Experimentação exitosa – Resenha de Itamar Freitas sobre o livro “Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/se: belezas, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária”, de Maria Rosa do Carmo Oliveira e Irineia Rosa do Nascimento

Maria Rosa do Carmo Oliveira e Irineia Rosa do Nascimento | Imagem: Plataforma Lattes

Resumo: O livro Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/SE (Oliveira & Nascimento) analisa o Turismo de Base Comunitária no fortalecimento da agricultura familiar. Há desequilíbrio estrutural, bibliografia limitada e lacunas na historicidade e organização política do assentamento. No entanto, destacam-se a valorização da memória dos assentados e a experimentação do TBC.

Palvras-chave: Turismo de Base Comunitária; Assentamento Moacir Wanderley-SE; reforma agrária.


O livro Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/SE: belezes, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária, de Maria Rosa do Carmo Oliveira e Irineia Rosa do Nascimento, foi lançado em [dezembro de 2024] pela editora Dialética. É o resultado de pesquisa de dissertação de Maria Rosa, orientada por Irineia Rosa, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Turismo do Instituto Federal de Sergipe (IFS) que propõe responder as seguintes questões: “1. Como potencializar a experiência de luta, de conquistas e de organização social da comunidade em atrativo turístico? 2. Como o Turismo de Base Comunitária poderá contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar, corroborando para o incremento das atividades desenvolvidas no assentamento? 3. Qual a percepção dos assentato a respeito da implantação do Turismo de Base Comunitária?” (p.26).

Maria Rosa do Carmo Oliveira é mestra em Gestão do Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (PPMTUR-IFS), especialista em História do Brasil pela Universidade Estadual Santa Cruz (UESC) e licenciada em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A coautora, Irinéia Rosa do Nascimento, é diretora geral do IFS – campus Poço Redondo, possui doutorado em Química Analítica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Jaboticabal). A parceria entre as duas professoras resultou na construção de uma obra estruturada em cinco capítulos distribuídos em 117 páginas.

No primeiro capítulo, as autoras apresentam categorias-chave da investigação. Numa espécie de progressão narrativa, introduzem a “revisão teórica” com o anúncio de abordagem econômica dicotomizada hieraquicamente entre economia agrícola e economia industrial, agro-negócio vs. agricultura familiar, perspectiva economicista vs. perspectiva multifuncional e, dentro desta, turismo de massa vs. turismo de base comunitária.

O segundo capítulo apresenta a “metodologia da pesquisa”, centrada em uma abordagem geral de cunho “fenomenológico”, em pesquisa do tipo “qualitativo e descritivo”, com emprego de “pesquisa-ação” e “pesquisa doumental”. Os dados foram coletados por meio de ferramentas como o ”Diagnóstico Rápido Participativo, observação in lloco e “entrevistas semiestruturadas” e tratados por via da “triangulação”.

No terceiro capítulo, as autoras relatam o resultado das intervenções de pesquisa. Destaco aqui o que considerei mais significativo para os estudos sobre a matéria: 1. As “habilidades e expectativas dos camponeses” – “o estudo, a produção, o empreendedorismo e o Turismo de Base Comunitária” (p.59); 2. a memória dos assentados sobre a história do lugar, obtida por meio das oficinas sobre a “ocupação” (1991-1993) e “resistência” (1994-2018); e 3. o inventário de potencial turístico (hospedagem, visitação, oferta de alimentação, trilha ecológica, atividades esportivas), dos prováveis benefícios (“geração de renda”, “valorização do trabalho das mulheres”, “divulgação dos produtos e da vivência” comunitária e “troca de conhecimentos) e as prováveis limitações (“ausência de reformas nas moradias” de transporte turístico” de reformas dos espaços coletivos, de “policiamento contínuo”, de “material de divulgação e de contatos” com agentes turísticos, de “formação para o desenvolvimento do turismo” e a “dificuldade na organização coletiva dos espaços e empreendimentos coletivos” (p.75-77).

O livro é encerrado com dois segmentos. O primeiro apresenta e descreve o “produto tecnológico”, constituído pela “logomarca do TBC no Assentamento Moacir Wanderley”, o cartaz com os atrativos do lugar, e o vídeo “belezas, saberes e sabores da terra, Assentamento Moacir Wanderley”. O segundo, “Considerações finais”, reitera, principalmente, a “viabilidade dea proposta”, pautada no “protagonismo” dos assentados, a “visibilidade e valorização das consquistas” dos assentados no sentido de “fortalecer a Reforma Agrária Popular”, e as necessidades de “políticas públicas que salvaguardem a agricultura familiar […] no que se refere ao acesso a tecnologias sociaissustentáveis” (p.97-98) , por exemplo.

