Resumo: Em História e Meio Ambiente: Tempo Passado, Tempo Presente, Márcio Mota Pereira investiga os vínculos entre eventos históricos e o meio ambiente. A obra é informativa, mas carece de coesão entre capítulos e apresenta abordagens teóricas inconsistentes.

Palavras-chave: história ambiental; preservação; impacto humano.

Márcio Mota Pereira | Imagem: xxxxxxxxxxxx

A coletânea História e meio ambiente: tempo passado, tempo presente”, organizada por Márcio Mota Pereira e lançada pela Editora Inovar em 2023, examina a relação entre os seres humanos e a natureza, destacando como essa interação moldou o ambiente atual. A obra objetiva investigar os vínculos entre eventos históricos e a natureza, proporcionando uma visão sobre a influência das ações passadas no mundo natural.

Márcio Mota Pereira, nascido em 1983 em Belo Horizonte, é historiador formado pela Universidade Federal de São João del-Rei, com mestrado pela Fundação Getúlio Vargas e doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Suas pesquisas abrangem temas como Educação, História Moderna, História Ambiental e Patrimônio. Em 2023, ele organizou a publicação desta obra, que está estruturada em cinco capítulos escritos por especialistas que dialogam com a História Ambiental, Preservação do Meio Ambiente e o Impacto das Atividades Humanas. Neste livro, o autor argumenta que as reflexões sobre a História Ambiental são fundamentais para compreendermos nossa relação com o meio ambiente e para projetarmos um futuro sustentável. Segundo o autor, entender esses aspectos históricos é crucial para desenvolver uma consciência ambiental que suporte a civilização em sua crescente dependência da natureza que nos circunda.

Os dois primeiros capítulos discutem a ligação histórica entre as políticas ambientais e as desigualdades sociais. O primeiro destaca a criação de leis, enquanto o segundo explora seus impactos desiguais em distintos grupos sociais. No primeiro capítulo, Márcio Mota Pereira destaca a evolução das políticas ambientais na Primeira República brasileira, enfatizando a importância das leis na proteção do meio ambiente. Já o segundo, escrito por Gabriela Silveira Alencar, discute como o racismo ambiental afeta desproporcionalmente as comunidades marginalizadas e como a economia ecológica pode ser uma ferramenta para abordar essas desigualdades.

O terceiro e quarto capítulo, discutem o impacto das atividades humanas no meio ambiente. Gabriela Silveira Alencar elucida o racismo ambiental, Aguinaldo de Jesus Moraes Marques e colaboradores abordam a contribuição da arqueologia para o conhecimento das práticas de manejo ambiental de civilizações passadas, e Jociele de Araújo Silva analisa os impactos da agropecuária na cobertura vegetal.

O quinto capítulo traz uma abordagem com foco na Preservação e na Memória. Escrito por Cheyenne de Oliveira Alencar e colaboradores, investiga como o cinema pode ser uma ferramenta poderosa para a preservação da memória histórica e ambiental, além de promover o turismo sustentável e o desenvolvimento regional.

O texto conecta-se com os capítulos anteriores ao explorar como a memória ambiental pode ser preservada e valorizada através do cinema, criando uma ponte entre passado, presente e futuras gerações, o que é um tema transversal em toda a obra.

Raimunda Gomes Cavalcante – Iñapiri/Peri – Mostra de Imagens da Memória/Cineamazônia 17a Edição. Imagem: Cineamazônia, 2020

Embora a obra aborde pontos importantes e alinhados com seu objetivo, falta integração entre as seções, que operam de forma independente, sem um fio condutor coeso. Essa desconexão obstrui a compreensão do leitor e enfraquece a mensagem geral. Uma possível estratégia para criar coesão seria a aplicação de progressões temporais entre os capítulos. Há também uma variação significativa na abordagem teórica e metodológica, com algumas seções detalhadas e outras mais superficiais. Um exemplo está na sugestão implícita no título e na apresentação de que os autores tratarão da História do Tempo Presente. No entanto, mesmo que cada capítulo exiba características dessa abordagem, como a proximidade temporal e as conexões passado-presente, eles não oferecem uma definição clara do Tempo Presente.

