História e Ambiente: uma análise dos títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas no período 1999-2024 | Jane Semeão (URCA)

As marcas de um incêndio na Reserva Biológica de Sooretama – ES | Imagem: CurtaBiodiversidade

Resumo: A relação entre história e meio ambiente tornou-se um campo interdisciplinar crescente no Brasil, refletido na produção acadêmica de teses e dissertações entre 1999 e 2024. A predominância do termo “história ambiental” evidencia a consolidação desse domínio, abordando questões como impactos ambientais, patrimônio, políticas públicas e sustentabilidade.

Palavras-chave: história ambiental; meio ambiente; revisão rápida da literatura.


A relação entre “história” e “ambiente” constitui um campo de investigação acadêmica que tem ganhado crescente relevância nas últimas décadas. O estudo das interações entre o ser humano e o ambiente ao longo do tempo não apenas amplia as fronteiras da historiografia, mas também responde a demandas contemporâneas de reflexão sobre os impactos das atividades humanas na natureza e os desafios impostos pela crise ambiental global. Nesse sentido, a combinação dos termos, sobretudo na expresção “história ambiental” emerge, não raro, como campos interdisciplinares que buscam compreender a complexidade das relações entre sociedades humanas e sistemas naturais, abordando temas como mudanças climáticas, desmatamento, urbanização, conservação e uso sustentável de recursos.

No Brasil, em termos acadêmicos, a relação é contemplada, desde 2013, nos esforços do Grupo de Trabalho “História Ambiental”, da Associação Nacional de História, com quase 90 profissionais em atuação, além de número semelhante de estudantes de pós-graduação (GT História Ambiental). Também é o foco de uma revista acadêmica – História, Natureza e Espaço, mantida, desde 2012, pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Espaço da Baixada Fluminense (NESBF) que reune trabalhos de pesquisa sobre a relação história, meio-ambiente e saúde e dinâmica e qualidade ambiental.

Cursos de pós-graduação constituem outro solo de interação. Dados da Plantaforma Sucupira, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), informam que História e Ciências Ambientais constituem áreas autônomas com, respectivamente, 136 e 185 cursos de pós-graduação, entre mestrados e doutorados acadêmicos e profissionais. Neles, entre 1995 e 2024, foram defendidos 412 trabalhos autodesignado, seja nos títulos e palavras-chave, seja nos resumos e linhas de pesquisa, como de “história ambiental”. Desse número, 28,5% eram teses de doutorado e 64 % dissertações de mestrado defendidas em programas acadêmicos e apenas 7,7% defendidas em mestrados profissionais ou profissionalizantes.. Ao somar as áreas de história e história do Brasil, 128 estudos se concentram nesses campos, enquanto ciências ambientais reúnem 68 produções, totalizando 196 trabalhos (47,6%) nesses dois grandes eixos. Os demais 216 trabalhos (52,4%) distribuem-se por 24 áreas como Geografia (26 trabalhos) e Ciências Sociais, Culturas e Humanidades (21). [1] o todo, esses estudos foram defendidos em 90 instituições de ensino e pesquisa, abrangendo tanto instituições públicas quanto privadas em todo o país.

Em várias instâncias esses cursos se conectam, seja na relação fenomênica da história objetivada no meio ambiente, seja na relação fenomênica ambiental, objetivada em perspectiva temporal. Os grupos de pesquisa demonstram esse fenômeno.

Segundo registros do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPQ, essa interface foi inaugurada pelo Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 1992. Hoje, é explorada por pelo menos nove grupos que atuam nas áreas da História, Ciências Ambientais e Arqueologia. Eles investigam fenômenos como a relação entre patrimônio ambiental e identidade regional (UNITAU), os usos históricos da água e os conflitos socioambientais (UFMS), a interação entre memória, patrimônio cultural e ambiental no ensino de história (UEMS), e as transformações ambientais em regiões de fronteira (UFFS). Outros temas incluem os impactos das migrações no ambiente (UFSC), as relações entre saúde, alimentação e condições ambientais (UNESP), e as interações entre ciência, sociedade e meio ambiente (UEM). No campo da Arqueologia, destacam-se estudos sobre ocupação humana e mudanças paleoambientais (UFPR), enquanto a UNESC aborda o desenvolvimento sustentável no contexto histórico. [2]

Com as dimensões desse espectro, uma visão geral da produção em termos de pesquisa básica necessita de constante atualização. Esta é a meta do presente artigo, que nasce das demandas de orientação do Mestrado Profissional em Ensino de História, na Universidade Regional do Cariri (URCA), mas que pose ser de interesse dos demais 34 cursos da rede nacional do ProfHistória, agora com um curso de doutorado também em rede nacional. Este artigo, portanto, tem como objetivo mapear e analisar os títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas entre 1999 e 2024 que abordam a relação entre história e meio ambiente, com foco na utilização de termos relacionados às categorias “história” e “ambiente”. Por meio de um mapeamento, identificamos as tendências temáticas, metodológicas e institucionais presentes nessa produção acadêmica, destacando como a interface entre história e (meio) ambiente se insere e se desenvolve na pós-graduação brasileira.

Considerando a abrangência de instituições que lidam com a relação história/ambiente, este texto possui uma limitação. Ele apenas explora os títulos das teses e dissertações que grafaram simultaneameente “história” e “ambiente” ou os seus demais termos lemantizados, a exemplo de “histórias”, “histórico”, “históricos”, “histórica”, “históricas”, “ambiental”, “ambientes” e “socioambiental”. Contudo, exames deste típo (“revisão da literatura” do tipo “mapeamento”) podem oferecer um panorama abrangente do lugar da temática na academia brasileira, contribuindo para uma reflexão sobre as potencialidades e desafios desse domínio interdisciplinar. Essa investigação também pode subsidiar novas agendas de pesquisa, fortalecendo o diálogo entre história e meio ambiente em um momento em que os debates sobre sustentabilidade e preservação ambiental se tornam cada vez mais urgentes.

2. Método

Este trabalho é definido como “revisão de literatura do tipo “mapeamento” que visa identificar e categorizar a literatura existente para encomendar revisões adicionais”. Uma revisão dessa natureza não necessariamente deve ser crítica e a sua integralidade” é determinada pelo tempo/escopo estabelecido pelos autores. (Haby et al, 2016, p.54). No nosso caso, o universo da amostra são cerca de 1.600.000 trabalhos de pós-graduação registrados no “Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. A amostra, do tipo não probabilísitica, é constituída por 112 teses (39) e dissertações (73), defendidas no período 1994-2024, selecionadas a partir dos seguintes descritores insertos nos títulos: “ambiental da história”, “ambiental na história”, “história ” e “meio ambiente”, “história e questões ambientais”, “história socioambiental”, “história” E “ambiente”, “histórico e meio ambiente”, “meio ambiente e história”, ” ambientais e história”,  “história no meio ambiente” e “meio ambiente na história”.

As unidades de leitura são os títulos, examinados a partir das orientações dos “Estudos sobre títulos” de trabalhos acadêmicos que se ocupam das estruturas sintáticas – compostas (dois segmentos separados por sinais gráficos), nominais (segmento único), frase gerúndio (segmento único, iniciada com verbo no gerúndio), frase completa (segumento único, contendo verbos) e frase proposicional (segmento único e iniciada por uma preposição) (CHENG, 2012, p.6-8).

Na identificação dos objetos do conhecimento que substanciam o perfil de escopo desejado (a relação história/ambiente), analisamos a estrutura dos títulos com base nas “categorias gramaticais” da língua: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio (Bechara, 2019, p.161). Ao questionarmos hipoteticamente “O que você investiga?”, a resposta fornecida após o “investiga” (verbo) é um conjunto de palavras modificadoras (como os advérbios advérbio) e/ou especificadoras (como os adjetivos) e suas locuções ou adjuntos respectivos (adjunto adverbial e locução adjetiva, por exemplo).

Tomada a estratégia da pergunta hipotética, a resposta correspondente expressa no sintagma nominal que realiza o título “Uma história ambiental dos mananciais da Serra do Mar: o abastecimento de água para Curitiba (1870-1929)” (Cordeiro, 2008), por exemplo, é constituída pelos seguintes elementos: substantivo (“história) e núcleo central do sintagma/objeto; adjetivo (“ambiental”) e especificador imediato do núcleo do objeto; substantivo comum (“mananciais”); locução adjetiva (“da Serra do Mar”) e especificadora espacial de “mananciais” e, juntas (“mananciais da Serra do Mar”), especificadoras da “história ambiental”.

Considerando, ainda, hipoteticamente, o segundo elemento da estrutura do título (após o sinal de dois pontos) – “o abastecimento de água para Curitiba (1870-1929)” – como uma resposta à questão “O que você investiga?”, temos: o substantivo (“abastecimento”) e núcleo central do objeto; uma locução adjetiva (“de água”) e especificadora do núcleo “abastecimento”; outra locução adjetiva (“para Curitiba”) que também especifica o espaço/destino do “abastecimento”; e o adjunto adverbial (“1870-1929”) que indica o tempo/período do “abastecimento”.

Em linguagem epistêmica, quando empregamos a terminologia rüseneana, os substantivos que funcionam como núcleo central de qualquer elemento do título podem ser interpretados como “categorias” – termos que “não se referem diretamente a nenhum estado de coisas, mas estabelecem a qualidade histórica da mudança temporal dos estados de coisas”. Ex: “História ambiental” e “Abastecimento de água”.

Dentro da mesma orientação, os substantivos também funcionam como “conceitos históricos” (substantivos próprios), designando “estados de coisas do passado em sua ocorrência singular” (Rüsen, 2007, p. 93) quando lidos em comjunto com os respectivos  especificadores (e/ou modificadores), que indicam tempo, espaço, agência e demais circunstâncias. É assim que “história” (núcleo) e “História ambiental dos mananciais da Serra do Mar” (núcleo+especificadores/modificadores) podem ser ambos tipificados como objetos do conhecimento (naquele título analisado). É assim também que “abastecimento” (núcelo) e “Abastecimento de água para Curitiba (1870-1929)” (núcleo+especificadores/modificadores) podem, ambos, ser considerados objetos do conhecimento. A escolha do objeto em seu caráter isolado (núcleo do substantivo) ou agregado (núcleo+especificadores/modificadores), ou seja, a escolha de extrair dos títulos categorias ou conceitos históricos cabe ao analista dos títulos. As opções servem a objetivos distintos, embora complementares. A opção de quantificar e agrupar categorias fornece indícios, por exemplo, sobre padrões de disciplinaridade, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, enquanto a quantificação de conceitos históricos possibilita a identificação de domínios acadêmicos dentro da História, por exemplo, ou no interior das Ciências Ambientais.

