Minas em Viagens – Resenha de Daniela Rollemberg Lopez Martinez (UFS) “História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930)”, de Inácio Botto
Resumo: História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930) explora as práticas de turismo na cidade de Juiz de Fora entre 1900 e 1930, analisando como a imprensa e as mudanças urbanas contribuíram para consolidar o turismo como parte da identidade local e da economia.
Palavras-chave: história do turismo; história local; Juiz de Fora-MG.
Em História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930), Inácio Botto busca “investigar as práticas de turismo” locais “a partir da imprensa”, empregando estratégias de Análise de Conteúdo. Para a prefaciadora, Valéria Lima Guimarães, o livro é original por “privilegiar o passado do turismo” e oferecer ao leitor “uma possível forma de leitura histórica da cidade de Juiz de Fora e do Brasil”. A obra destaca-se por sua “linguagem acessível”, pelo “uso criterioso do método histórico e das fontes de investigação” e pelo “referencial teórico e metodológico consistente” (Guimarães, p.8).
Inácio Botto é bacharel em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), bacharel e mestre em Turismo pela mesma instituição, e atua na região como guia turístico. Ele possui trabalhos publicados em periódicos especializados, discutindo, entre outros temas, a relação entre Turismo, Educação Patrimonial e mediação museal. O texto do livro resulta de uma dissertação de mestrado em Turismo, defendida na Universidade Federal Fluminense, sob a orientação de Valéria Guimarães, em 2023. A pesquisa integra o projeto “História e Memória do Turismo no Brasil e na América do Sul”. A obra explora as interseções entre história e turismo no contexto de Juiz de Fora, examinando como a cidade, em processo de modernização, utilizou a imprensa e as transformações urbanas para consolidar o turismo como parte de sua identidade e economia local.
Nos três capítulos, além da introdução e das considerações finais, o autor aborda as origens e os desdobramentos históricos do turismo, destacando a infraestrutura da época, como hotéis e pensões, que serviram como pontos estratégicos para acolher visitantes. Os atrativos turísticos, incluindo paisagens pitorescas e melhoramentos urbanos, ganharam notoriedade por meio de reportagens e anúncios na imprensa. Esportes, como os matches e os raides, são apresentados como práticas que estimularam o turismo, ampliando o deslocamento de pessoas e o interesse pelas atividades da região.
As excursões organizadas, como as promovidas pelo Automóvel Club e pelo Moto Club do Brasil, são analisadas como marcos da emergência das primeiras empresas de viagens na cidade e suas contribuições para o fortalecimento do turismo local. O autor também destaca a presença de figuras ilustres, como cientistas, a família imperial e viajantes renomados, cujas experiências em Juiz de Fora foram registradas em relatos e guias de viagem da época.
A análise da história do turismo em Juiz de Fora, contudo, apresenta algumas insuficiências. Na introdução, o autor não explicita uma motivação (social, acadêmica ou pessoal) para a construção da obra, deixando os objetivos para o final da seção. Problemas mais significativos aparecem no capítulo 3, como a imprecisão da expressão “turismo como comportamento social”, que gera contradições temporais. O autor situa o século XX como o locus da prática turística, mas apresenta relatos do século XIX, como as visitas do Imperador Pedro II e do fotógrafo Revert Henrique Klumb, além de registros do Almanak de Juiz de Fora, todos anteriores ao marco temporal anunciado.
Outro ponto crítico é a abordagem da “modernidade” como uma categoria autônoma e determinante. A modernidade é tratada como um agente que “atua” em Juiz de Fora, mas suas conexões com o Rio de Janeiro, onde práticas semelhantes se desenvolviam, são descritas superficialmente. Uma solução poderia ser a inclusão do Rio de Janeiro no título da obra.
A análise dos jornais locais também apresenta limitações. O tópico 3.1, “Imprensa, história e turismo em Juiz de Fora”, não explora criticamente os perfis dos colunistas, articulistas ou proprietários dos jornais. Isso enfraquece a análise sobre a influência da imprensa nas representações do turismo.
O diálogo com a literatura especializada é superficial. As citações indiretas sustentam as descrições da experiência turística em Juiz de Fora, mas ignoram as bases teóricas que explicam fenômenos como a emergência do futebol ou das corridas de automóveis e motocicletas (raides), tanto local quanto extra localmente, especialmente no Rio de Janeiro.
Avenida Rio Branco, em Juiz de Fora, 1928 (Arquivo de Ramon Brandão) | Imagem: Wikipédia
Por fim, a obra não esclarece se as categorias abordadas – lugares pitorescos, esportes, excursões e empresas de viagem – foram induzidas pela literatura especializada ou se refletem apenas as classificações presentes no jornal O Farol. O Farol, desconsiderando outras possibilidades, como turismo receptivo ou de eventos.
