Profissionalização histórica – Resenha de Elemi Santos (SEED-BA/UFS) sobre “Teoria e Formação do Historiador”, de José D’Assunção Barros
Resumo: Teoria e Formação do Historiador, de Jose D’Assunção Barros, é uma breve introdução aos estudos da disciplina e do campo da Teoria da História, destinada a funcionar como texto propedêutico ao preparo dos profissionais da área da História. É produto de um artigo incluído em obra autoral, anterior, mais vasta e mais aprofundada, intitulada Teoria da História (volumes I, II, III, IV e V), que discute, entre outros temas, as relações entre Teoria e Método, Teoria e Historiografia, Positivismo, Historicismo e Materialismo Histórico.
Palavras-chave: Teoria da História, Formação do Historiador, Introdução aos Estudos Históricos.
Historical Professionalization – Elemi Santos’s review of “Theory and Training of the Historian”, by Jose D’Assunção Barros.
Abstract: Theory and Training of the Historian, by Jose D’Assunção Barros, is a brief introduction to the discipline and field of Theory of History, intended to serve as a propaedeutic text for the preparation of professionals in the area of History. It is a product of an article included in an earlier, larger, and more in-depth authorial work entitled Theory of History (Volumes I, II, III, IV, and V), which discusses, among other topics, the relationships between Theory and Method, Theory and Historiography, Positivism, Historicism, and Historical Materialism.
Keywords: Theory of History, Historian Training, Introduction to Historical Studies.
Teoria e Formação do Historiador, de José D’Assunção Barros, comunica teses defendidas nos três primeiros volumes da sua coletânea Teoria da História. Posteriormente, dado à demanda de alunos e professores de graduação em História, o texto foi transformado em um pequeno livro, publicado em 2017, com uma terceira reimpressão em 2021, pela Editora Vozes.
José D’Assunção Barros é historiador e professor associado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), professor permanente do programa de História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre e doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui uma graduação em música também pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), área sobre a qual tem se dedicado ao lado da pesquisa em História. O volume IV de – “Teoria da História, Acordes Historiográficos” –, que propõe “experimentalmente” uma nova forma de olhar para o pensamento historiográfico, utiliza metaforicamente o conceito de “acorde” para explicitar a “identidade teórica” da obra de alguns historiadores que foram examinadas pelo autor. Barros desenvolve pesquisas nas áreas de Teoria da História, Filosofia da História, Metodologia e Historiografia, música, literatura, artes e cinema. Tem abordado, sociológica e historiograficamente, questões relacionadas às “desigualdades sociais”, “utopias” e “distopias” e já publicou 150 artigos e 30 livros autorais.
Na introdução, o autor questiona sobre a razão de as pessoas não leitoras da historiografia especializada (sendo profissionais da área ou não) perceberem e constituírem erroneamente o estudo/ensino de História. Propõe um esclarecimento introdutório acerca de “o que é Teoria”, “o que é Teoria da História”, “as diferenças entre teoria e método”, “a Teoria da História como campo especializado dentro da História” e os “paradigmas historiográficos”.
O capitulo 1 –“Teoria na época da Historiografia ou: Historiografia na época da Teoria” – narra o surgimentoda Teoria da História como instrumento de cientificidade da História e da formação do historiador. O autor afirma que o século XVIII foi marcado pela “emergência das filosofias da História”, e, dentre outros autores, Immanuel Kant (1724-1804) e Friedrich Hegel (1770-1831) já defendiam uma pretensão de cientificidade historiográfica. Na passagem do século XVIII para o século XIX, criam-se as “condições epistemológicas” para que questões teóricas e metodológicas fossem colocadas lado a lado a obras de célebres filósofos historicistas. Assim, os trabalhos de historiadores como Wilhelm Dilthey (1833-1911), Leopold Von Ranke (1795-1880) e Johann Gustav Droysen (1808-1884) são indícios de um novo momento para a História e produção historiográfica. Nesse contexto, nascem as primeiras correntes de pensamentos que se tornariam os grandes paradigmas de Teoria da História: Historicismo, Positivismo e Materialismo Histórico.
Nos capítulos 2 e 3 – “Teoria” e “Teoria X Método” –, respectivamente, Barros evidencia a emergência de definir e entender o significado de Teoria e a diferença entre Teoria e Metodologia. Nesse sentido, Teoria é compreendida como as idéias de “ver”, “perceber”, “modo de pensar”, visão de mundo, maneira como determinado objeto é examinado a partir de conceitos e fundamentos teóricos. Metodologia é definida como um modo de “fazer” a partir de “aspectos práticos”, “procedimentos padronizados”, “técnicas e interpretações”. Para o autor, uma maneira de ver as coisas leva à alternativa ou à possibilidade de resolver ou fazer as coisas, ou seja, os aportes teóricos e metodológicos caminham lado a lado na produção historiográfica.
No capítulo 4 –“Teoria da História” –, o autor afirma que a passagem do século XVIII para o XIX é o momento em que a cientificidade marca a historiografia, passando a História a ser vista como ciência. Esse é o tempo em que surge a Teoria da História. Barros também chama a atenção para os múltiplos significados da expressão “Teoria da História”.
A expressão “Teoria da História” é usada no sentido mais amplo, na conceituação e referenciação aos princípios e perspectivas, na referenciação aos grandes paradigmas historiográficos ou na exemplificação de eventos ou processos mais específicos (como, por exemplo, a “Revolução Francesa”) e/ou para se referir, de modo genérico, à produção historiográfica. Segundo o autor, o conflito dificilmente abandonará o campo da Teoria.