O tratamento dos elementos que constituem as estruturas de títulos, contudo, não se encerra na identificação de categorias/conceitos históricos presentes nos títulos e subtítulos. É importante considerar a probabilidade de os autores tenderem a comunicar o objeto em progressão de complexidade direta (do núcleo aos modificadores/da categoria ao conceito histórico) ou inversa (dos modificadores aos núcleos/dos conceitos históricos às categorias). Por essa hipótese, autores mais claros e objetivos tenderiam a estruturar os títulos dos seus trabalhos de pós-graduação, progredindo do geral ao particular ou do particular ao geral. Essa disposição funcionaria dentro do primeiro segumento de título, dentro do segundo segmento de título e entre os dois segmentos de título (sendo o segundo, provavelmente, o especificador do primeiro). Fora desse movimento, há, porem, os casos de uso de metáforas e as tentativas infrutíferas (ou pouco raciocinadas) de inovação.

Para quantificar, agrupar e produzir inferências sobre o perfil dessas estruturas de título (um segmento/dois segmentos, estruturas compostas, nominais, de frase-gerúndio, de frase-completa, frases preposicionais ou metafóricas), bem como dos elementos que constituem cada segumento (núcleos/especificadores ou categorias/demarcadores circunstanciais) e, ainda, dos modos de progressão do título (geral-particular/particular-geral) e dos objetos que constituem subdomínio acadêmicos, seguimos as orientações clássicas da Estatística descritiva (Larzon; Betsy, 2015, p.37, 438). Essa disciplina nos fornece as categorias designadoras de número de ocorrências” (frequência), intervalos de ocorrência (classes em anos), a diferença entre os valores máximo e mínimo das classes (amplitude), relações mensuráveis entre as variáveis (correlações).

3. Resultados e discussão

3.1. Instâncias de produção e volumes de defesas

Um primeiro passo auxiliar à construção do perfil do domínio é conhecer a frequência da produção, a variação dos produtos ao longo do tempo e os centros responsáveis por viabilizar e validar as pesquisas que resultaram em teses e dissertações que incluem, nos títulos, os descritores “história” e “ambiente” e demais termos respectivamente lemantizados.

O gráfico 1 demonstra o crescimento progressivo do número de defesas de teses e dissertações que incluem a história, ambiente ao longo dos anos. Entre 1994 e 2005, os números foram baixos, refletindo o estágio inicial do campo, com apenas 1 a 5 defesas por período. A partir de 2006-2008, notamos uma expansão significativa, com o número de defesas aumentando para 8 e, posteriormente, para 14 entre 2009-2011. Entre 2012 e 2017, os valores se estabilizaram em torno de 13 defesas por período, culminando em um pico de 24 defesas em 2018-2020. No período mais recente (2021-2024), o número caiu para 17, mas permanece elevado, evidenciando a consolidação dos nexos entre história e ambiente como um domínio relevante, interdisciplinar instituído na academia.

Gráfico 1. Volume de defesas de teses e dissertações

Quanto ao gênero textual, a análise evidencia comportamentos distintos no número de defesas por ano. As dissertações apresentam um desenvolvimento mais consistente e gradual, com baixos números até 2006, seguidos por um crescimento significativo, atingindo um pico em 2011 (9 dissertações) e mantendo valores estáveis entre 2012 e 2020, com um novo pico em 2020 (7 dissertações). As teses, por outro lado, mostram uma trajetória mais irregular, com números baixos ou nulos até 2002, quando registram um aumento pontual (3 teses), seguido por oscilações. O pico ocorre em 2021, com 8 teses defendidas, mas os números caem nos anos subsequentes. A correlação entre as curvas mostra que, enquanto as dissertações refletem maior volume e consistência ao longo dos anos, as teses apresentam picos específicos, como em 2021, quando ambas registraram altos valores (3 dissertações e 8 teses), sugerindo um alinhamento temporal no interesse acadêmico.

A análise da distribuição das defesas também mostra uma forte concentração nas regiões Sudeste e Sul, com contribuições significativas, embora mais limitadas, das demais regiões. O Sudeste lidera a produção acadêmica, com 41 defesas (35% do total), sendo os estados de Rio de Janeiro (21) e São Paulo (16) os maiores produtores. O Sul aparece como a segunda região mais produtiva, com 35 defesas (30%). O Rio Grande do Sul lidera a produção regional, com 18 trabalhos defendidos, seguido por Santa Catarina, com 11, e Paraná, com 6. O Centro-Oeste apresenta 13 defesas (11%), com Goiás liderando, com 9 defesas, seguido pelo Distrito Federal (3) e Mato Grosso (1). No Nordeste, com 17 defesas (14%), a Paraíba lidera, com 6 trabalhos defendidos, seguida por Pernambuco (3), Ceará (2), Bahia (2) e Maranhão (1). Por fim, o Norte conta com 11 defesas (9%), com destaque para Pará e Rondônia, ambos com 3 trabalhos, seguidos por Amazonas (2) e Tocantins (1).

Contabilizando as instituições, constatamos uma concentração significativa em centros consolidados de pesquisa. Instituições de Alta Frequência, como UFSC e UFRJ (9 trabalhos cada), seguidas pela UERJ (6), lideram em produção acadêmica. Na Média-Alta Frequência, destacam-se USP, UFCG, UNESP e UEG, com 5 trabalhos cada, refletindo envolvimento significativo no tema. A Média-Baixa Frequência inclui universidades como UFRGS, UFRO e UFFS, com 3 trabalhos cada, indicando relevância, mas com menor expressividade. Já a Baixa Frequência reúne instituições com até 2 trabalhos, como UEFS, PUC-SP, UNICAMP, entre outras, apontando menor participação relativa.

3.2. Estruturas sintáticas dos títulos

O segundo passo da análise na construção do perfil diz respeito às estruturas sintáticas dos títulos. A análise da Tabela 1 demonstra a predominância da estrutura composta (78%), ou seja, por duas partes separadas por sinais gráficos de dois pontos (80), travessão, interrogação (1) e (equivocadas) vírgulas (7), secundada por uma menor presença da estrutura nominal (22%), isto é, a inserção de substantivos precedidos ou seguidos por modificadores em um mesmo e único segmento de texto. Dentro das estruturas compostas, encontramos um caso de frase gerúndio e um caso de frase questão, apenas. Este resultado confirma estudos anteriores que revelaram a predominância das sentenças compostas em disciplinas de Artes e Humanidades (Hartley, 2007), inclusive Linguística (Cheng, 2012).

Tabela 1. Estruturas sintáticas dos títulos de teses e dissertações.

Estruturas Frequências Porcentagem (%)
Composta 87 78%
Nominal 25 22%
Total 112 100%

Produzido pelos autores

A prevalência de títulos compostos sugere a preferência dos autores por anúncios com progressão do geral para o particular e do mais abstrato ao mais concreto, indicando circunstâncias nas quais os fenômenos estudados ocorrem (tempos e espaços) e/ou são abordados (fontes e métodos), como neste exemplo: “Do lixão ao aterro: uma história socioambiental de Guarapuava/PR (1971-2011)” (Cunha, 2011), onde “Uma história socioambiental” é o núcleo, “Garapuava/PR” é o especificador de espaço e “(1971-2011) é o especificador de tempo. Títulos compostos  também pode indicar a preferência dos autores pelo anúncio da abordagem e dos beneficiados com a pesquisa. Em “A história ambiental como construção social e histórica: uma proposta para o ensino de história em Marabá-PA” (Reis, 2022), por exemplo, o caráter socio-historico da história ambiental especifica teoria-método e o “ensino de história” especifica os destinatários e a função com a implícita presença de professores e alunos da escolarização básica.

Já a presença de títulos com estrutura nominal pode sugerir a preferência dos autores por comunicações mais sintéticas e objetivas, iniciando ou finalizando com o núcleo substantivo do objeto do conhecimento, como em: “História ambiental da Erva-Mate (Gerhardt, 2013), ou informando marcadores contextuais (tempo/espaço) da pesquisa: “Uma história ambiental das florestas nacionais de Três Barras e Chapecó (1944-2000)” (Ribeiro, 2023). 

3.3. Constituintes dos títulos compostos e nominais

Um terceiro passo para perfilar os títulos é aprofundar a tipificação, avançando para o exame de semelhanças e diferenças entre estruturas no que diz respeito aos elementos funcionais no interior de cada segmento de título (núcleo e especificadores do núcleo) e estilo (realista e metafórico).

Considerando apenas os títulos de estrutura composta, percebemos o Segmento I é dominado por núcleos do objeto (56%), enquanto o Segmento II concentra termos responsáveis por especificar/modificar o foco do estudo (55%). Ampliadores aparecem mais no Segmento I (17%) e têm presença reduzida no Segmento II (1%), sugerindo maior prioridade para precisão e especificidade nessa parte final.[3] Nos títulos nominais, evidentemente, núcleos e especificadores estão juntos.

O emprego da linguagem mais realista ou mais metafórica também distingue títulos compostos dos títulos nominais. A maioria dos títulos que expressam o núcleo do objeto no Segmento II reserva o primeiro segmento para a apresentação de metáforas que servem a vários fins. Elas podem ampliar do núcleo, como neste caso: “Os jardins suspensos do Morro da Babilônia: o Multirão de Reflorestamento na perspectiva da História Ambiental urbana (1955-2015)” (Barbosa, 2020); podem expressar literaridade ao texto, sem ampliar ou especificar o núcleo: “Rio acima, rio abaixo: uma história socioambiental do rio Grangeiro (Lima, 2016). Além disso, a metáfora pode pode reforçar a questão, a tese ou a causa, como nesses respectivos exemplos: “Do que falam as margens? A história ambiental do Rio Muriaé” (Dias, 2017); “Natureza corrigida: uma história ambiental dos pomares de macieira do Sul do Brasil (1960-1990); “Depois que o café acabou: Biogeografia e História ambiental de remanescentes florestais do Vale do Rio Paraíba do Sul (RJ e SP) (Souza, 2021). Outros usos, por fim, reforçam a comunicação da tese com expressões persuasivas coletadas nas fontes primárias: “A gente comeu gelo!”: percepções da Grande Geada à luz de uma história ambiental (Paraná, 1975) (Rodrigues, 2022).

