Revistas Brasileiras de História: breve perfil em 2022

Por Itamar Freitas (UFS) | ID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214Jane Semeão (URCA) |ID:https://orcid.org/0000-0001-6804-1640Margarida Maria Dias de Oliveira | https://orcid.org/0000-0002-8542-4173.

Mosaico de revistas de História publicadas na América Latina | Imagem: Blog Resenha Crítica

Neste setembro de 2022, a revista Crítica Historiográfica completa um ano de existência. Para marcar a data, resolvemos comemorá-la da maneira mais pragmática possível. Em primeiro lugar, criamos uma seção de “artigos de revisão”. Como o nome indica, este será o espaço para a publicação de artigos que inventariem e processem categorias, conceitos históricos e modelos de interpretação que respondam às questões e orientações teórico metodológicas demandadas por pesquisas nos mais diferentes domínios da História. A seção é inaugurada com textos sobre o conceito de Terrorismo, as historiografias que exploram o Office of Strategic Services (agência de inteligência dos Estados Unidos) e as ligas contra o analfabetismo no Brasil.

Em segundo lugar, iniciamos uma série de breves publicações que fornecem um perfil o mais abrangente possível da prática da crítica historiográfica publicada em periódicos de História. A primeira delas, como veremos na sequência, apresenta informações sobre o número de revistas de História em circulação no Brasil e, principalmente, sobre os modos pelos quais os periódicos brasileiros estabelecem identidades “históricas”. Nos próximos números, faremos perfis sobre o conteúdo dos dossiês de artigos e, principalmente, da prática de resenhar e revisar a literatura historiográfica.

* * *

Revistas de História são periódicos que circulam, majoritariamente, em suporte eletrônico. Pelos dados do blog Resenha Crítica, e tomando como ponto de corte as revistas que puseram alguma edição em circulação ou mantiveram disponíveis os seu acervos on line, inclusive, entre 2018 e 2022, elas totalizam 213. O número pode crescer após a publicação deste texto, mas é por esse critério material e temporal que construímos as informações abaixo.

O que esse número significa é uma incógnita. Em termos de extensão, é provável que representemos 50% do que a América Latina produz no gênero. Infelizmente, não encontramos levantamentos sistemáticos sobre o nascimento e morte de revistas de História no Brasil, nem sobre os critérios que as definiriam como “de história” (ao final, anunciamos o nosso). Mas é possível concluir, no século XIX, existiam menos de uma dezena de revistas do tipo (e que hoje são disponibilizadas eletronicamente, em formato funcional de revista), a exemplo das clássicas Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839) e Revista do Arquivo Público Mineiro (1895). A taxa de nascimento em duas por ano se manteve até os anos noventa do século XX e foi duplicada na primeira década do atual.

Neste último período (2007/2018), o nascimento de revistas é marcado pela emergência do suporte eletrônico, alcançando o número médio de 10 novos periódicos por ano até declinar aos antigos quatro novos títulos anuais do século passado. Seria a consolidação dos periódicos nascidos na era digital? Não sabemos. É certo, porém, que apenas 9 dessas 213 revistas foram descontinuadas (ou ganharam novo nome e série), como os Cadernos de História/UFU (1989/2007), Textos de História/UNB (1993/2009), Trajetos/UFC (2001/2009) e a Revista Paraibana de História/ANPUH-PB (2014-2016).

Observando a distribuição espacial, constatamos que apenas uma unidade da federação não está contemplada neste levantamento. Dentro de cada estado, há concentração de títulos nas capitais. Em alguns lugares, por outro lado, há melhor capilaridade, como na Bahia (que possui revistas em Cachoeira, Caetité, Ilhéus, Vitória da Conquista, além de Salvador), em Minas Gerais (Ibirité, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas e Uberlândia, além de Belo Horizonte) e no Mato Grosso do Sul (Aquidauana, Coxim, Dourados, Três Lagoas e Cáceres). Há também concentração de títulos no conjunto de estados formado por São Paulo (32), Rio de Janeiro (31), Minas Gerais (22), o que representa 41% do total. Somando esse quantitativo aos títulos do Rio Grande do Sul (17) e do Paraná (16), o número vai a 51% das revistas brasileiras de História disponíveis, convencionalmente, em formato eletrônico.

Aproximadamente ¾ desse conjunto está custodiado por instituições do setor público e ¼ pelo setor privado, havendo poucas parcerias entre instituições públicas, como a Revista Veredas da História (UFBA/UERJ/UFRJ/UFPEL/UnB) e Crítica Historiográfica (UFRN/UFS), ou entre instituições públicas e instituições privadas, como a Jamaxi – Revista de História e Humanidades (UFAC/ANPUH-AC) e a História – Questões & Debates (UFPR/ANPUH-PR).

