi derrotado.

O segundo capítulo intitulado Triunfo e Derrotas analisa a sua eleição para deputado estadual (1987 – 1990) e as campanhas perdidas para prefeito em 1988 e para deputado estadual em 1990 levando-o para fora do Estado. No capítulo 3 o autor se debruça com detalhes sobre a sua eleição vitoriosa e sua atuação como deputado federal (1995 – 2000) período no qual reafirma as suas qualidades políticas de exímio orador e conhecedor das matérias destinadas às avaliações e análises pela câmara, o que lhe favorece a reeleição ao cargo em 1998.

Do capítulo 4 ao capítulo 7 o historiador nos traz múltiplas informações sobre as campanhas e as duas eleições vitoriosas para prefeito. Nesses, o autor faz análises aprofundadas sobre os processos eleitorais com dados sobre os pleitos e suas consequentes formações na câmara de vereadores. Analisa também, com a apresentação de dados e opiniões recolhidos nos diferentes órgãos de comunicação e em relatórios, os feitos e realizações das suas gestões como prefeito de Aracaju.

A segunda metade do livro que se desenrola do capítulo 8 ao capítulo 15 apresenta informações sobre os dois mandatos de Marcelo Déda à frente do executivo sergipano. Nesses capítulos, o pesquisador se esmera numa análise detalhada sobre as campanhas eleitorais, inclusive as nacionais, cujos resultados favoreceriam a administração do Governador, mas que lhe trariam, por outro lado, alguns percalços. São analisados ainda o papel dos movimentos sociais e dos sindicatos e dos embates sem trégua travados entre o governo e as categorias por eles representadas. São apresentados ainda dados sobre as eleições para as diversas prefeituras e os papéis por elas desempenhados na condução dos destinos da política no estado. Do mesmo modo, também é feita a análise dos resultados das eleições para a Assembleia Legislativa e suas consequências na formação de alianças tão necessárias à governança na democracia. Por fim, os capítulos registram com riqueza de informações as realizações do governo, além de explorar os discursos densos, recheados de cultura e de extrema beleza, que o exímio orador e poeta proferiu em diversas ocasiões.

O capítulo final cujo título denota os revezes da Fortun — “O Tormento” relata as adversidades que o biografado enfrentou entre os anos de 2012 e 2013, com informações sobre as dificuldades para a aprovação do Proinveste que ele considerava essencial para o Estado. Relata ainda uma conversa presencial entre o escritor e o jovem governador que se despede da vida aos 53 anos.

A primeira constatação que me ocorre ao terminar a leitura é pensar o quanto é difícil e o quanto de coragem é necessário para escrever sobre a história do passado recente, quando alguns personagens ainda circulam nas diversas esferas de poder, e tantas outras, testemunhas dos fatos analisados, podem apresentar as suas versões, num tempo em que as versões muitas vezes se sobrepõem aos fatos. O Prof. Ibarê aponta as fontes (e são muitas!), indica os entrevistados, entre os quais o próprio biografado, e deixa pouca ou nenhuma dúvida sobre as múltiplas informações apresentadas no livro. Mais um ponto para o historiador do tempo presente.

Marcelo Déda foi batizado nas águas profundas do conhecimento pelo seu avô materno, como transcreve o autor: “ele foi ao longo da minha infância e da minha adolescência, na ausência, a mais marcante presença intelectual de minha vida”. E essa presença forte vai determinar o grande intelectual e eloquente orador que iria impressionar os pares no legislativo e conduziria mais tarde os rumos de Aracaju e do seu Estado em mais de um mandato.

Cumprido o rito do batismo, necessário se faz uma profissão de fé e ele a efetiva no movimento estudantil secundarista do Atheneu, por onde passaram grandes intelectuais e grandes líderes das lutas pela democracia, num tempo em que a escola pública referenciava a Educação no Brasil.

Também na Universidade Pública iria exercitar ao máximo os atributos que se tornariam mais brilhantes na medida em que eram apurados pelas constantes e vigorosas leituras e por debates acalorados que exercitam o cérebro e assentam as convicções.