Essa presença de metáforas no primeiro segmento e a automática disposição do núcleo do objeto no segundo parece uma tendência reforçada pela análise dos elementos constituintes dos títulos de estrutura nominal. Nenhum deles usa palavras ou expressões metafórias. A presença do especificador de tempo, por outro lado, parece assemelhar títulos dos dois tipos. Tanto nos compostos como nos nominais, cerca de 28% dos títulos apresentam indicador de duração ou recorte temporal, por extenso ou em números cardinais.[4]

3.4. Densidade lexical

Um quarto passo da nossa análise de títulos diz respeito ao exame da densidade lexical, ou seja, a análise da “quantidade de informação transmitida por um título” traduzida na proporção entre palavras substantivas (substantivos, verbos, adjetivos, advérbios, numerais indicadores de tempo) e palavras funcionais (artigos, pronomes, preposições e conjunções). No exame do nosso corpus, como apresentado na Tabela 2, constatamos ligeira proeminância das palavras substantivas (52%) sobre as palavras funcionais (48%).

Tabela 2. Tipo de palavras e densidade lexical.

Tipo de palavra Frequências Porcentagem (%)
Palavras funcionais 322 48%
Palavras substantivas 343 52%
Total 665 100%

Produzido pelos autores

Esse resultado fica abaixo dos exame de palavras de título na área de Linguística, se considerarmos o princípio defendido por L. Zhijun e X. Jinfen (2008, p.1623) de que a maior proporção de palavras substantivas sobre as funcionais indica maior densidade lexical e, consequentemente, maior teor informativo atribuído aos títulos. No caso em análise – História e Ciências Ambientais – a densidade lexical é de 52%, bem abaixo da referida área que vai de 63% a 66% (Zhijun, 2008, p.1626).

Tabela 3. Função das palavras substantivas no título.

Função das palavras substantivas Frequências Porcentagem (%)
Núcleos do objeto 322 48%
Especificadores no núcleo do objeto 343 52%
Total 665 100%

Produzido pelos autores

Traduzindo as palavras substantivas (adjetivo, verbo, advérbio e substantivo) e estruturdoras do título (objeto/especificador) em palavras epistêmicas (demarcadores de agência, tempo, espaço e circunstâncias) e, ainda, considerando os números totais de palavras colhidas em títulos compostos e nominais, constatamos a proeminência dos termos que expressam os especificadores do núcleo do objeto do conhecimento (62%) sobre os termos que designam o núcleo do objeto do conhecimento (38%).

Os termos indicadores de núcleo formam, predominantemente, a expressão “história ambiental” (25%), seguindos por termos designadores de outros fenômenos (urbanização, mineração, preservação etc.) (13%). Já os indicadores de especificação dos objetos estão equilibrados entre dois níveis: o binômio “entidade” (populações negras, mata atlântica…) (21%) e “espaço (cidade de Porto Velho, litoral fluminense, por exemplo) (19%) e  as indicações sobre duração (século XIX e 2004-2017) (9%) e considerações teórico-metodológicas (empregos da Teoria da complexidade e da Etnografia) (8%).

3.5. A natureza dos objetos

Já vimos que os objetos do conhecimento podem figurar no primeiro ou no segundo segmento dos títulos, no caso das estruturas compostas ou constituir todo o título, sem a presença de metáforas, no caso das estruturas nominais. O exame desses núcleos fundamenta o quinto, último e privilegiado passo para produção de um perfil sobre a presença da relação “história”/”ambiente”. Os núcleos indicam os fenômenos tomados como estudo e fornecem indícios de níveis de complexidade, traduzidos mediante a quantidade de fenômenos e o tipo de relação sugerida entre os mesmos. Lidos junto aos modificadores em termos de meios/perspectivas, agentes, tempos e espaços, os títulos podem comunicar traços ideológicos e epistemológicos que estruturam domínios da História e das Ciências Ambientais e, no caso destacado até o momento, que estruturam um domínio intitulado “História ambiental”.

Os núcleos também nos possibilitaram a separação dos usos concentrados de “história” e “ambiente” e os usos dispersos de “história” e “ambiente”. O primeiro uso ganha a forma de “história ambiental”, enquanto o segundo aparece como “história” e “histórico(s)” relacionado à “ambiente”, “meio ambiente”, “ambiental” e “socioambiental.”

3.5.1 Usos de “história ambiental”

Em termos de frequência de substantivos, como adiantamos, chama a atenção a dominante presença da expressão “história ambiental” na condição de núcleo dos objetos. “História ambiental está presente em 83 dos 112 títulos da nossa amostra, sendo 76% nos títulos compostos e 80% dos títulos nominais. Isso indica que o uso de “história” e “ambiente” nos títulos de teses e dissertações na forma de “história ambiental” é a maior preocupação dos pós-graduandos, ou seja, a principal meta dos seus trabalhos é examinar o ambiente em sua historicidade (fazer história ambiental) ou examinar elementos circunscritos às categorias ambiente ou meio ambiente sob perspectivas de uma história ambiental.

 

Quadro 1. Situação da categoria “História ambiental” nos títulos de tese e dissertação

O Quadro 1 é uma amostra ilustrativa e privilegiada dos 83 sintagmas nominais que constituem títulos de teses e dissertações com a inserção de “história ambiental”, seja no primeiro (ou único) segmento, seja no segundo segmento. Contabilizando porém a totalidade dos casos (83), analisamos como a categoria “História Ambiental” é tratada sintaticamente, destacando os diferentes graus de especificação. Esses resultados refletem implicações epistêmicas significativas, indicando que, em todos os 83 casos, “História Ambiental” aparece como núcleo do sintagma nominal e representa o objeto principal de estudo. A forma como o núcleo é especificado (ou não) revela os diversos modos pelos quais os autores tratam a categoria, variando desde a ausência de modificadores até combinações complexas de pré e pós-modificação.

Em números absolutos, observa-se que o núcleo é predominantemente pós-especificado, aparecendo acompanhado de complementos nominais ou locuções que delimitam lugar, tema ou tempo. A pós-especificação por complemento nominal/lugar é a forma mais comum, com 10 ocorrências, como neste exemplo: “História ambiental do alagado do Piry de Jussara, Belém-Pa” (Silva, 2021). Em seguida, aparecem os casos de pós-especificação por complemento nominal/tema e por complemento nominal/lugar e tempo, revelando que as modificações complexas, apesar de refletirem a busca por contextualizações mais profundas, são menos frequentes nos títulos: “História ambiental do Agroecossistema do café no norte do Paraná (1945-1975)” (Mores, 2017). Epistemicamente, estes números revelam que a “história ambiental” (mesmo não antecidida por artigos) é tida, dominantemente, como narrativa (representação do objeto em sua historicidade), ou seja, um produto de domínio disciplinar homônimo.

A pré-modificação também desempenha um papel relevante, especialmente quando combinada com pós-modificação. Pré-especificadores como artigos definidos e indefinidos aparecem em 27% dos casos, mostrando que os autores frequentemente tratam “História Ambiental” como algo delimitado no discurso acadêmico, um compromisso, provavelmente, com a pluralidade da interpretação sobre o passado, como se os autores quizesseem comunicar: “esta é apenas uma história, dentre as várias possibilidades de representação do problema em sua historicidade”. A pré-especificação combinada com pós-especificação – como em: “História ambiental e siderurgia em São João de Ipanema no século XIX (Rodrigues Neto, 2011) – ocorre em 6 ocasiões, representando um esforço para situar simultaneamente o núcleo no espaço-tempo e em contextos temáticos.

Os casos de coordenação do núcleo com outros elementos, como em “História ambiental e o Ensino das Ciências da Natureza e suas tecnologias” (Oliveira, 2023), apesar de menos frequente (5 ocorrências), destacam, não raro, um explícito diálogo epistêmico com outras disciplinas, integrando a categoria a domínios como a História Indígena, Etnoecologia, Geografia, Ensino de História, Ensino de Ciências Naturais. Também indicam diálogo entre domínios, com benefícios para a História ambiental ou para conceitos-problema como: desenvolvimento, paisagem, espacialidade ou ainda setores da produção como a siderurgia e a fruticultura.

Epistemologicamente, portanto, os resultados destacam que “História Ambiental” é um conceito central, raramente tratado como genérico ou isolado. A predominância de especificações pós-modificadoras indica que os autores buscam contextualizar a área em termos geográficos, temáticos, de meio/abordagem e de agência.

3.5.2. Usos de história, ambiente e respectivos termos lemantizados

Além do emprego predominante de história e ambiente como “história ambiental”, os título apresentam outras possibilidades em menor escala. O termo “socioambiental”, por exemplo, apresenta funções variadas, sendo usado como núcleo em 50% dos casos, como adjetivo que qualifica o núcleo em 33,3%, e como complemento nominal em 16,7%. Quando funciona como núcleo, como em “Projeto Casa Verde Socioambiental” (Cunha, 2011) ou “Do lixão ao aterro: uma história socioambiental” (Cunha, 2011), o termo é central para o título, destacando diretamente a integração entre aspectos sociais e ambientais como tema principal. Quando é utilizado como adjetivo qualificativo, como em “História espacial do Arroio Dilúvio: uma análise socioambiental” (Bublitz, 2019), o termo especifica uma abordagem metodológica focada na inter-relação entre sociedade e ambiente. Em casos onde atua como complemento nominal, como em “Uma história socioambiental da Alemanha”, ele delimita o escopo do núcleo, indicando que o enfoque socioambiental é um elemento básico dentro de um contexto maior. Esse uso variado reflete a relevância do termo na academia, seja como tema principal ou como abordagem específica de estudos integrados entre fatores sociais e ambientais.

Outro termo citado é “ambiental”/”ambientais”. Ele é utilizado como adjetivo qualificativo (64.3%) em títulos acadêmicos, a exemplo de: “desastre ambiental” ou “educação ambiental”. Neste caso, “ambiental” delimita o núcleo (“desastre”) com uma dimensão temática ligada ao meio ambiente. Também aparece compondo núcleos coordenados (21.4%), como em “fatores históricos e ambientais sobre a composição e diversidade de assembléias de Lagartos” (Peixoto, 2019), destacando análises integradas entre meio ambiente e outras variáveis causais. Embora menos frequente, o termo pode atuar como complemento nominal (7.1%), especificando o núcleo, ou como adjetivo metodológico/teórico (7.1%), como em “um enfoque ambiental da história de uma obra inacabada” (Boaventura, 2002), indicando uma perspectiva analítica. Esse uso diversificado reflete a centralidade do meio ambiente em estudos que abordam suas interseções com história, educação, geografia e outros campos.

O termo “meio ambiente” é amplamente empregado como parte de núcleos coordenados (80%), em títulos como “História, cultura e meio ambiente” (Carignatto, 2010) ou “História econômica e meio ambiente” (Muniz, 2004). Em menor frequência (20%), aparece como complemento nominal, como em “Interferência da política no meio ambiente” (Mota, 2019), especificando o tema ou objeto central de uma ação. Essa análise demonstra a versatilidade do termo nos estudos acadêmicos, frequentemente associado a perspectivas interdisciplinares.

