Memórias de Alexandra — Resenha de Anny Luiza Gomes Melo Santos (UFS) e Fabiana Manuela Batista Vasconcelos (UFS) sobre o livro “Fragmentos de memórias”, de Alexandra Brito
Resumo: Fragmentos de memória, de Alexandra Brito, publicado em 2021, é uma autobiografia focada na infância da autora, explorando memórias marcantes com sensibilidade e simplicidade. Embora ofereça uma visão multifacetada da vida de Brito, a obra é criticada por lacunas informativas e uso excessivo de reticências, que podem dificultar a compreensão e o engajamento do leitor. A estrutura não-linear do livro destaca momentos importantes da vida da autora, potencialmente servindo como recurso didático.
Fragmentos de memória, como explicita o título, é uma memória autobiográfica escrita por Alexandra Brito, publicada pela editora EDISE, em 2021, na cidade de Aracaju-SE. Com uma apresentação emocionada, escrito por Magna Santana, radialista e “irmã de alma” da autora, a publicação tem como objetivo descrever a vida de Alexandra Brito na sua infância, explorando suas memórias mais profundas e marcantes. Com sensibilidade, empatia, leveza e simplicidade, a obra tem um valor inicial que reflete a riqueza da história pessoal de Alexandra Brito. O prefácio é assinado pela escritora especialista em inteligência emocional, Gilmara Gonçalves. Ela destaca que a autora “nos presenteou com uma criança pura e feliz” (p.12), capaz de nos fazer imaginá-la com um sorriso no rosto, transmitindo toda a inocência e alegria de um passado que se tornou inesquecível.
Alexandra Brito é natural da cidade serrana de Itabaiana. Estudou em diversas instituições de ensino, incluindo o Educandário Nossa Senhora da Purificação, os Colégios Tobias Barreto, Atheneu e Unificado. Formada em Jornalismo pela antiga Faculdade Tiradentes (atual Universidade Tiradentes), ela também foi professora nessa instituição. Ao longo de sua carreira como jornalista, atuou em várias redações, incluindo a da Tv Sergipe, Tv Aperipê, Jornal da Cidade, Correio de Sergipe e Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro). Brito também participou da criação do serviço de som “Alô Comércio”, ao lado de Magna Santana e outros colegas de profissão. Além disso, trabalhou na assessoria de imprensa e comunicação da Âncora Comunicação, prestando serviços para instituições como a Secretaria de Saúde de Aracaju e a Câmara Municipal de Aracaju.
Essa experiência, evidentemente, não está descrita no livro, que trata apenas da infância da autora. A obra é estruturada em 24 breves capítulos, que se distribuem por 57 páginas. Tão pouco espaço para cada texto à coerência ao título (Fragmentos). As breves unidades descrevem logradouros (“Casa na rua da Glória” e “O mercado”), hábitos (“Tarde de muita brincadeira”, “Banho na prainha”), imaginário (“Papa-figo”), acontecimentos (“Salvando a irmã”) e pessoas próximas (“Dona Punina” e “Eliezer e Netinha”) da sua vivência, muito provável, em Aracaju. O livro é ilustrado com duas fotografias das primeiras residências da autora e de um desenho que expressa o incidente “Enganchada no banco”:
Numa tarde como outra qualquer, a menininha estava brincando e resolveu virar o banco de cabeça para baixo e se enfiou nele, que tinha virado, na imaginação dela, um carro. Ela enfiou as perninhas curtas entre o fundo do assento e uma ripa de madeira que segurava os quatro pés, um ao outro. […] No ápice do desespero, a menininha se ajeitou e conseguiu sair sozinha, simples assim, do mesmo jeito que tinha se encaixotado. A mãe quando viu, entre lágrimas, estava dividida entre o alívio e a vontade de dar umas palmadas na pequena pela arte que aprontou… Mas essa foi apenas uma das muitas que, não só a garotinha de três anos aprontou… outra foi entrar num pote de barro, para tomar banho… kkkkkk
Embora “Fragmentos de Memórias” apresente uma abordagem multifacetada da infância da autora, algumas lacunas e ausências de informações importantes podem ser considerados desvalores da obra. Em alguns capítulos, a autora utiliza muitas reticências, sugerindo que há lacunas no texto ou deixando em aberto algumas questões importantes. Apesar de empregá-las, provavelmente, como figuras de retórica, seu uso é excessivo e pode provocar certo tédio.
A obra é rica em dados sobre logradouros e instituições, mas a ausência de informações mais precisas sobre o local e o tempo de alguns deles, além de o complemento de outros acontecimentos, como o destino da fábrica de colchões de palha ou sobre alguns amigos da autora, podem deixar o leitor com dúvidas ou impedir a construção do sentido de histórias apresentadas. Não sabemos, por exemplo, objetivamente, a cidade onde se passam as ocorrências narradas. Essas ausências de detalhes importantes podem afetar a compreensão e a apreciação da obra pelo leitor, além de impedir uma conexão mais profunda com as memórias e experiências da autora.
Por outro lado, a objetividade da obra permite que o leitor usufrua uma visão panorâmica e multifacetada da vida da autora, sem precisar se ater a uma narrativa linear e cronológica. Além disso, a escrita de Alexandra Brito é clara e concisa, facilitando a compreensão do leitor e destacando a importância dos momentos descritos. Ao descrever diversos aspectos da vida da autora, a obra estimula o leitor a refletir sobre sua própria história de vida.
Com base nas informações apresentadas no texto, é possível concluir que a autora atingiu o objetivo destacado na apresentação de “Fragmentos de Memória”. O livro é uma memória autobiográfica que explora as ocorrências e pessoas marcantes da infância da autora. É construída sob um texto sensível, empático, leve e simples. O livro pode, inclusive, servir como instrumento didático, ampliando as capacidades de leitura de um público infanto-juvenil.
Sumário de Fragmentos de memórias
- Apresentação
- Prefácio
- Casa na Rua da Glória
- Lepo-lepo
- O mercado
- Papa-figo
- Colchão de palha
- Noel da Madrugada
- Compadre carroceiro
- Banho na prainha
- Pirulito enfiado no palito
- Enganchada no banco
- Banho no pote
- Sob a cadeira
- Eliezer e Netinha
- Fazenda no Brito
- Dona Punina
- Cosme e Damião
- Tarde de muita brincadeira
- Ovos coloridos
- Festa para a menininha
- Salvando a irmã
- Tejo, o herói
- Casa da vó Zinha
- Cadê a casa?
- Salão de bilhar
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Resenhistas
Anny Luiza Gomes Melo Santos é graduanda em pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), bolsista Pibid (2020–2022) e bolsista no programa Residência Pedagógica (UFS). ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/2030476623280894; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0007-0847-2132; E-mail: annyluizagomes@gmail.com.
Fabiana Manuela Batista Vasconcelos é graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), bolsista Pibid (2020–2022), bolsista no programa Residência Pedagógica (UFS). ID Lattes: http://lattes.cnpq.br/0827453052415596; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0003-0301-9137; fabianavasconcelos2019@outlook.com.
Para citar esta resenha
BRITO, Alexandra. Fragmentos de memórias. Aracaju: Edise, 2021. 59p. Resenha de: SANTOS, Anny Liza Gomes Melo; VASCONCELOS, Fabiana Manuela Batista. Memórias de Alexandra. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.14, nov./dez., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/memorias-de-alexandra-resenha-de-anny-luiza-gomes-melo-santos-ufs-e-fabiana-manuela-batista-vasconcelos-ufs-sobre-o-livro-fragmentos-de-memorias-de-alexandra-brito/>.
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