Ademais, a leitura da obra revela uma abordagem heterogênea entre os segmentos quanto à conceituação e utilização da história. Alguns autores discutem explicitamente história, metodologias históricas e historiografia. Eles destacam a importância das fontes primárias e da arqueologia para interpretar o passado ambiental. Os segmentos utilizam a história de maneira mais implícita. Dito isto, essa indefinição pode complicar a compreensão de leitores que não são especialistas na área, deixando subentendidas as metodologias e teorias que fundamentam suas análises.

O subtítulo do livro indica a ideia de que os especialistas discutirão a história e o meio ambiente em diferentes recortes temporais. Apesar de não ser uma proposta assinalada na apresentação, podemos apontar que os autores conseguem promover diversas discussões sobre os temas centrais do livro em diferentes momentos da história. Eles destacam como as práticas e políticas passadas moldaram o ambiente atual e ainda influenciam questões ambientais contemporâneas.

Outra intenção não explicitada pelos escritores foi a incorporação de diversas perspectivas que se entrelaçam com a história e o meio ambiente. Há nesta obra uma diversidade que enriquece a análise e permite uma compreensão ampla, interdisciplinar e multifacetada da temática proposta ao conversar com a arqueologia, a economia e o cinema.

Dito isto, esta é uma obra que atende ao seu objetivo principal, que é investigar os vínculos entre eventos históricos e o meio ambiente, proporcionando uma visão abrangente sobre a influência das ações passadas no meio ambiente. Por meio de uma análise detalhada, o autor explora como decisões políticas, econômicas e sociais de diferentes épocas impactaram ecossistemas e moldaram o estado atual da natureza. Esta obra é importante para a formação de acadêmicos interessados na interseção da história com o meio ambiente. Oferece uma perspectiva que abrange diversos momentos históricos, bem como destaca a importância de entender o passado para enfrentar desafios ambientais contemporâneos.

Sumário de História e Meio Ambiente: tempo passado, tempo presente

• 1. Da Teoria ao Primeiro Parque Nacional: As Políticas Ambientais e o Brasil da Primeira República | Márcio Mota Pereira
• 2. Racismo Ambiental: Uma Perspectiva a Partir da Economia Ecológica | Gabriela Silveira Alencar
• 3. Por um Passado Mais Distante: Contribuições da Arqueologia para a História Ambiental | Aguinaldo de Jesus Moraes Marques, Brenda Bandeira de Azevedo, Isabella Almeida de Oliveira, André Felipe de Moraes Marques, e Manoel Tavares de Paula
• 4. A Perda de Cobertura Vegetal Devido à Expansão das Atividades Agropecuárias no Estado do Tocantins | Jociele de Araújo Silva
• 5. Cococi, a Cidade Esquecida pelo Tempo: A Materialização da Memória Através do Cinema | Cheyenne de Oliveira Alencar, Francilda Alcântara Mendes, e Juliana Rodrigues Barreto Cavalcante
• Sobre o Organizador
• Índice Remissivo

Resenhista

Elizabeth Souza Oliveira é graduada em História Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Entre outros trabalhos, publicou: O Pensamento Decolonial:  Conceitos para Pensar uma Prática de Pesquisa de Resistência. ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/4043480788411718; ID: ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8948-7382; E-mail: eliza.oliveira.58@gmail.com.

Para citar esta resenha

Resenha de: OLIVEIRA, Elizabeth Souza. Perspectivas históricas e preservação ambiental. Crítica Historiográfica. Natal, v.d4, n.8, jul./ago, 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/perspectivas-historicas-e-preservacao-ambiental-resenha-de-elizabeth-de-souza-oliveira-sobre-o-livro-historia-e-meio-ambiente-tempo-passado-tempo-presente-marcio-mota-per/>.

© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.18, jul./ago., 2024 | ISSN 2764-2666.