Macacarecuias no Parque Nacional do Jaú-AM | Imagem: Carlos Sanches//CurtaBiodiversidade

Os termos “história” e seus derivados, por fim, aparecem 17 vezes (em 29 títulos que não empregam “história ambiental”), enquanto “ambiente” e seus derivados aparecem 15 vezes nos títulos analisados, frequentemente, em relações de causa/consequência, integração/interseção, contextualização e descrição. As relações comuns são as de causa/consequência, como no já citado “História da interferência da política [agente] no meio ambiente [paciente]”; de integração/interseção, como em “História, cultura e meio ambiente”. Já em contextos como “Enfoque ambiental da história de uma obra inacabada”, o meio ambiente é uma perspectiva para compreender eventos históricos. Por fim, em descrições como “Aspectos históricos e ambientais”, os termos são usados paralelamente para categorizar características específicas.

Esses padrões também revelam a interdisciplinaridade dos estudos, explorando conexões entre o humano e o natural, nos encontros entre Ensino de História e meio ambiente, História da Educação e ambiente, História política e ambiente, História evolutiva e Avaliação ambiental e História socioambiental e trajetória do movimento ambientalista. Surpreendentemente, contudo, o termo “natureza” somente apareça em 4 títulos, além de um uso metafórico – “Natureza corrigida” e de dois usos para designar domínios acadêmicos das “Ciências da Natureza”.

3.5.3. Alvos, tempos e espaços das relações entre história e ambiente

Os mesmos dados que serviram às inferências do tópico anterior (3.5.2) servem para dar respostas às questões que tratam de agentes, tempos e espaços. Em primeiro lugar: Quem é alvo da história ambiental ou de quem é a história ambiental anunciada?

Quando analisada a relação entre os complementos nominais e os modificadores realizados em coisas (conceitos, fenômenos e artefatos) e agentes (pessoas individualmente, coletivamente ou instituições), constaramos que a maioria dos complementos, cerca de 71%, pertence à categoria de coisas, incluindo fenômenos agrícolas, ambientais e culturais, como “do Agroecossistema do café” e “das transformações das paisagens”, além de artefatos tecnológicos, como “do mineroduto Minas-Rio”. Conceitos e experiências, com as dos setores econômicos “da indústria madeireira” e “do saneamento”, também estão presentes, refletindo as interações humanas com o meio ambiente. Por outro lado, os agentes, que correspondem a 28,5% dos complementos, incluem grupos sociais e coletividades, como indígenas Guarani, jesuítas, comunidades quilombolas, populações negras,  e instituições como Unidades de Conservação”.

De quando é a história ambiental anunciada? A análise dos 25 indicadores de tempo revelou que 12% deles correspondem a eventos de curta duração (1 a 10 anos), como “1968-1974” (6 anos), a “década de 1980” (10 anos) e “1975” (1 ano). A maior parte, 44%, refere-se a períodos de duração conjuntural (11 a 100 anos), incluindo exemplos como “1945-1975” (30 anos), “1960-2010” (50 anos) e “1733-1790” (57 anos). Finalmente, 44% abrangem períodos de longa duração (mais de 101 anos), como “séculos XVII e XVIII” (cerca de 200 anos), “entre os séculos XVII e XX” (aproximadamente 300 anos) e “1585-2014” (429 anos). Essa distribuição mostra um equilíbrio entre os períodos conjunturais e de longa duração, enquanto eventos de curta duração são menos representativos na temática abordada.

Por fim, enfrentemos a última questão do tópico e deste artigo: Quais são os cenários da história ambiental anunciada? A análise dos lugares mencionados revelou que a maioria faz referências a estados (20%), como Goiás, Rio Grande do Sul, e Pernambuco, demonstrando uma abordagem ampla em termos regionais. Acidentes geográficos aparecem em seguida (17,5%), incluindo o Vale do Rio Paraíba do Sul, Serra do Mar e Rio Muriaé, destacando a relação entre elementos naturais e a história ambiental. Cidades (15%) e municípios (10%), como Campina Grande, Porto Velho e Águas Lindas de Goiás, refletem uma atenção a contextos locais específicos, enquanto regiões trans e intra estado (10%), como o Alto Uruguai e a Ecorregião Norte-Noroeste Fluminense, indicam delimitações intermediárias entre local e estadual. A categoria país (2,5%) inclui apenas o Brasil, mostrando que o enfoque nacional é menos frequente comparado às escalas locais e regionais.

Conclusões

A análise dos títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas entre 1999 e 2024 confirma a crescente relevância do diálogo interdisciplinar entre história e meio ambiente na academia brasileira, evidenciando um domínio de pesquisa que responde às demandas contemporâneas por reflexões sobre as relações entre sociedade e natureza.

Essa constatação foi possível mediante a associação de estratégias e princípios provenientes dos estudos de Língua Portuguesa, Teoria da História, Análise de Conteúdo e Análise de Títulos e Estatística descritiva. Com eles, demonstramos que os objetos do conhecimeento nos títulos podem aparecer no primeiro ou no segundo segmento e são frequentemente ampliados ou detalhados, dependendo da estrutura adotada. A ampliação, geralmente representada por um substantivo (categoria), e o detalhamento, por substantivos complementados por adjetivos, advérbios e numerais cardinais que indicam agentes, modos de abordagem, qualidades, tempos e espaços. A metáfora, por sua vez, pode ser usada tanto para ampliar quanto para detalhar, mas nunca atua como núcleo. O núcleo, por sua natureza, pode ser simples, constituído por um único substantivo, ou composto, formado por vários substantivos que podem expressar relações de causa e consequência, oposição ou soma (agregação), ampliando a complexidade semântica do título.

No que diz respeito aos resultados propriamente ditos, constatamos a predominância do termo “história ambiental”, presente em 74% dos títulos analisados. Esse fato reflete a consolidação do conceito que desempenha múltiplos papéis: como domínio do conhecimento consolidado (39%), narrativa aplicada (26%), ferramenta interdisciplinar passível de aprimoramento (17%), campo acadêmico autônomo (14%) e até mesmo expressão com significado autoevidente (1%).

Quando não mencionam a categoria “história ambiental”, os títulos que exploram as relações entre história e ambiente e termos lemantizados comunicam dinâmicas de integração/interseção (como em “História, cultura e meio ambiente”), contextualização (como em “Enfoque ambiental da história de uma obra inacabada”) e causa/consequência (como em “História da interferência da política no meio ambiente”). Tais abordagens evidenciam a complexidade das interações entre sociedades humanas e sistemas naturais, reforçando a interdisciplinaridade do domínio.

No que diz respeito aos alvos, a maioria dos estudos centra-se em fenômenos agrícolas, culturais, ambientais e tecnológicos, enquanto uma parcela menor destaca agentes humanos, como comunidades indígenas e quilombolas, ou instituições. Temporalmente, os trabalhos abrangem desde eventos de curta duração (12%) até períodos de longa duração (44%), refletindo uma abordagem multiescalar com rara preocupação em termos nacionais. Regionalmente, os estudos mostram um equilíbrio entre análises locais e transrregionais, com 20% dos títulos focados em estados e 17,5% em acidentes geográficos.

Como anunciado na introdução, por fim, a análise de título enfreta limitações de natureza intrínseca ao elemento, como o caráter sintético e, em alguns casos, abstrato dos termos empregados e a possível discrepância entre o que os autores anunciam e aquilo que efetivamente constróem no decorrer da pesquisa. Contudo, esse tipo de exame de conteúdo viabiliza revisões que, como esta, se ocupam da construção de perfis abrangentes que revelem o lugar da relação das categorias “história” e “ambiente” e, sobretudo da categoria “história ambiental” um domínio consolidado nas Ciências Ambientais e na História. Estudos com este, por fim, dão visibilidade ao potencial da história ambiental para compreensão do atual momento de crise ambiental global, subsidiando a construção de soluções sustentáveis para o futuro, considerando as vantagens das visões em perspectiva temporal. 

Notas

[1] Segue a totalidade das áreas, além de História, História do Brasil e Ciências Ambientais: Agronomia (1), Antropologia (1), Arquitetura e Urbanismo (2), Botânica (1), Ciência da Informação (1), Ciências e Humanidades para a Educação básica (13), Ecologia aplicada (1), Educação (5), Engenharia sanitária (1), Ensino (8), Ensino de Ciências e Matemática (2), Extensão rural (1), Fisiologia (1), Geociências (1), Geografia (26), Interdisciplinar (1), Planejamento urbano e regional (2), Recursos florestais e Engenharia florestal (2), Saúde e Biológicas (1), Sociais e Humanidades (1), Sociais, culturas e humanidades (21), Sociologia (3) e Zoologia (2).

[2] Segue a lista de grupos, acompanhados de ano de formação, área do conhecimento e instituição sede: Estudos da Memória, Patrimônio Cultural, Ambiental e Ensino de História – 2015, /História (UEMS), Fronteiras: Laboratório de História Ambiental – 2018/História (UFFS), Grupo de Estudo e Pesquisa em História Ambiental – 2006/História (UNESC), História Regional e Patrimônio Ambiental – 2020/Ciências Ambientais (UNITAU), História, Água e Meio Ambiente – 2016/História (UFMS), Laboratório de História, Ciências e Ambiente -2022/História (UEM), Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental – 1992/História (UFSC), Meio Ambiente, Saúde e Alimentação na História – 2023/História (UNESP), Pré-História, Evolução e Paleoambiente – 2020/Arqueologia (UFPR).

[3] Os elementos não classificados são mínimos (7% no Segmento I e 2% no Segmento II), demonstrando que os títulos seguem uma estrutura bem definida.

[4] Nos compostos, somente 6% informam duração ou escala, seja por extenso ou em numerais cardinais.

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Autora

Jane Semeão é doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA) e editora do bolg Resenha Crítica. Um “oásis” chamado Cariri: Instituto Cultural do Cariri, natureza, paisagem e construção identirária do sul cearense (1950-1970) e “O que a Austrália tem  nos ensinar?“ O Tempo Presente nos programas de História produzidos pela Australian Curriculum and Assessment Authority – ANCARA (2008-2013). ID: LATTES:  ID ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6804-1640. E-mail: janesemeão@globo.com.