O plano das considerações finais, infelizmente, não contempla as três principais do trabalho, anunciadas na introdução. Aliás, no plano da composição, a distribuição da matéria em capítulos é desquilibrada. O capítulo 3, por exemplo, possui apenas cinco páginas e o 5 tem quatro páginas.

A composição reproduz o vício academicista de apresentar em livro a mesma estrutura de um gênero textual diferente, que é a dissertação de mestrado. Exemplo desse incômodo é a manutenção da “Revisão teórica” e da “Metodologia da pesquisa” como capítulos 1 e 2 de uma obra composta por quatro capítulos. Ideal seria ampliar inverter a lógica de composição, reservando 70% do espaço para as “belezas, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária”, como sugere o subtítulo. Os produtos tecnológicos (logomarca, cartaz e vídeo) deveriam estar incluídos nas metas do trabalho e retomados nas considerações finais. SSem referí-los ao início, seria adequado figurarem como apêndices.

Outros problemas do texto são de ordem substantiva. A literA literatura citada sobre TBC em assentamentos de Reforma Agrária é escassa e a própria definição do conceito principal é extraída, inicialmente, de uma publicação oficial (Ministério do Turismo). não há referências às aplicações fenomenológicas à pesquisa sobre turismo que circulam academicamente e não há dados sobre critérios de composição e seleção da amostra de testemunhos orais, por exemplo. No mesmo quesito, chama a atenção que o apelo à “ideologia neoliberal” para explicar as mazelas do capitalismo no campo não seja acompanado de uma reflexão sobre em que medida TBC pode representar “resiliência do campesinato” ou captulação ao regime de mercado.

No tópico específico e adequado (2.3), a historicidade do Assentamento Moacyr Wanderley foi, de certa forma, negligenciada, considerando os citados e legitimados princípios do TBC: “valorização da história e da cultura” e valorização do “desejo de perpetuar heranças e legados dos seus antepassados” (p.32-33). Adiante, no capítulo 4 (tópico 4.2.2), o relato histórico sobre o assentamento ganhou apenas a forma de memória. Em outra oportunidade, as autoras poderiam “triangular” os depoimentos dos assentados com o material produzido pela imprensa e órgãos oficiais (segurança, agricultura, por exemplo) e eventuais usuários do Centro de Treinamento Comunitário (Universidade Federal de Sergipe, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, por exemplo), equipamento importante no Assentamento. Contudo, tal estratégia contraditória, provavelmente, a abordagem fenomenológica anunciada.Considerando o posicionamento contrário ao neoliberalismo e centrado no protagonismo dos assentados, é destoante a ausência de um tópico ou de comentários sobre as formas de organização política do assentamento, considerada pela literatura um dos maiores fatores de bom desempenho na implantação de projetos de TBC.

Considerando o posicionamento contrário ao neoliberalismo e centrado no protagonis dos assentados, é destoante a ausência de um tópico ou de comentários sobre as formas de organização política do assentamento, considerada pela literatura um dos maiores fatores de bom desempenho na implantação de projetos de TBC.

Em termos positivos, destaco as breves considerações históricas sobre os modos de fazer pesquisa acadêmica em regime pandêmico. A disponibilização dos instrumentos empregados (questionário, fichas de avaliação, imagens do local) também são outro ponto positivo. Na medida em que os trabalhos do gênero não são tão numerosos, as ferramentas apresentadas, junto ao relato sobre os seus usos é uma boa contribuição à o empreendimento de outras pesquisas no campo.

O maior destaque positivo, porém, está no fato de os pesquisadores terem experimentado um dos produtos da intervenção.empregada na recuperação da memória dos assentados. Ela, por si só, já estimula o processo de organização dos grupos, a periodização e os temas a serem relembrados e registrados pelos assentados.

TBC no Assentamento Moacir Wanderley (Quissamã) – Belezas, saberes e sabores da terra | Imagem: Youtube

O maior destaque positivo, porém, está no fato de os pesquisadores terem experimentado O experimento foi coroado com a iniciativa de submeter a experiência à avaliação dos turistas e à avaliação da própria comunidade envolvida nos trabalhos, no que diz respeito, por exemplo, ao retorno financeiro, à obediência do roteiro, às habilidades individuais, à capacidade de carga dos quintais produtivos e ao nível da autoestima do grupo após o evento.e submeter a experiência à avaliação dos turistas e à avaliação da própria comunidade envolvida nos trabalhos, no que diz respeito, por exemplo, ao retorno financeiro, à obediência do roteiro, às habilidades individuais, à capacidade de carga dos quintais produtivos e do nível da autoestima do grupo após o evento.