Nos capítulos 5 e 6, intitulados respectivamente de “O surgimento das Teorias da História: o contraste inicial entre Historicismo e Positivismo” e “Materialismo Histórico”, Barros traz definições e diferenças básicas entre os paradigmas Historiográficos, Historicismo, Positivismo e Materialismo Histórico.
Como dito, a passagem do século XVIII ao XIX – um novo marco para a história “científica” – é também um tempo de transposição das filosofias às terias da História, sem cessar o campo de produção e de saber dessas “filosofias”. Nesse contexto, surgem o Historicismo (a partir da Escola alemã) e o Positivismo. O primeiro destaca-se como perspectiva universalizante da História por especular que a produção historiográfica deve considerar, entre outros aspectos, a subjetividade do historiador. O autor acrescenta que a maior contribuição historicista é introduzida nas obras de historiadores como Dilthey e Droysen, por terem chamado a atenção para a história das coisas, inclusive a historicidade “da razão humana”. O Positivismo, no entanto, rejeita a subjetividade na produção historiográfica ao mesmo tempo em que defende apenas o uso do documento como fonte. Já o Materialismo Histórico, fundado a partir do século XIX, como campo teórico-metodológico, com as obras de K. Marx e F. Engels, tem como principal objetivo compreender a história e as dinâmicas das sociedades humanas a partir de três fundamentos: Dialética, Materialismo e Historicidade Radical. Barros declara que o Materialismo Histórico configura um campo rico e dinâmico para a percepção da importância da Teoria Histórica.
No último capítulo – “Sobre o papel da Teoria da História na formação do historiador” – o autor chama atenção para o fato de que a teoria é indispensável na produção historiográfica assim como no trabalho do profissional de História em sala de aula, pois a “Teoria da História” se constrói com Teoria e Método. Para o autor, na atualidade, a Historiografia está “vinculada a problemas” e na busca de solucioná-los, o profissional da História se valerá da Teoria, de um paradigma ou de muitos paradigmas historiográficos.
Essa obra de Barros, que pode ser lida em 02 ou 03 horas, sintetiza a importância da Teoria da História na formação do historiador ou de pessoas que buscam conhecer a produção historiográfica. É um breve e panorâmico resumo do contexto do surgimento da Teoria da História e, consequentemente, da emergência dos paradigmas historiográficos. É um convite para lermos outras obras de sua autoria, que discorrem sobre os mesmos temas, porém de modo mais amplo.
Por outro lado, talvez por se tratar de um livro originado de um artigo, em muitos aspectos, a obra se apresenta resumida demais. Certamente, o leitor sentirá a necessidade de recorrer a outras fontes, até mesmo a outras obras do mesmo autor em busca de um definições mais abrangentes ou de explicações mais satisfatórias.
A obra também se ressente de um diálogo de Teoria da História mais atual, que contemple os novos paradigmas historiográficos, emergentes no século XX e XXI, embora o autor tenha esclarecido que os paradigmas apresentados não são os únicos. Além disso, como professora da educação básica, senti a falta de um direcionamento de referências maiores à categoria docente, uma vez que grande parte dos egressos do curso de História é oriunda das licenciaturas.
No geral, a obra cumpre o objetivo acordado, já que conceitua teoria e Teoria da História, diferencia teoria e método, discorre sobre o surgimento da História como Ciência e dos paradigmas Historiográficos, exemplificando por meio da citação de obras e autores que tiveram participação ativa nesse contexto de transformação da produção historiográfica.
Enfim, como supracitado, a obra é introdutória e está direcionada a um público recém-chegado à universidade ou que agora inicia o seu primeiro contato com a pesquisa em História.
Sumário de Teoria e formação do historiador
- Introdução
- 1. Teoria na época da Historiografia ou: Historiografia na época da Teoria
- 2. “Teoria”
- 3. Teoria x Método
- 4. O surgimento das Teorias da História: o contraste inicial entre Historicismo e Positivismo
- 5. Materialismo Histórico
- 6. Palavras finais sobre o papel da Teoria da História na formação do historiador
- Nota sobre o texto
- Referências
Para ampliar a sua revisão da literatura
- Consulte resenhas de livros sobre
- Epistemologia da História | Epistemologia histórica | Epistemologias da História
- Filosofia da história
- Teoria da História
- História da Historiografia | História da historiografia alemã | História da Historiografia Brasileira | História da historiografia moderna | História da historiografia nos EUA
- Introdução aos estudos históricos
- Metodologia da história
- Método histórico
- Consulte dossiês de artigos sobre
- Epistemologia Histórica
- Filosofia da História | Filosofias da História
- Teoria da História | Teoria da História da Historiografia | Teorias da História
- Consulte outras avaliações do trabalho de José D’Assunção Barros
- José D’ Assunção Barros
Resenhista
Elemi Santos é professora do Colégio Municipal Professora Maria Verônica Matos do Nascimento, no município de Antas (BA) e do Centro Educacional Professora Maria Ferreira da Silva, no município de Nova Soure (BA) e aluna do Mestrado em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. Publicou “O digital no ensino – Resenha de Ensino de História e Historiografia escolar digital, de Marcella Albaine Farias da Costa” (2022). ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/7957222155239656; ID ORCID: https://orcid.org/orcid=0000-0003-0744-7908; Instagram: prof.elemi; e-mail: elemisantos1@gmail.com.
Para citar esta resenha
BARROS, José D’Assunção. Teoria e formação do historiador. Petrópolis: Vozes. 2021. 72p. Resenha de: SANTOS, Elemi. Teoria e profissionalização histórica. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.9, jan./fev., 2023. Disponível em<https://www.criticahistoriografica.com.br/profissionalizacao-historica-resenha-de-teoria-e-formacao-do-historiador-de-jose-dassuncao-barros/>. DOI: 10.29327/254374.3.9-2
© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).