Para citar este artigo

SEMEÃO, Jane. História e Ambiente: uma análise dos títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas no período 1999-2024. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.20, nov./dez., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/mudancas-no-setor-viageiro-resenha-de-almir-oliveira-ufrn-sobre-o-livro-the-history-and-evolution-of-tourism-organizado-por-prokopis-a-christou/>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.20, nov./dez., 2024 | ISSN 2764-2666

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História e Ambiente: uma análise dos títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas no período 1999-2024 | Jane Semeão (URCA)

As marcas de um incêndio na Reserva Biológica de Sooretama – ES | Imagem: CurtaBiodiversidade

Resumo: A relação entre história e meio ambiente tornou-se um campo interdisciplinar crescente no Brasil, refletido na produção acadêmica de teses e dissertações entre 1999 e 2024. A predominância do termo “história ambiental” evidencia a consolidação desse domínio, abordando questões como impactos ambientais, patrimônio, políticas públicas e sustentabilidade.

Palavras-chave: história ambiental; meio ambiente; revisão rápida da literatura.


A relação entre “história” e “ambiente” constitui um campo de investigação acadêmica que tem ganhado crescente relevância nas últimas décadas. O estudo das interações entre o ser humano e o ambiente ao longo do tempo não apenas amplia as fronteiras da historiografia, mas também responde a demandas contemporâneas de reflexão sobre os impactos das atividades humanas na natureza e os desafios impostos pela crise ambiental global. Nesse sentido, a combinação dos termos, sobretudo na expresção “história ambiental” emerge, não raro, como campos interdisciplinares que buscam compreender a complexidade das relações entre sociedades humanas e sistemas naturais, abordando temas como mudanças climáticas, desmatamento, urbanização, conservação e uso sustentável de recursos.

No Brasil, em termos acadêmicos, a relação é contemplada, desde 2013, nos esforços do Grupo de Trabalho “História Ambiental”, da Associação Nacional de História, com quase 90 profissionais em atuação, além de número semelhante de estudantes de pós-graduação (GT História Ambiental). Também é o foco de uma revista acadêmica – História, Natureza e Espaço, mantida, desde 2012, pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Espaço da Baixada Fluminense (NESBF) que reune trabalhos de pesquisa sobre a relação história, meio-ambiente e saúde e dinâmica e qualidade ambiental.

Cursos de pós-graduação constituem outro solo de interação. Dados da Plantaforma Sucupira, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), informam que História e Ciências Ambientais constituem áreas autônomas com, respectivamente, 136 e 185 cursos de pós-graduação, entre mestrados e doutorados acadêmicos e profissionais. Neles, entre 1995 e 2024, foram defendidos 412 trabalhos autodesignado, seja nos títulos e palavras-chave, seja nos resumos e linhas de pesquisa, como de “história ambiental”. Desse número, 28,5% eram teses de doutorado e 64 % dissertações de mestrado defendidas em programas acadêmicos e apenas 7,7% defendidas em mestrados profissionais ou profissionalizantes.. Ao somar as áreas de história e história do Brasil, 128 estudos se concentram nesses campos, enquanto ciências ambientais reúnem 68 produções, totalizando 196 trabalhos (47,6%) nesses dois grandes eixos. Os demais 216 trabalhos (52,4%) distribuem-se por 24 áreas como Geografia (26 trabalhos) e Ciências Sociais, Culturas e Humanidades (21). [1] o todo, esses estudos foram defendidos em 90 instituições de ensino e pesquisa, abrangendo tanto instituições públicas quanto privadas em todo o país.

Em várias instâncias esses cursos se conectam, seja na relação fenomênica da história objetivada no meio ambiente, seja na relação fenomênica ambiental, objetivada em perspectiva temporal. Os grupos de pesquisa demonstram esse fenômeno.

Segundo registros do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPQ, essa interface foi inaugurada pelo Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 1992. Hoje, é explorada por pelo menos nove grupos que atuam nas áreas da História, Ciências Ambientais e Arqueologia. Eles investigam fenômenos como a relação entre patrimônio ambiental e identidade regional (UNITAU), os usos históricos da água e os conflitos socioambientais (UFMS), a interação entre memória, patrimônio cultural e ambiental no ensino de história (UEMS), e as transformações ambientais em regiões de fronteira (UFFS). Outros temas incluem os impactos das migrações no ambiente (UFSC), as relações entre saúde, alimentação e condições ambientais (UNESP), e as interações entre ciência, sociedade e meio ambiente (UEM). No campo da Arqueologia, destacam-se estudos sobre ocupação humana e mudanças paleoambientais (UFPR), enquanto a UNESC aborda o desenvolvimento sustentável no contexto histórico. [2]

Com as dimensões desse espectro, uma visão geral da produção em termos de pesquisa básica necessita de constante atualização. Esta é a meta do presente artigo, que nasce das demandas de orientação do Mestrado Profissional em Ensino de História, na Universidade Regional do Cariri (URCA), mas que pose ser de interesse dos demais 34 cursos da rede nacional do ProfHistória, agora com um curso de doutorado também em rede nacional. Este artigo, portanto, tem como objetivo mapear e analisar os títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas entre 1999 e 2024 que abordam a relação entre história e meio ambiente, com foco na utilização de termos relacionados às categorias “história” e “ambiente”. Por meio de um mapeamento, identificamos as tendências temáticas, metodológicas e institucionais presentes nessa produção acadêmica, destacando como a interface entre história e (meio) ambiente se insere e se desenvolve na pós-graduação brasileira.

Considerando a abrangência de instituições que lidam com a relação história/ambiente, este texto possui uma limitação. Ele apenas explora os títulos das teses e dissertações que grafaram simultaneameente “história” e “ambiente” ou os seus demais termos lemantizados, a exemplo de “histórias”, “histórico”, “históricos”, “histórica”, “históricas”, “ambiental”, “ambientes” e “socioambiental”. Contudo, exames deste típo (“revisão da literatura” do tipo “mapeamento”) podem oferecer um panorama abrangente do lugar da temática na academia brasileira, contribuindo para uma reflexão sobre as potencialidades e desafios desse domínio interdisciplinar. Essa investigação também pode subsidiar novas agendas de pesquisa, fortalecendo o diálogo entre história e meio ambiente em um momento em que os debates sobre sustentabilidade e preservação ambiental se tornam cada vez mais urgentes.

2. Método

Este trabalho é definido como “revisão de literatura do tipo “mapeamento” que visa identificar e categorizar a literatura existente para encomendar revisões adicionais”. Uma revisão dessa natureza não necessariamente deve ser crítica e a sua integralidade” é determinada pelo tempo/escopo estabelecido pelos autores. (Haby et al, 2016, p.54). No nosso caso, o universo da amostra são cerca de 1.600.000 trabalhos de pós-graduação registrados no “Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. A amostra, do tipo não probabilísitica, é constituída por 112 teses (39) e dissertações (73), defendidas no período 1994-2024, selecionadas a partir dos seguintes descritores insertos nos títulos: “ambiental da história”, “ambiental na história”, “história ” e “meio ambiente”, “história e questões ambientais”, “história socioambiental”, “história” E “ambiente”, “histórico e meio ambiente”, “meio ambiente e história”, ” ambientais e história”,  “história no meio ambiente” e “meio ambiente na história”.

As unidades de leitura são os títulos, examinados a partir das orientações dos “Estudos sobre títulos” de trabalhos acadêmicos que se ocupam das estruturas sintáticas – compostas (dois segmentos separados por sinais gráficos), nominais (segmento único), frase gerúndio (segmento único, iniciada com verbo no gerúndio), frase completa (segumento único, contendo verbos) e frase proposicional (segmento único e iniciada por uma preposição) (CHENG, 2012, p.6-8).

Na identificação dos objetos do conhecimento que substanciam o perfil de escopo desejado (a relação história/ambiente), analisamos a estrutura dos títulos com base nas “categorias gramaticais” da língua: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio (Bechara, 2019, p.161). Ao questionarmos hipoteticamente “O que você investiga?”, a resposta fornecida após o “investiga” (verbo) é um conjunto de palavras modificadoras (como os advérbios advérbio) e/ou especificadoras (como os adjetivos) e suas locuções ou adjuntos respectivos (adjunto adverbial e locução adjetiva, por exemplo).

Tomada a estratégia da pergunta hipotética, a resposta correspondente expressa no sintagma nominal que realiza o título “Uma história ambiental dos mananciais da Serra do Mar: o abastecimento de água para Curitiba (1870-1929)” (Cordeiro, 2008), por exemplo, é constituída pelos seguintes elementos: substantivo (“história) e núcleo central do sintagma/objeto; adjetivo (“ambiental”) e especificador imediato do núcleo do objeto; substantivo comum (“mananciais”); locução adjetiva (“da Serra do Mar”) e especificadora espacial de “mananciais” e, juntas (“mananciais da Serra do Mar”), especificadoras da “história ambiental”.

Considerando, ainda, hipoteticamente, o segundo elemento da estrutura do título (após o sinal de dois pontos) – “o abastecimento de água para Curitiba (1870-1929)” – como uma resposta à questão “O que você investiga?”, temos: o substantivo (“abastecimento”) e núcleo central do objeto; uma locução adjetiva (“de água”) e especificadora do núcleo “abastecimento”; outra locução adjetiva (“para Curitiba”) que também especifica o espaço/destino do “abastecimento”; e o adjunto adverbial (“1870-1929”) que indica o tempo/período do “abastecimento”.

Em linguagem epistêmica, quando empregamos a terminologia rüseneana, os substantivos que funcionam como núcleo central de qualquer elemento do título podem ser interpretados como “categorias” – termos que “não se referem diretamente a nenhum estado de coisas, mas estabelecem a qualidade histórica da mudança temporal dos estados de coisas”. Ex: “História ambiental” e “Abastecimento de água”.

Dentro da mesma orientação, os substantivos também funcionam como “conceitos históricos” (substantivos próprios), designando “estados de coisas do passado em sua ocorrência singular” (Rüsen, 2007, p. 93) quando lidos em comjunto com os respectivos  especificadores (e/ou modificadores), que indicam tempo, espaço, agência e demais circunstâncias. É assim que “história” (núcleo) e “História ambiental dos mananciais da Serra do Mar” (núcleo+especificadores/modificadores) podem ser ambos tipificados como objetos do conhecimento (naquele título analisado). É assim também que “abastecimento” (núcelo) e “Abastecimento de água para Curitiba (1870-1929)” (núcleo+especificadores/modificadores) podem, ambos, ser considerados objetos do conhecimento. A escolha do objeto em seu caráter isolado (núcleo do substantivo) ou agregado (núcleo+especificadores/modificadores), ou seja, a escolha de extrair dos títulos categorias ou conceitos históricos cabe ao analista dos títulos. As opções servem a objetivos distintos, embora complementares. A opção de quantificar e agrupar categorias fornece indícios, por exemplo, sobre padrões de disciplinaridade, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, enquanto a quantificação de conceitos históricos possibilita a identificação de domínios acadêmicos dentro da História, por exemplo, ou no interior das Ciências Ambientais.