Apesar das insuficiências levantadas, o livro cumpre as metas anunciadas na introdução. Ele explicita, localmente, alguns meios para “potencializar a experiência de luta” da comunidade através do turismo, algumas formas de fortalecimento da agricultura familiar e a percepção dos assentatos sobre o emprego do TBC. Ele dá mostras da relevância da pesquisa pública, empreendida no IFS, devendo ser lida, não apenas pelos pós-graduandos da instituição, mas por todos os interessados em conhecer as estratégias de implantação do TBC, bem como a história dos assentamentos de Reforma Agrária em Sergipe.

Sumário de Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/SE: belezas, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária

  • Introdução
  • 1. Revisão teórica
  • 2. Metodologia da pesquisa
  • 3. Resultados e discussão
  • 4. Produto tecnológico
  • Considerações finais
  • Anexos

Resenhista

Itamar Freitas é doutor em História (UFRGS) e em Educação (PUC-SP), professor do Departamento de Educação e dos mestrados profissional (PROHIS) e acadêmico (ProfHistória) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Publicou, entre outros trabalhos, Uma introdução ao método histórico (2021) e “Objetividade histórica no Manual de Teoria da História de Roberto Pirgibe da Fonseca” (1903-1986) (2021). ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/5606084251637102. ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214;  Email: itamarfreitasufs@gmail.com.


Para citar esta resenha

OLIVEIRA, Maria Rosa do Carmo; NASCIMENTO, Irineia Rosa do. Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderlei/SE: belezas, saberes e sabores da terra e o Turismo de Base Comunitária. São Paulo: Dialética, 2024. 120p. Resenha de: FREITAS, Itamar. Experiência exitosa. Crítica Historiográfica. Natal, v.19, set.-out., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/experimentacao-exitosa-resenha-de-itamar-freitas-sobre-o-livro-assentamento-de-reforma-agraria-moacir-wanderley-se-belezas-saberes-e-sabores-da-tera-e-o-turismo-de-base-comunitaria/>.

 


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.19, set./out., 2024 | ISSN 2764-2666

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Maria Rosa do Carmo Oliveira e Irineia Rosa do Nascimento | Imagem: Plataforma Lattes

Resumo: O livro Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/SE (Oliveira & Nascimento) analisa o Turismo de Base Comunitária no fortalecimento da agricultura familiar. Há desequilíbrio estrutural, bibliografia limitada e lacunas na historicidade e organização política do assentamento. No entanto, destacam-se a valorização da memória dos assentados e a experimentação do TBC.

Palvras-chave: Turismo de Base Comunitária; Assentamento Moacir Wanderley-SE; reforma agrária.


O livro Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/SE: belezes, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária, de Maria Rosa do Carmo Oliveira e Irineia Rosa do Nascimento, foi lançado em [dezembro de 2024] pela editora Dialética. É o resultado de pesquisa de dissertação de Maria Rosa, orientada por Irineia Rosa, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Turismo do Instituto Federal de Sergipe (IFS) que propõe responder as seguintes questões: “1. Como potencializar a experiência de luta, de conquistas e de organização social da comunidade em atrativo turístico? 2. Como o Turismo de Base Comunitária poderá contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar, corroborando para o incremento das atividades desenvolvidas no assentamento? 3. Qual a percepção dos assentato a respeito da implantação do Turismo de Base Comunitária?” (p.26).

Maria Rosa do Carmo Oliveira é mestra em Gestão do Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (PPMTUR-IFS), especialista em História do Brasil pela Universidade Estadual Santa Cruz (UESC) e licenciada em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A coautora, Irinéia Rosa do Nascimento, é diretora geral do IFS – campus Poço Redondo, possui doutorado em Química Analítica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Jaboticabal). A parceria entre as duas professoras resultou na construção de uma obra estruturada em cinco capítulos distribuídos em 117 páginas.

No primeiro capítulo, as autoras apresentam categorias-chave da investigação. Numa espécie de progressão narrativa, introduzem a “revisão teórica” com o anúncio de abordagem econômica dicotomizada hieraquicamente entre economia agrícola e economia industrial, agro-negócio vs. agricultura familiar, perspectiva economicista vs. perspectiva multifuncional e, dentro desta, turismo de massa vs. turismo de base comunitária.