Esses dados dizem muito sobre os traços diacríticos explicitados pelos editoriais dos números iniciais e descrições de “foco e escopo” de cada periódico. São, dominantemente, revistas armazenadas e/ou apoiadas por instituições do ensino superior público – como a Revista Antígona, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), e a Sertão História, da Universidade Regional do Cariri (URCA) – ou do ensino superior privado – Revista Historiador, da Faculdade Porto-Alegrense (FAPA). São também custodiadas, armazenadas ou constituídas por associações que congregam pesquisadores de certo domínio acadêmico ou função profissional – Palavras ABEHrtas, da Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH) e profissionais de áreas do conhecimento – Revista Brasileira de História, da Associação Nacional de História (ANPUH). Apenas 4% são de iniciativa discente, a exemplo da Aedos, dos alunos de pós-graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e a revista Em Tempo de Histórias, dos alunos de pós-graduação em História da Universidade UnB.

O que faz com que uma revista seja reconhecida como “de história”, segundo tal levantamento, não se limita, obviamente, à presença do termo (história) no título, fato verificado em pouco mais de 6% delas. Também não se limita à presença de “história”, “histórico” no nome da instituição proprietária, número que pode chegar a pouco mais de 15%. Os periódicos AbeÁfrica, da Associação Brasileira de Estudos Africanos (ABE-ÁFRICA), e Revista M., produzida pela Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC) são bons exemplos. Albuquerque – Revista de História (outro exemplo), é uma revista do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais (PPGCult), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/Aquidauana), que homenageia a transsexual Camila Albuquerque, assassinada em 15/03/2015, na cidade de Salvador-BA. O reconhecimento, por fim, não se limita à natureza formação dos seus criadores e gerentes, pois vários domínios negligenciados por programas de pós-graduação em História possuem periódicos especializados na historicidade dos seus objetos substantivos. São os casos de: História da Enfermagem, do Forum Permanente de Pesquisadores de História da Enfermagem (FPHE), da Revista História do Direito, do Instituto Brasileiro de História do Direito (IBHD), da Carta Internacional, revista de História das Relações Internacionais e da Política Externa da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI), e da History of Education in Latin America, que congrega pesquisadores da História da Educação, radicados, principalmente, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN. Enfim, o caráter “de História” das revistas com as quais construímos este perfil é reivindicado por seus diretores, editores e secretários executivos mediante estratégias isoladas ou combinadas.

A revista Cantareira (UFF) e a revista Clio (UFPR), por exemplo, são simplesmente (1) revistas de ciência (ou da área) da História. Já os periódicos Perspectiva Histórica (CEBEP) e Revista Rumos da História (IFES) demarcam identidade somente nos (2) títulos, enquanto Albuquerque – Revista de História e Revista Ciências da Religião – e História e Sociedade vincam inicialmente identidade apenas no (3) subtítulo. Outros demarcadores frequentemente empregados de modo isolado são: (4) a referência à instituição de custódia (ou proprietária) – Revista Maracanã, revista dos professores do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ, ao (5) domínio histórico específico (subárea, campo, subcampo, disciplina ou subdisciplina, à depender da chave teórica sugerida por essas palavras) – como Kwanissa – Revista de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros, que foca na história e cultura africana e afro-diaspórica – ou (6) ao objeto intelectual/material privilegiado pelo periódico, como é o caso da Revista Fontes (UNIFESP), que explicita o caráter de “instrumento de trabalho para historiadores”.

Os demais casos de identificação combinam, como anunciamos, vários demarcadores entre mais de uma dezena possíveis: (7) o título e o domínio – História da Historiografia (UFOP); (8) o título metafórico e a custódia – Ofícios de Clio, revista discente vinculada ao Laboratório de Ensino de História e ao Programa de Pós-Graduação em História da UFPEL; (9) o título, o domínio, e a custódia – Revista de História e Historiografia da Educação, do Grupo de Trabalho de História da Educação da ANPUH-BR; (10) o subtítulo e a custódia – Igualitária – Revista do Curso de História da Estácio BH; (11) o subtítulo, a custódia e, implicitamente, a área – Revista Contraponto (UFPI), periódico do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História; (12) o domínio, a custódia e a destinação a um público multidisciplinar de autores – Alétheia – Revista de Estudos sobre Antiguidade e Medievo (Unipampa), periódico do curso de Licenciatura em História que acolhe a produção de licenciados, pós-graduandos e doutores em História Antiga e Medieval, Filosofia Antiga e Medieval e em Letras Clássicas; e, ainda, (13) a natureza interdisciplinar e a inclusão da ciência da História no escopo, como faz a Revista Estudos Feministas (UFSC), que acolhe trabalhos construídos nas áreas da Sociologia, Antropologia, Literatura, Estudos Culturais, Ciência Política, entre outras.

Estamos longe de esgotar as possibilidades analíticas do inventário continuado disponível no blog Resenha Crítica. Mas já é possível afirmar que os periódicos classificados como “de História” estão sob a responsabilidade de profissionais das ciências humanas, sociais, naturais, biológicas e das matemáticas. A holística rubrica “História”, como vimos, é minoritária, ou seja, os periódicos estão cada vez mais especializados na historicidade de objetos os mais diversos em tempo, espaço e natureza, a exemplo do Gênero Mulher e do Partido Político, da Ciência e da Religião, da Morte e da Saúde, da América e do Brasil, do Medievo e do Tempo Presente, do Rural e do Urbano, das Ideias e dos Intelectuais, dos Acervos de Museu e de Arquivos, das Fontes, da Comparação e da Crítica. Essa capilaridade, diversidade e quantidade de objetos/títulos sugere que, na condição de leitores e autores, podemos observar os periódicos de História um pouco além do que indica a nova classificação do Qualis, no momento de selecionar um título para a publicação do artigo, da resenha, da entrevista ou da fonte comentada e, principalmente, no início das nossas necessárias revisões de literatura. A representatividade na citação não pode andar distante da exaustividade da consulta.