O tratamento dos elementos que constituem as estruturas de títulos, contudo, não se encerra na identificação de categorias/conceitos históricos presentes nos títulos e subtítulos. É importante considerar a probabilidade de os autores tenderem a comunicar o objeto em progressão de complexidade direta (do núcleo aos modificadores/da categoria ao conceito histórico) ou inversa (dos modificadores aos núcleos/dos conceitos históricos às categorias). Por essa hipótese, autores mais claros e objetivos tenderiam a estruturar os títulos dos seus trabalhos de pós-graduação, progredindo do geral ao particular ou do particular ao geral. Essa disposição funcionaria dentro do primeiro segumento de título, dentro do segundo segmento de título e entre os dois segmentos de título (sendo o segundo, provavelmente, o especificador do primeiro). Fora desse movimento, há, porem, os casos de uso de metáforas e as tentativas infrutíferas (ou pouco raciocinadas) de inovação.

Para quantificar, agrupar e produzir inferências sobre o perfil dessas estruturas de título (um segmento/dois segmentos, estruturas compostas, nominais, de frase-gerúndio, de frase-completa, frases preposicionais ou metafóricas), bem como dos elementos que constituem cada segumento (núcleos/especificadores ou categorias/demarcadores circunstanciais) e, ainda, dos modos de progressão do título (geral-particular/particular-geral) e dos objetos que constituem subdomínio acadêmicos, seguimos as orientações clássicas da Estatística descritiva (Larzon; Betsy, 2015, p.37, 438). Essa disciplina nos fornece as categorias designadoras de número de ocorrências” (frequência), intervalos de ocorrência (classes em anos), a diferença entre os valores máximo e mínimo das classes (amplitude), relações mensuráveis entre as variáveis (correlações).

3. Resultados e discussão

3.1. Instâncias de produção e volumes de defesas

Um primeiro passo auxiliar à construção do perfil do domínio é conhecer a frequência da produção, a variação dos produtos ao longo do tempo e os centros responsáveis por viabilizar e validar as pesquisas que resultaram em teses e dissertações que incluem, nos títulos, os descritores “história” e “ambiente” e demais termos respectivamente lemantizados.

O gráfico 1 demonstra o crescimento progressivo do número de defesas de teses e dissertações que incluem a história, ambiente ao longo dos anos. Entre 1994 e 2005, os números foram baixos, refletindo o estágio inicial do campo, com apenas 1 a 5 defesas por período. A partir de 2006-2008, notamos uma expansão significativa, com o número de defesas aumentando para 8 e, posteriormente, para 14 entre 2009-2011. Entre 2012 e 2017, os valores se estabilizaram em torno de 13 defesas por período, culminando em um pico de 24 defesas em 2018-2020. No período mais recente (2021-2024), o número caiu para 17, mas permanece elevado, evidenciando a consolidação dos nexos entre história e ambiente como um domínio relevante, interdisciplinar instituído na academia.

Gráfico 1. Volume de defesas de teses e dissertações

Quanto ao gênero textual, a análise evidencia comportamentos distintos no número de defesas por ano. As dissertações apresentam um desenvolvimento mais consistente e gradual, com baixos números até 2006, seguidos por um crescimento significativo, atingindo um pico em 2011 (9 dissertações) e mantendo valores estáveis entre 2012 e 2020, com um novo pico em 2020 (7 dissertações). As teses, por outro lado, mostram uma trajetória mais irregular, com números baixos ou nulos até 2002, quando registram um aumento pontual (3 teses), seguido por oscilações. O pico ocorre em 2021, com 8 teses defendidas, mas os números caem nos anos subsequentes. A correlação entre as curvas mostra que, enquanto as dissertações refletem maior volume e consistência ao longo dos anos, as teses apresentam picos específicos, como em 2021, quando ambas registraram altos valores (3 dissertações e 8 teses), sugerindo um alinhamento temporal no interesse acadêmico.

A análise da distribuição das defesas também mostra uma forte concentração nas regiões Sudeste e Sul, com contribuições significativas, embora mais limitadas, das demais regiões. O Sudeste lidera a produção acadêmica, com 41 defesas (35% do total), sendo os estados de Rio de Janeiro (21) e São Paulo (16) os maiores produtores. O Sul aparece como a segunda região mais produtiva, com 35 defesas (30%). O Rio Grande do Sul lidera a produção regional, com 18 trabalhos defendidos, seguido por Santa Catarina, com 11, e Paraná, com 6. O Centro-Oeste apresenta 13 defesas (11%), com Goiás liderando, com 9 defesas, seguido pelo Distrito Federal (3) e Mato Grosso (1). No Nordeste, com 17 defesas (14%), a Paraíba lidera, com 6 trabalhos defendidos, seguida por Pernambuco (3), Ceará (2), Bahia (2) e Maranhão (1). Por fim, o Norte conta com 11 defesas (9%), com destaque para Pará e Rondônia, ambos com 3 trabalhos, seguidos por Amazonas (2) e Tocantins (1).

Contabilizando as instituições, constatamos uma concentração significativa em centros consolidados de pesquisa. Instituições de Alta Frequência, como UFSC e UFRJ (9 trabalhos cada), seguidas pela UERJ (6), lideram em produção acadêmica. Na Média-Alta Frequência, destacam-se USP, UFCG, UNESP e UEG, com 5 trabalhos cada, refletindo envolvimento significativo no tema. A Média-Baixa Frequência inclui universidades como UFRGS, UFRO e UFFS, com 3 trabalhos cada, indicando relevância, mas com menor expressividade. Já a Baixa Frequência reúne instituições com até 2 trabalhos, como UEFS, PUC-SP, UNICAMP, entre outras, apontando menor participação relativa.

3.2. Estruturas sintáticas dos títulos

O segundo passo da análise na construção do perfil diz respeito às estruturas sintáticas dos títulos. A análise da Tabela 1 demonstra a predominância da estrutura composta (78%), ou seja, por duas partes separadas por sinais gráficos de dois pontos (80), travessão, interrogação (1) e (equivocadas) vírgulas (7), secundada por uma menor presença da estrutura nominal (22%), isto é, a inserção de substantivos precedidos ou seguidos por modificadores em um mesmo e único segmento de texto. Dentro das estruturas compostas, encontramos um caso de frase gerúndio e um caso de frase questão, apenas. Este resultado confirma estudos anteriores que revelaram a predominância das sentenças compostas em disciplinas de Artes e Humanidades (Hartley, 2007), inclusive Linguística (Cheng, 2012).

Tabela 1. Estruturas sintáticas dos títulos de teses e dissertações.

Estruturas Frequências Porcentagem (%)
Composta 87 78%
Nominal 25 22%
Total 112 100%

Produzido pelos autores

A prevalência de títulos compostos sugere a preferência dos autores por anúncios com progressão do geral para o particular e do mais abstrato ao mais concreto, indicando circunstâncias nas quais os fenômenos estudados ocorrem (tempos e espaços) e/ou são abordados (fontes e métodos), como neste exemplo: “Do lixão ao aterro: uma história socioambiental de Guarapuava/PR (1971-2011)” (Cunha, 2011), onde “Uma história socioambiental” é o núcleo, “Garapuava/PR” é o especificador de espaço e “(1971-2011) é o especificador de tempo. Títulos compostos  também pode indicar a preferência dos autores pelo anúncio da abordagem e dos beneficiados com a pesquisa. Em “A história ambiental como construção social e histórica: uma proposta para o ensino de história em Marabá-PA” (Reis, 2022), por exemplo, o caráter socio-historico da história ambiental especifica teoria-método e o “ensino de história” especifica os destinatários e a função com a implícita presença de professores e alunos da escolarização básica.

Já a presença de títulos com estrutura nominal pode sugerir a preferência dos autores por comunicações mais sintéticas e objetivas, iniciando ou finalizando com o núcleo substantivo do objeto do conhecimento, como em: “História ambiental da Erva-Mate (Gerhardt, 2013), ou informando marcadores contextuais (tempo/espaço) da pesquisa: “Uma história ambiental das florestas nacionais de Três Barras e Chapecó (1944-2000)” (Ribeiro, 2023). 

3.3. Constituintes dos títulos compostos e nominais

Um terceiro passo para perfilar os títulos é aprofundar a tipificação, avançando para o exame de semelhanças e diferenças entre estruturas no que diz respeito aos elementos funcionais no interior de cada segmento de título (núcleo e especificadores do núcleo) e estilo (realista e metafórico).

Considerando apenas os títulos de estrutura composta, percebemos o Segmento I é dominado por núcleos do objeto (56%), enquanto o Segmento II concentra termos responsáveis por especificar/modificar o foco do estudo (55%). Ampliadores aparecem mais no Segmento I (17%) e têm presença reduzida no Segmento II (1%), sugerindo maior prioridade para precisão e especificidade nessa parte final.[3] Nos títulos nominais, evidentemente, núcleos e especificadores estão juntos.

O emprego da linguagem mais realista ou mais metafórica também distingue títulos compostos dos títulos nominais. A maioria dos títulos que expressam o núcleo do objeto no Segmento II reserva o primeiro segmento para a apresentação de metáforas que servem a vários fins. Elas podem ampliar do núcleo, como neste caso: “Os jardins suspensos do Morro da Babilônia: o Multirão de Reflorestamento na perspectiva da História Ambiental urbana (1955-2015)” (Barbosa, 2020); podem expressar literaridade ao texto, sem ampliar ou especificar o núcleo: “Rio acima, rio abaixo: uma história socioambiental do rio Grangeiro (Lima, 2016). Além disso, a metáfora pode pode reforçar a questão, a tese ou a causa, como nesses respectivos exemplos: “Do que falam as margens? A história ambiental do Rio Muriaé” (Dias, 2017); “Natureza corrigida: uma história ambiental dos pomares de macieira do Sul do Brasil (1960-1990); “Depois que o café acabou: Biogeografia e História ambiental de remanescentes florestais do Vale do Rio Paraíba do Sul (RJ e SP) (Souza, 2021). Outros usos, por fim, reforçam a comunicação da tese com expressões persuasivas coletadas nas fontes primárias: “A gente comeu gelo!”: percepções da Grande Geada à luz de uma história ambiental (Paraná, 1975) (Rodrigues, 2022).