Apesar dessas limitações, a obra tem méritos. A introdução, ainda que sem um problema epistemológico claro, apresenta um comentário crítico sobre a historiografia de Juiz de Fora. O capítulo 2 oferece uma revisão de literatura abrangente sobre a história do turismo (2011-2021), um diferencial raro em dissertações de mestrado. Além disso, o autor mapeia fontes relevantes para futuros estudos verticalizados sobre turismo na cidade.
Concluindo, o livro cumpre parcialmente o objetivo de “investigar as práticas de turismo em Juiz de Fora a partir da imprensa” no período de 1900 a 1930. Os registros extrapolam os marcos temporais anunciados, e o jornal O Farol não é analisado em profundidade quanto à sua concepção de turismo. O texto, organizado tematicamente, aproxima-se mais de uma crônica do que de uma investigação histórica acadêmica. No entanto, é uma leitura essencial para quem deseja explorar a história do turismo com base em representações da imprensa em contextos urbanos.
Sumário de História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora, MG (1900-1930)
Introdução
Interfaces entre Turismo e História: uma revisão da literatura
1.Estudos e pesquisas sobre a História do Turismo
Excursões, viagens e turismo em Juiz de Fora: análise e discussão dos resultados
1. Imprensa, História e Turismo em Juiz de Fora
2. Cientistas, família imperial e viajantes em Juiz de Fora: relatos e guia de viagens.
2.1. Hotéis e pensões
2.2. Melhoramentos urbanos e o turismo
2.3. lugares pitorescos: os atrativos turísticos nas páginas da imprensa
2.4. Sports
2.4.1. Os matchs e as viagens
2.4.2. Os raids
2.5. Exclursões e empresas de viagens
2.5.1. A primeira empresa de viagens de Juiz de Fora
2.5.3. As excursões promovidas pelo Automóvel Club e Moto Club do Brasil
BOTTO, Inácio. História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora, MG (1900-1930). Juiz de Fora: Afra Cultural, 2024. 126p. Resenha de: MARTINEZ, Daniela Rollemberg Lopez. Minas em viagens. Crítica Historiográfica. Natal, v.19, set.-out., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/minas-em-viagens-resenha-de-daniela-rollemberg-lopez-martinez-ufs-historia-e-turismo-um-olhar-sobre-a-cidade-de-juiz-de-fora-mg-1900-1930-de-inacio-botto/>.
Minas em Viagens – Resenha de Daniela Rollemberg Lopez Martinez (UFS) “História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930)”, de Inácio Botto
Resumo: História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930) explora as práticas de turismo na cidade de Juiz de Fora entre 1900 e 1930, analisando como a imprensa e as mudanças urbanas contribuíram para consolidar o turismo como parte da identidade local e da economia.
Palavras-chave: história do turismo; história local; Juiz de Fora-MG.
Em História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930), Inácio Botto busca “investigar as práticas de turismo” locais “a partir da imprensa”, empregando estratégias de Análise de Conteúdo. Para a prefaciadora, Valéria Lima Guimarães, o livro é original por “privilegiar o passado do turismo” e oferecer ao leitor “uma possível forma de leitura histórica da cidade de Juiz de Fora e do Brasil”. A obra destaca-se por sua “linguagem acessível”, pelo “uso criterioso do método histórico e das fontes de investigação” e pelo “referencial teórico e metodológico consistente” (Guimarães, p.8).
Inácio Botto é bacharel em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), bacharel e mestre em Turismo pela mesma instituição, e atua na região como guia turístico. Ele possui trabalhos publicados em periódicos especializados, discutindo, entre outros temas, a relação entre Turismo, Educação Patrimonial e mediação museal. O texto do livro resulta de uma dissertação de mestrado em Turismo, defendida na Universidade Federal Fluminense, sob a orientação de Valéria Guimarães, em 2023. A pesquisa integra o projeto “História e Memória do Turismo no Brasil e na América do Sul”. A obra explora as interseções entre história e turismo no contexto de Juiz de Fora, examinando como a cidade, em processo de modernização, utilizou a imprensa e as transformações urbanas para consolidar o turismo como parte de sua identidade e economia local.
Nos três capítulos, além da introdução e das considerações finais, o autor aborda as origens e os desdobramentos históricos do turismo, destacando a infraestrutura da época, como hotéis e pensões, que serviram como pontos estratégicos para acolher visitantes. Os atrativos turísticos, incluindo paisagens pitorescas e melhoramentos urbanos, ganharam notoriedade por meio de reportagens e anúncios na imprensa. Esportes, como os matches e os raides, são apresentados como práticas que estimularam o turismo, ampliando o deslocamento de pessoas e o interesse pelas atividades da região.