O segundo capítulo apresenta a “metodologia da pesquisa”, centrada em uma abordagem geral de cunho “fenomenológico”, em pesquisa do tipo “qualitativo e descritivo”, com emprego de “pesquisa-ação” e “pesquisa doumental”. Os dados foram coletados por meio de ferramentas como o ”Diagnóstico Rápido Participativo, observação in lloco e “entrevistas semiestruturadas” e tratados por via da “triangulação”.

No terceiro capítulo, as autoras relatam o resultado das intervenções de pesquisa. Destaco aqui o que considerei mais significativo para os estudos sobre a matéria: 1. As “habilidades e expectativas dos camponeses” – “o estudo, a produção, o empreendedorismo e o Turismo de Base Comunitária” (p.59); 2. a memória dos assentados sobre a história do lugar, obtida por meio das oficinas sobre a “ocupação” (1991-1993) e “resistência” (1994-2018); e 3. o inventário de potencial turístico (hospedagem, visitação, oferta de alimentação, trilha ecológica, atividades esportivas), dos prováveis benefícios (“geração de renda”, “valorização do trabalho das mulheres”, “divulgação dos produtos e da vivência” comunitária e “troca de conhecimentos) e as prováveis limitações (“ausência de reformas nas moradias” de transporte turístico” de reformas dos espaços coletivos, de “policiamento contínuo”, de “material de divulgação e de contatos” com agentes turísticos, de “formação para o desenvolvimento do turismo” e a “dificuldade na organização coletiva dos espaços e empreendimentos coletivos” (p.75-77).

O livro é encerrado com dois segmentos. O primeiro apresenta e descreve o “produto tecnológico”, constituído pela “logomarca do TBC no Assentamento Moacir Wanderley”, o cartaz com os atrativos do lugar, e o vídeo “belezas, saberes e sabores da terra, Assentamento Moacir Wanderley”. O segundo, “Considerações finais”, reitera, principalmente, a “viabilidade dea proposta”, pautada no “protagonismo” dos assentados, a “visibilidade e valorização das consquistas” dos assentados no sentido de “fortalecer a Reforma Agrária Popular”, e as necessidades de “políticas públicas que salvaguardem a agricultura familiar […] no que se refere ao acesso a tecnologias sociaissustentáveis” (p.97-98) , por exemplo.

O plano das considerações finais, infelizmente, não contempla as três principais do trabalho, anunciadas na introdução. Aliás, no plano da composição, a distribuição da matéria em capítulos é desquilibrada. O capítulo 3, por exemplo, possui apenas cinco páginas e o 5 tem quatro páginas.

A composição reproduz o vício academicista de apresentar em livro a mesma estrutura de um gênero textual diferente, que é a dissertação de mestrado. Exemplo desse incômodo é a manutenção da “Revisão teórica” e da “Metodologia da pesquisa” como capítulos 1 e 2 de uma obra composta por quatro capítulos. Ideal seria ampliar inverter a lógica de composição, reservando 70% do espaço para as “belezas, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária”, como sugere o subtítulo. Os produtos tecnológicos (logomarca, cartaz e vídeo) deveriam estar incluídos nas metas do trabalho e retomados nas considerações finais. SSem referí-los ao início, seria adequado figurarem como apêndices.

Outros problemas do texto são de ordem substantiva. A literA literatura citada sobre TBC em assentamentos de Reforma Agrária é escassa e a própria definição do conceito principal é extraída, inicialmente, de uma publicação oficial (Ministério do Turismo). não há referências às aplicações fenomenológicas à pesquisa sobre turismo que circulam academicamente e não há dados sobre critérios de composição e seleção da amostra de testemunhos orais, por exemplo. No mesmo quesito, chama a atenção que o apelo à “ideologia neoliberal” para explicar as mazelas do capitalismo no campo não seja acompanado de uma reflexão sobre em que medida TBC pode representar “resiliência do campesinato” ou captulação ao regime de mercado.

No tópico específico e adequado (2.3), a historicidade do Assentamento Moacyr Wanderley foi, de certa forma, negligenciada, considerando os citados e legitimados princípios do TBC: “valorização da história e da cultura” e valorização do “desejo de perpetuar heranças e legados dos seus antepassados” (p.32-33). Adiante, no capítulo 4 (tópico 4.2.2), o relato histórico sobre o assentamento ganhou apenas a forma de memória. Em outra oportunidade, as autoras poderiam “triangular” os depoimentos dos assentados com o material produzido pela imprensa e órgãos oficiais (segurança, agricultura, por exemplo) e eventuais usuários do Centro de Treinamento Comunitário (Universidade Federal de Sergipe, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, por exemplo), equipamento importante no Assentamento. Contudo, tal estratégia contraditória, provavelmente, a abordagem fenomenológica anunciada.Considerando o posicionamento contrário ao neoliberalismo e centrado no protagonismo dos assentados, é destoante a ausência de um tópico ou de comentários sobre as formas de organização política do assentamento, considerada pela literatura um dos maiores fatores de bom desempenho na implantação de projetos de TBC.