Essa presença de metáforas no primeiro segmento e a automática disposição do núcleo do objeto no segundo parece uma tendência reforçada pela análise dos elementos constituintes dos títulos de estrutura nominal. Nenhum deles usa palavras ou expressões metafórias. A presença do especificador de tempo, por outro lado, parece assemelhar títulos dos dois tipos. Tanto nos compostos como nos nominais, cerca de 28% dos títulos apresentam indicador de duração ou recorte temporal, por extenso ou em números cardinais.[4]

3.4. Densidade lexical

Um quarto passo da nossa análise de títulos diz respeito ao exame da densidade lexical, ou seja, a análise da “quantidade de informação transmitida por um título” traduzida na proporção entre palavras substantivas (substantivos, verbos, adjetivos, advérbios, numerais indicadores de tempo) e palavras funcionais (artigos, pronomes, preposições e conjunções). No exame do nosso corpus, como apresentado na Tabela 2, constatamos ligeira proeminância das palavras substantivas (52%) sobre as palavras funcionais (48%).

Tabela 2. Tipo de palavras e densidade lexical.

Tipo de palavra Frequências Porcentagem (%)
Palavras funcionais 322 48%
Palavras substantivas 343 52%
Total 665 100%

Produzido pelos autores

Esse resultado fica abaixo dos exame de palavras de título na área de Linguística, se considerarmos o princípio defendido por L. Zhijun e X. Jinfen (2008, p.1623) de que a maior proporção de palavras substantivas sobre as funcionais indica maior densidade lexical e, consequentemente, maior teor informativo atribuído aos títulos. No caso em análise – História e Ciências Ambientais – a densidade lexical é de 52%, bem abaixo da referida área que vai de 63% a 66% (Zhijun, 2008, p.1626).

Tabela 3. Função das palavras substantivas no título.

Função das palavras substantivas Frequências Porcentagem (%)
Núcleos do objeto 322 48%
Especificadores no núcleo do objeto 343 52%
Total 665 100%

Produzido pelos autores

Traduzindo as palavras substantivas (adjetivo, verbo, advérbio e substantivo) e estruturdoras do título (objeto/especificador) em palavras epistêmicas (demarcadores de agência, tempo, espaço e circunstâncias) e, ainda, considerando os números totais de palavras colhidas em títulos compostos e nominais, constatamos a proeminência dos termos que expressam os especificadores do núcleo do objeto do conhecimento (62%) sobre os termos que designam o núcleo do objeto do conhecimento (38%).

Os termos indicadores de núcleo formam, predominantemente, a expressão “história ambiental” (25%), seguindos por termos designadores de outros fenômenos (urbanização, mineração, preservação etc.) (13%). Já os indicadores de especificação dos objetos estão equilibrados entre dois níveis: o binômio “entidade” (populações negras, mata atlântica…) (21%) e “espaço (cidade de Porto Velho, litoral fluminense, por exemplo) (19%) e  as indicações sobre duração (século XIX e 2004-2017) (9%) e considerações teórico-metodológicas (empregos da Teoria da complexidade e da Etnografia) (8%).

3.5. A natureza dos objetos

Já vimos que os objetos do conhecimento podem figurar no primeiro ou no segundo segmento dos títulos, no caso das estruturas compostas ou constituir todo o título, sem a presença de metáforas, no caso das estruturas nominais. O exame desses núcleos fundamenta o quinto, último e privilegiado passo para produção de um perfil sobre a presença da relação “história”/”ambiente”. Os núcleos indicam os fenômenos tomados como estudo e fornecem indícios de níveis de complexidade, traduzidos mediante a quantidade de fenômenos e o tipo de relação sugerida entre os mesmos. Lidos junto aos modificadores em termos de meios/perspectivas, agentes, tempos e espaços, os títulos podem comunicar traços ideológicos e epistemológicos que estruturam domínios da História e das Ciências Ambientais e, no caso destacado até o momento, que estruturam um domínio intitulado “História ambiental”.

Os núcleos também nos possibilitaram a separação dos usos concentrados de “história” e “ambiente” e os usos dispersos de “história” e “ambiente”. O primeiro uso ganha a forma de “história ambiental”, enquanto o segundo aparece como “história” e “histórico(s)” relacionado à “ambiente”, “meio ambiente”, “ambiental” e “socioambiental.”

3.5.1 Usos de “história ambiental”

Em termos de frequência de substantivos, como adiantamos, chama a atenção a dominante presença da expressão “história ambiental” na condição de núcleo dos objetos. “História ambiental está presente em 83 dos 112 títulos da nossa amostra, sendo 76% nos títulos compostos e 80% dos títulos nominais. Isso indica que o uso de “história” e “ambiente” nos títulos de teses e dissertações na forma de “história ambiental” é a maior preocupação dos pós-graduandos, ou seja, a principal meta dos seus trabalhos é examinar o ambiente em sua historicidade (fazer história ambiental) ou examinar elementos circunscritos às categorias ambiente ou meio ambiente sob perspectivas de uma história ambiental.

 

Quadro 1. Situação da categoria “História ambiental” nos títulos de tese e dissertação

O Quadro 1 é uma amostra ilustrativa e privilegiada dos 83 sintagmas nominais que constituem títulos de teses e dissertações com a inserção de “história ambiental”, seja no primeiro (ou único) segmento, seja no segundo segmento. Contabilizando porém a totalidade dos casos (83), analisamos como a categoria “História Ambiental” é tratada sintaticamente, destacando os diferentes graus de especificação. Esses resultados refletem implicações epistêmicas significativas, indicando que, em todos os 83 casos, “História Ambiental” aparece como núcleo do sintagma nominal e representa o objeto principal de estudo. A forma como o núcleo é especificado (ou não) revela os diversos modos pelos quais os autores tratam a categoria, variando desde a ausência de modificadores até combinações complexas de pré e pós-modificação.

Em números absolutos, observa-se que o núcleo é predominantemente pós-especificado, aparecendo acompanhado de complementos nominais ou locuções que delimitam lugar, tema ou tempo. A pós-especificação por complemento nominal/lugar é a forma mais comum, com 10 ocorrências, como neste exemplo: “História ambiental do alagado do Piry de Jussara, Belém-Pa” (Silva, 2021). Em seguida, aparecem os casos de pós-especificação por complemento nominal/tema e por complemento nominal/lugar e tempo, revelando que as modificações complexas, apesar de refletirem a busca por contextualizações mais profundas, são menos frequentes nos títulos: “História ambiental do Agroecossistema do café no norte do Paraná (1945-1975)” (Mores, 2017). Epistemicamente, estes números revelam que a “história ambiental” (mesmo não antecidida por artigos) é tida, dominantemente, como narrativa (representação do objeto em sua historicidade), ou seja, um produto de domínio disciplinar homônimo.

A pré-modificação também desempenha um papel relevante, especialmente quando combinada com pós-modificação. Pré-especificadores como artigos definidos e indefinidos aparecem em 27% dos casos, mostrando que os autores frequentemente tratam “História Ambiental” como algo delimitado no discurso acadêmico, um compromisso, provavelmente, com a pluralidade da interpretação sobre o passado, como se os autores quizesseem comunicar: “esta é apenas uma história, dentre as várias possibilidades de representação do problema em sua historicidade”. A pré-especificação combinada com pós-especificação – como em: “História ambiental e siderurgia em São João de Ipanema no século XIX (Rodrigues Neto, 2011) – ocorre em 6 ocasiões, representando um esforço para situar simultaneamente o núcleo no espaço-tempo e em contextos temáticos.

Os casos de coordenação do núcleo com outros elementos, como em “História ambiental e o Ensino das Ciências da Natureza e suas tecnologias” (Oliveira, 2023), apesar de menos frequente (5 ocorrências), destacam, não raro, um explícito diálogo epistêmico com outras disciplinas, integrando a categoria a domínios como a História Indígena, Etnoecologia, Geografia, Ensino de História, Ensino de Ciências Naturais. Também indicam diálogo entre domínios, com benefícios para a História ambiental ou para conceitos-problema como: desenvolvimento, paisagem, espacialidade ou ainda setores da produção como a siderurgia e a fruticultura.

Epistemologicamente, portanto, os resultados destacam que “História Ambiental” é um conceito central, raramente tratado como genérico ou isolado. A predominância de especificações pós-modificadoras indica que os autores buscam contextualizar a área em termos geográficos, temáticos, de meio/abordagem e de agência.

3.5.2. Usos de história, ambiente e respectivos termos lemantizados

Além do emprego predominante de história e ambiente como “história ambiental”, os título apresentam outras possibilidades em menor escala. O termo “socioambiental”, por exemplo, apresenta funções variadas, sendo usado como núcleo em 50% dos casos, como adjetivo que qualifica o núcleo em 33,3%, e como complemento nominal em 16,7%. Quando funciona como núcleo, como em “Projeto Casa Verde Socioambiental” (Cunha, 2011) ou “Do lixão ao aterro: uma história socioambiental” (Cunha, 2011), o termo é central para o título, destacando diretamente a integração entre aspectos sociais e ambientais como tema principal. Quando é utilizado como adjetivo qualificativo, como em “História espacial do Arroio Dilúvio: uma análise socioambiental” (Bublitz, 2019), o termo especifica uma abordagem metodológica focada na inter-relação entre sociedade e ambiente. Em casos onde atua como complemento nominal, como em “Uma história socioambiental da Alemanha”, ele delimita o escopo do núcleo, indicando que o enfoque socioambiental é um elemento básico dentro de um contexto maior. Esse uso variado reflete a relevância do termo na academia, seja como tema principal ou como abordagem específica de estudos integrados entre fatores sociais e ambientais.

Outro termo citado é “ambiental”/”ambientais”. Ele é utilizado como adjetivo qualificativo (64.3%) em títulos acadêmicos, a exemplo de: “desastre ambiental” ou “educação ambiental”. Neste caso, “ambiental” delimita o núcleo (“desastre”) com uma dimensão temática ligada ao meio ambiente. Também aparece compondo núcleos coordenados (21.4%), como em “fatores históricos e ambientais sobre a composição e diversidade de assembléias de Lagartos” (Peixoto, 2019), destacando análises integradas entre meio ambiente e outras variáveis causais. Embora menos frequente, o termo pode atuar como complemento nominal (7.1%), especificando o núcleo, ou como adjetivo metodológico/teórico (7.1%), como em “um enfoque ambiental da história de uma obra inacabada” (Boaventura, 2002), indicando uma perspectiva analítica. Esse uso diversificado reflete a centralidade do meio ambiente em estudos que abordam suas interseções com história, educação, geografia e outros campos.

O termo “meio ambiente” é amplamente empregado como parte de núcleos coordenados (80%), em títulos como “História, cultura e meio ambiente” (Carignatto, 2010) ou “História econômica e meio ambiente” (Muniz, 2004). Em menor frequência (20%), aparece como complemento nominal, como em “Interferência da política no meio ambiente” (Mota, 2019), especificando o tema ou objeto central de uma ação. Essa análise demonstra a versatilidade do termo nos estudos acadêmicos, frequentemente associado a perspectivas interdisciplinares.