As excursões organizadas, como as promovidas pelo Automóvel Club e pelo Moto Club do Brasil, são analisadas como marcos da emergência das primeiras empresas de viagens na cidade e suas contribuições para o fortalecimento do turismo local. O autor também destaca a presença de figuras ilustres, como cientistas, a família imperial e viajantes renomados, cujas experiências em Juiz de Fora foram registradas em relatos e guias de viagem da época.
A análise da história do turismo em Juiz de Fora, contudo, apresenta algumas insuficiências. Na introdução, o autor não explicita uma motivação (social, acadêmica ou pessoal) para a construção da obra, deixando os objetivos para o final da seção. Problemas mais significativos aparecem no capítulo 3, como a imprecisão da expressão “turismo como comportamento social”, que gera contradições temporais. O autor situa o século XX como o locus da prática turística, mas apresenta relatos do século XIX, como as visitas do Imperador Pedro II e do fotógrafo Revert Henrique Klumb, além de registros do Almanak de Juiz de Fora, todos anteriores ao marco temporal anunciado.
Outro ponto crítico é a abordagem da “modernidade” como uma categoria autônoma e determinante. A modernidade é tratada como um agente que “atua” em Juiz de Fora, mas suas conexões com o Rio de Janeiro, onde práticas semelhantes se desenvolviam, são descritas superficialmente. Uma solução poderia ser a inclusão do Rio de Janeiro no título da obra.
A análise dos jornais locais também apresenta limitações. O tópico 3.1, “Imprensa, história e turismo em Juiz de Fora”, não explora criticamente os perfis dos colunistas, articulistas ou proprietários dos jornais. Isso enfraquece a análise sobre a influência da imprensa nas representações do turismo.
O diálogo com a literatura especializada é superficial. As citações indiretas sustentam as descrições da experiência turística em Juiz de Fora, mas ignoram as bases teóricas que explicam fenômenos como a emergência do futebol ou das corridas de automóveis e motocicletas (raides), tanto local quanto extra localmente, especialmente no Rio de Janeiro.
Avenida Rio Branco, em Juiz de Fora, 1928 (Arquivo de Ramon Brandão) | Imagem: Wikipédia
Por fim, a obra não esclarece se as categorias abordadas – lugares pitorescos, esportes, excursões e empresas de viagem – foram induzidas pela literatura especializada ou se refletem apenas as classificações presentes no jornal O Farol. O Farol, desconsiderando outras possibilidades, como turismo receptivo ou de eventos.
Apesar dessas limitações, a obra tem méritos. A introdução, ainda que sem um problema epistemológico claro, apresenta um comentário crítico sobre a historiografia de Juiz de Fora. O capítulo 2 oferece uma revisão de literatura abrangente sobre a história do turismo (2011-2021), um diferencial raro em dissertações de mestrado. Além disso, o autor mapeia fontes relevantes para futuros estudos verticalizados sobre turismo na cidade.
Concluindo, o livro cumpre parcialmente o objetivo de “investigar as práticas de turismo em Juiz de Fora a partir da imprensa” no período de 1900 a 1930. Os registros extrapolam os marcos temporais anunciados, e o jornal O Farol não é analisado em profundidade quanto à sua concepção de turismo. O texto, organizado tematicamente, aproxima-se mais de uma crônica do que de uma investigação histórica acadêmica. No entanto, é uma leitura essencial para quem deseja explorar a história do turismo com base em representações da imprensa em contextos urbanos.
Sumário de História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora, MG (1900-1930)
Introdução
Interfaces entre Turismo e História: uma revisão da literatura
1.Estudos e pesquisas sobre a História do Turismo
Excursões, viagens e turismo em Juiz de Fora: análise e discussão dos resultados
1. Imprensa, História e Turismo em Juiz de Fora
2. Cientistas, família imperial e viajantes em Juiz de Fora: relatos e guia de viagens.
2.1. Hotéis e pensões
2.2. Melhoramentos urbanos e o turismo
2.3. lugares pitorescos: os atrativos turísticos nas páginas da imprensa
2.4. Sports
2.4.1. Os matchs e as viagens
2.4.2. Os raids
2.5. Exclursões e empresas de viagens
2.5.1. A primeira empresa de viagens de Juiz de Fora
2.5.3. As excursões promovidas pelo Automóvel Club e Moto Club do Brasil
BOTTO, Inácio. História e Turismo: um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora, MG (1900-1930). Juiz de Fora: Afra Cultural, 2024. 126p. Resenha de: MARTINEZ, Daniela Rollemberg Lopez. Minas em viagens. Crítica Historiográfica. Natal, v.19, set.-out., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/minas-em-viagens-resenha-de-daniela-rollemberg-lopez-martinez-ufs-historia-e-turismo-um-olhar-sobre-a-cidade-de-juiz-de-fora-mg-1900-1930-de-inacio-botto/>.
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