Considerando o posicionamento contrário ao neoliberalismo e centrado no protagonis dos assentados, é destoante a ausência de um tópico ou de comentários sobre as formas de organização política do assentamento, considerada pela literatura um dos maiores fatores de bom desempenho na implantação de projetos de TBC.

Em termos positivos, destaco as breves considerações históricas sobre os modos de fazer pesquisa acadêmica em regime pandêmico. A disponibilização dos instrumentos empregados (questionário, fichas de avaliação, imagens do local) também são outro ponto positivo. Na medida em que os trabalhos do gênero não são tão numerosos, as ferramentas apresentadas, junto ao relato sobre os seus usos é uma boa contribuição à o empreendimento de outras pesquisas no campo.

O maior destaque positivo, porém, está no fato de os pesquisadores terem experimentado um dos produtos da intervenção.empregada na recuperação da memória dos assentados. Ela, por si só, já estimula o processo de organização dos grupos, a periodização e os temas a serem relembrados e registrados pelos assentados.

TBC no Assentamento Moacir Wanderley (Quissamã) – Belezas, saberes e sabores da terra | Imagem: Youtube

O maior destaque positivo, porém, está no fato de os pesquisadores terem experimentado O experimento foi coroado com a iniciativa de submeter a experiência à avaliação dos turistas e à avaliação da própria comunidade envolvida nos trabalhos, no que diz respeito, por exemplo, ao retorno financeiro, à obediência do roteiro, às habilidades individuais, à capacidade de carga dos quintais produtivos e ao nível da autoestima do grupo após o evento.e submeter a experiência à avaliação dos turistas e à avaliação da própria comunidade envolvida nos trabalhos, no que diz respeito, por exemplo, ao retorno financeiro, à obediência do roteiro, às habilidades individuais, à capacidade de carga dos quintais produtivos e do nível da autoestima do grupo após o evento.

Apesar das insuficiências levantadas, o livro cumpre as metas anunciadas na introdução. Ele explicita, localmente, alguns meios para “potencializar a experiência de luta” da comunidade através do turismo, algumas formas de fortalecimento da agricultura familiar e a percepção dos assentatos sobre o emprego do TBC. Ele dá mostras da relevância da pesquisa pública, empreendida no IFS, devendo ser lida, não apenas pelos pós-graduandos da instituição, mas por todos os interessados em conhecer as estratégias de implantação do TBC, bem como a história dos assentamentos de Reforma Agrária em Sergipe.

Sumário de Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderley/SE: belezas, saberes e sabores da terra e o turismo de base comunitária

  • Introdução
  • 1. Revisão teórica
  • 2. Metodologia da pesquisa
  • 3. Resultados e discussão
  • 4. Produto tecnológico
  • Considerações finais
  • Anexos

Resenhista

Itamar Freitas é doutor em História (UFRGS) e em Educação (PUC-SP), professor do Departamento de Educação e dos mestrados profissional (PROHIS) e acadêmico (ProfHistória) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Publicou, entre outros trabalhos, Uma introdução ao método histórico (2021) e “Objetividade histórica no Manual de Teoria da História de Roberto Pirgibe da Fonseca” (1903-1986) (2021). ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/5606084251637102. ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214;  Email: itamarfreitasufs@gmail.com.


Para citar esta resenha

OLIVEIRA, Maria Rosa do Carmo; NASCIMENTO, Irineia Rosa do. Assentamento de Reforma Agrária Moacir Wanderlei/SE: belezas, saberes e sabores da terra e o Turismo de Base Comunitária. São Paulo: Dialética, 2024. 120p. Resenha de: FREITAS, Itamar. Experiência exitosa. Crítica Historiográfica. Natal, v.19, set.-out., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/experimentacao-exitosa-resenha-de-itamar-freitas-sobre-o-livro-assentamento-de-reforma-agraria-moacir-wanderley-se-belezas-saberes-e-sabores-da-tera-e-o-turismo-de-base-comunitaria/>.

 


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.19, set./out., 2024 | ISSN 2764-2666

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