Macacarecuias no Parque Nacional do Jaú-AM | Imagem: Carlos Sanches//CurtaBiodiversidade

Os termos “história” e seus derivados, por fim, aparecem 17 vezes (em 29 títulos que não empregam “história ambiental”), enquanto “ambiente” e seus derivados aparecem 15 vezes nos títulos analisados, frequentemente, em relações de causa/consequência, integração/interseção, contextualização e descrição. As relações comuns são as de causa/consequência, como no já citado “História da interferência da política [agente] no meio ambiente [paciente]”; de integração/interseção, como em “História, cultura e meio ambiente”. Já em contextos como “Enfoque ambiental da história de uma obra inacabada”, o meio ambiente é uma perspectiva para compreender eventos históricos. Por fim, em descrições como “Aspectos históricos e ambientais”, os termos são usados paralelamente para categorizar características específicas.

Esses padrões também revelam a interdisciplinaridade dos estudos, explorando conexões entre o humano e o natural, nos encontros entre Ensino de História e meio ambiente, História da Educação e ambiente, História política e ambiente, História evolutiva e Avaliação ambiental e História socioambiental e trajetória do movimento ambientalista. Surpreendentemente, contudo, o termo “natureza” somente apareça em 4 títulos, além de um uso metafórico – “Natureza corrigida” e de dois usos para designar domínios acadêmicos das “Ciências da Natureza”.

3.5.3. Alvos, tempos e espaços das relações entre história e ambiente

Os mesmos dados que serviram às inferências do tópico anterior (3.5.2) servem para dar respostas às questões que tratam de agentes, tempos e espaços. Em primeiro lugar: Quem é alvo da história ambiental ou de quem é a história ambiental anunciada?

Quando analisada a relação entre os complementos nominais e os modificadores realizados em coisas (conceitos, fenômenos e artefatos) e agentes (pessoas individualmente, coletivamente ou instituições), constaramos que a maioria dos complementos, cerca de 71%, pertence à categoria de coisas, incluindo fenômenos agrícolas, ambientais e culturais, como “do Agroecossistema do café” e “das transformações das paisagens”, além de artefatos tecnológicos, como “do mineroduto Minas-Rio”. Conceitos e experiências, com as dos setores econômicos “da indústria madeireira” e “do saneamento”, também estão presentes, refletindo as interações humanas com o meio ambiente. Por outro lado, os agentes, que correspondem a 28,5% dos complementos, incluem grupos sociais e coletividades, como indígenas Guarani, jesuítas, comunidades quilombolas, populações negras,  e instituições como Unidades de Conservação”.

De quando é a história ambiental anunciada? A análise dos 25 indicadores de tempo revelou que 12% deles correspondem a eventos de curta duração (1 a 10 anos), como “1968-1974” (6 anos), a “década de 1980” (10 anos) e “1975” (1 ano). A maior parte, 44%, refere-se a períodos de duração conjuntural (11 a 100 anos), incluindo exemplos como “1945-1975” (30 anos), “1960-2010” (50 anos) e “1733-1790” (57 anos). Finalmente, 44% abrangem períodos de longa duração (mais de 101 anos), como “séculos XVII e XVIII” (cerca de 200 anos), “entre os séculos XVII e XX” (aproximadamente 300 anos) e “1585-2014” (429 anos). Essa distribuição mostra um equilíbrio entre os períodos conjunturais e de longa duração, enquanto eventos de curta duração são menos representativos na temática abordada.

Por fim, enfrentemos a última questão do tópico e deste artigo: Quais são os cenários da história ambiental anunciada? A análise dos lugares mencionados revelou que a maioria faz referências a estados (20%), como Goiás, Rio Grande do Sul, e Pernambuco, demonstrando uma abordagem ampla em termos regionais. Acidentes geográficos aparecem em seguida (17,5%), incluindo o Vale do Rio Paraíba do Sul, Serra do Mar e Rio Muriaé, destacando a relação entre elementos naturais e a história ambiental. Cidades (15%) e municípios (10%), como Campina Grande, Porto Velho e Águas Lindas de Goiás, refletem uma atenção a contextos locais específicos, enquanto regiões trans e intra estado (10%), como o Alto Uruguai e a Ecorregião Norte-Noroeste Fluminense, indicam delimitações intermediárias entre local e estadual. A categoria país (2,5%) inclui apenas o Brasil, mostrando que o enfoque nacional é menos frequente comparado às escalas locais e regionais.

Conclusões

A análise dos títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas entre 1999 e 2024 confirma a crescente relevância do diálogo interdisciplinar entre história e meio ambiente na academia brasileira, evidenciando um domínio de pesquisa que responde às demandas contemporâneas por reflexões sobre as relações entre sociedade e natureza.

Essa constatação foi possível mediante a associação de estratégias e princípios provenientes dos estudos de Língua Portuguesa, Teoria da História, Análise de Conteúdo e Análise de Títulos e Estatística descritiva. Com eles, demonstramos que os objetos do conhecimeento nos títulos podem aparecer no primeiro ou no segundo segmento e são frequentemente ampliados ou detalhados, dependendo da estrutura adotada. A ampliação, geralmente representada por um substantivo (categoria), e o detalhamento, por substantivos complementados por adjetivos, advérbios e numerais cardinais que indicam agentes, modos de abordagem, qualidades, tempos e espaços. A metáfora, por sua vez, pode ser usada tanto para ampliar quanto para detalhar, mas nunca atua como núcleo. O núcleo, por sua natureza, pode ser simples, constituído por um único substantivo, ou composto, formado por vários substantivos que podem expressar relações de causa e consequência, oposição ou soma (agregação), ampliando a complexidade semântica do título.

No que diz respeito aos resultados propriamente ditos, constatamos a predominância do termo “história ambiental”, presente em 74% dos títulos analisados. Esse fato reflete a consolidação do conceito que desempenha múltiplos papéis: como domínio do conhecimento consolidado (39%), narrativa aplicada (26%), ferramenta interdisciplinar passível de aprimoramento (17%), campo acadêmico autônomo (14%) e até mesmo expressão com significado autoevidente (1%).

Quando não mencionam a categoria “história ambiental”, os títulos que exploram as relações entre história e ambiente e termos lemantizados comunicam dinâmicas de integração/interseção (como em “História, cultura e meio ambiente”), contextualização (como em “Enfoque ambiental da história de uma obra inacabada”) e causa/consequência (como em “História da interferência da política no meio ambiente”). Tais abordagens evidenciam a complexidade das interações entre sociedades humanas e sistemas naturais, reforçando a interdisciplinaridade do domínio.

No que diz respeito aos alvos, a maioria dos estudos centra-se em fenômenos agrícolas, culturais, ambientais e tecnológicos, enquanto uma parcela menor destaca agentes humanos, como comunidades indígenas e quilombolas, ou instituições. Temporalmente, os trabalhos abrangem desde eventos de curta duração (12%) até períodos de longa duração (44%), refletindo uma abordagem multiescalar com rara preocupação em termos nacionais. Regionalmente, os estudos mostram um equilíbrio entre análises locais e transrregionais, com 20% dos títulos focados em estados e 17,5% em acidentes geográficos.

Como anunciado na introdução, por fim, a análise de título enfreta limitações de natureza intrínseca ao elemento, como o caráter sintético e, em alguns casos, abstrato dos termos empregados e a possível discrepância entre o que os autores anunciam e aquilo que efetivamente constróem no decorrer da pesquisa. Contudo, esse tipo de exame de conteúdo viabiliza revisões que, como esta, se ocupam da construção de perfis abrangentes que revelem o lugar da relação das categorias “história” e “ambiente” e, sobretudo da categoria “história ambiental” um domínio consolidado nas Ciências Ambientais e na História. Estudos com este, por fim, dão visibilidade ao potencial da história ambiental para compreensão do atual momento de crise ambiental global, subsidiando a construção de soluções sustentáveis para o futuro, considerando as vantagens das visões em perspectiva temporal. 

Notas

[1] Segue a totalidade das áreas, além de História, História do Brasil e Ciências Ambientais: Agronomia (1), Antropologia (1), Arquitetura e Urbanismo (2), Botânica (1), Ciência da Informação (1), Ciências e Humanidades para a Educação básica (13), Ecologia aplicada (1), Educação (5), Engenharia sanitária (1), Ensino (8), Ensino de Ciências e Matemática (2), Extensão rural (1), Fisiologia (1), Geociências (1), Geografia (26), Interdisciplinar (1), Planejamento urbano e regional (2), Recursos florestais e Engenharia florestal (2), Saúde e Biológicas (1), Sociais e Humanidades (1), Sociais, culturas e humanidades (21), Sociologia (3) e Zoologia (2).

[2] Segue a lista de grupos, acompanhados de ano de formação, área do conhecimento e instituição sede: Estudos da Memória, Patrimônio Cultural, Ambiental e Ensino de História – 2015, /História (UEMS), Fronteiras: Laboratório de História Ambiental – 2018/História (UFFS), Grupo de Estudo e Pesquisa em História Ambiental – 2006/História (UNESC), História Regional e Patrimônio Ambiental – 2020/Ciências Ambientais (UNITAU), História, Água e Meio Ambiente – 2016/História (UFMS), Laboratório de História, Ciências e Ambiente -2022/História (UEM), Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental – 1992/História (UFSC), Meio Ambiente, Saúde e Alimentação na História – 2023/História (UNESP), Pré-História, Evolução e Paleoambiente – 2020/Arqueologia (UFPR).

[3] Os elementos não classificados são mínimos (7% no Segmento I e 2% no Segmento II), demonstrando que os títulos seguem uma estrutura bem definida.

[4] Nos compostos, somente 6% informam duração ou escala, seja por extenso ou em numerais cardinais.

Referências

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Autora

Jane Semeão é doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA) e editora do bolg Resenha Crítica. Um “oásis” chamado Cariri: Instituto Cultural do Cariri, natureza, paisagem e construção identirária do sul cearense (1950-1970) e “O que a Austrália tem  nos ensinar?“ O Tempo Presente nos programas de História produzidos pela Australian Curriculum and Assessment Authority – ANCARA (2008-2013). ID: LATTES:  ID ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6804-1640. E-mail: janesemeão@globo.com.


Para citar este artigo

SEMEÃO, Jane. História e Ambiente: uma análise dos títulos de teses e dissertações brasileiras defendidas no período 1999-2024. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.20, nov./dez., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/mudancas-no-setor-viageiro-resenha-de-almir-oliveira-ufrn-sobre-o-livro-the-history-and-evolution-of-tourism-organizado-por-prokopis-a-christou/>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.20, nov./dez., 2024 | ISSN 2764-2666

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