Marcelo Déda e Ibarê Dantes, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (2017) | Foto: Alisson Fabiano Silva Ferro/Infonet

Os embates democráticos são sempre feitos de avanços e recuos, de vitórias e derrotas, e Marcelo Déda viveu, com o fervor dos que creem, essas contradições, sacrificando muitas vezes no altar da democracia a sua governança. Mas essa fé o tornaria profeta das boas novas, a anunciar um novo tempo como o fez no seu discurso de posse ao primeiro mandato no governo do Estado quando alguns graves equívocos do seu partido ainda não o castigavam:“Foi duro o caminho e árdua a jornada, mas chegamos. Como um marujo na gávea já podemos enxergar no horizonte sinais de mudança e anunciar ao povo desta terra sergipana. Alvíssaras, meu capitão! O sonho de uma geração, a esperança que alimentou tanta luta, a fé que convocou tanta gente, é agora história!”

Como profeta da democracia, Marcelo Déda usou a sua retórica bela e profunda para encantar os corredores encardidos do poder, seja na esfera do partido, seja na esfera nacional onde a sua estrela brilhou ao ponto de ofuscar alguns sacerdotes. Como um bom democrata, amargou derrotas em lutas difíceis de serem travadas, mas que sorveu como cálice de fel sem nunca perder a ternura, poeta que era.

Olavo Bilac, empresta-me um dos versos de um dos seus poemas mais belos também chamado “Profissão de fé” no qual o grande poeta declara todo o seu amor à poesia dizendo: Invejo o ourives quando escrevo/ Imito o amor/Com que ele, em ouro, o alto relevo faz de uma flor/Imito-o”. Marcelo Déda, poeta que era, praticou a democracia imitando o amor com muito cuidado — pelo seu partido, pelo povo e para o povo. Mas acima de tudo ele o fez com a fé baseada na Utopia de Thomas More que idealiza uma sociedade fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade.

A obra Marcelo Déda na construção da democracia, colocada à disposição para o público sergipano pelo Prof. Ibarê Dantas, cumpre com galhardia a sua função assegurando-nos o direito a informações fidedignas sobre a importância do papel desempenhado por esse ilustre sergipano na construção e no desenvolvimento da política em Sergipe e no Brasil, posto que a sua capacidade intelectual brilhante transcendeu os nossos pequenos domínios territoriais. A obra traz informações valiosas, fruto de pesquisa acurada e muito com olhar percuciente sobre os fatos políticos e sobre a trajetória desse brilhante líder, deve ser lida por todo cidadão interessado em conhecer a experiência política local do nosso passado recente.

Como bom cristão que foi, imagino que, no átimo de segundo que o levou desta vida conhecida para aquela que não sabemos, Marcelo Déda pensou, na lucidez que lhe restava, como o apóstolo Paulo: combati o bom combate e guardei a fé. A fé que professara ainda jovem no velho Atheneu, que colocou em prática ao longo da vida e que deixa como legado à democracia e ao povo sergipano.

Sumário de Marcelo Déda na construção da democracia

  • Introdução
  • 1. Origens e formação
  • 2. Triunfo e derrotas
  • 3. Deputado federal (1995-2000)
  • 4. 2000: a eleição para prefeito de Aracaju
  • 5. Prefeito da capital: primeiras ações. Críticas e contradições
  • 6. Prefeito: realizações (2001-2004)
  • 7. A eleição de 2004 e a segunda gestão na prefeitura
  • 8. O embate de 2006
  • 9. Transição e posse
  • 10. Governador (2007-2010)
  • 11. Governador (2007-2010): eleição e negociações
  • 12. A reeleição de 2010 para governador
  • 13. Posse e secretariado
  • 14. Governador (2011-2012)
  • 15. O tormento (2012-2013)
  • Epílogo
  • Cronologia
  • Agradecimentos
  • Referências

Para ampliar a sua revisão da literatura


Sobre a resenhista

Ednalva Freire Caetano é mestre em Educação (1997) e graduada em Pedagogia (1975) pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Foi Chefe de Gabinete do Reitor (1996 – 2000 e 2006 a 2012) da UFS, Gerente de Recursos Humanos (2000-2004) e Pró-Reitora de Gestão de Pessoas (2016-2022) da UFS. Publicou, entre outros textos, A caminho de Betulia: crônicas (2022). ID LATTES: 2062208000453510; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0000-8723-8254; E-mail: ednalvafcaetano@gmail.com.br.

 


Para citar esta resenha

DANTAS, Ibarê. Marcelo Déda na construção da democracia. Aracaju: Criaçao, 2023. 539p. Resenha de: CAETANO, Ednalva Freire. Profissão de fé na Política. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.11, maio/jun. 2023. Disponível em <>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 11, maio/jun., 2023 | ISSN 2764-2666

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