Autores

Margarida Maria Dias de Oliveira – Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRN. Publicou, entre outros trabalhos, Dicionário do Ensino de História(2020), em coautoria com Marieta e Morais Ferreira, e Formação dos professores de História: os desafios de uma profissão em processo de reinvenção. ID: https://orcid.org/0000-0002-8542-4173; E-mail: margaridahistoria@yahoo.com.br.

 

Itamar Freitas – Doutor em História (UFRGS) e em Educação (PUC-SP), Professor do Departamento de Educação e do Mestrado Profissional em História, da Universidade Federal de Sergipe, e editor do blog Resenha Crítica. Publicou, entre outros trabalhos, Uma introdução ao método histórico (2021) e “Objetividade histórica no Manual de Teoria da História de Roberto Piragibe da Fonseca (1903-1986)”. ID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214; Email: itamarfreitas@gmail.com.

 

Jane Semeão – Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA) e editora do bolg Resenha Crítica. Um “oásis” chamado Cariri: Instituto Cultural do Cariri, natureza, paisagem e construção identirária do sul cearense (1950-1970) e “O que a Austrália tem nos ensinar?” O Tempo Presente nos programas de História produzidos pela Australian Curriculum and Assessment Authority – ANCARA (2008-2013). ID: https://orcid.org/0000-0001-6804-1640. E-mail: janesemeão@globo.com


Para citar este artigo

FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de; SEMEÃO, Jane. Revistas Brasileiras de História: breve perfil em 2022 Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.7, set./out, 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/revistas-brasileiras-de-historia-breve-perfil-em-2022/>


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo 7ara fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n. 7, set./out, 2022 | ISSN 2764-2666

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Por Itamar Freitas (UFS) | ID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214Jane Semeão (URCA) |ID:https://orcid.org/0000-0001-6804-1640Margarida Maria Dias de Oliveira | https://orcid.org/0000-0002-8542-4173.

Mosaico de revistas de História publicadas na América Latina | Imagem: Blog Resenha Crítica

Neste setembro de 2022, a revista Crítica Historiográfica completa um ano de existência. Para marcar a data, resolvemos comemorá-la da maneira mais pragmática possível. Em primeiro lugar, criamos uma seção de “artigos de revisão”. Como o nome indica, este será o espaço para a publicação de artigos que inventariem e processem categorias, conceitos históricos e modelos de interpretação que respondam às questões e orientações teórico metodológicas demandadas por pesquisas nos mais diferentes domínios da História. A seção é inaugurada com textos sobre o conceito de Terrorismo, as historiografias que exploram o Office of Strategic Services (agência de inteligência dos Estados Unidos) e as ligas contra o analfabetismo no Brasil.

Em segundo lugar, iniciamos uma série de breves publicações que fornecem um perfil o mais abrangente possível da prática da crítica historiográfica publicada em periódicos de História. A primeira delas, como veremos na sequência, apresenta informações sobre o número de revistas de História em circulação no Brasil e, principalmente, sobre os modos pelos quais os periódicos brasileiros estabelecem identidades “históricas”. Nos próximos números, faremos perfis sobre o conteúdo dos dossiês de artigos e, principalmente, da prática de resenhar e revisar a literatura historiográfica.

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Revistas de História são periódicos que circulam, majoritariamente, em suporte eletrônico. Pelos dados do blog Resenha Crítica, e tomando como ponto de corte as revistas que puseram alguma edição em circulação ou mantiveram disponíveis os seu acervos on line, inclusive, entre 2018 e 2022, elas totalizam 213. O número pode crescer após a publicação deste texto, mas é por esse critério material e temporal que construímos as informações abaixo.

O que esse número significa é uma incógnita. Em termos de extensão, é provável que representemos 50% do que a América Latina produz no gênero. Infelizmente, não encontramos levantamentos sistemáticos sobre o nascimento e morte de revistas de História no Brasil, nem sobre os critérios que as definiriam como “de história” (ao final, anunciamos o nosso). Mas é possível concluir, no século XIX, existiam menos de uma dezena de revistas do tipo (e que hoje são disponibilizadas eletronicamente, em formato funcional de revista), a exemplo das clássicas Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839) e Revista do Arquivo Público Mineiro (1895). A taxa de nascimento em duas por ano se manteve até os anos noventa do século XX e foi duplicada na primeira década do atual.

Neste último período (2007/2018), o nascimento de revistas é marcado pela emergência do suporte eletrônico, alcançando o número médio de 10 novos periódicos por ano até declinar aos antigos quatro novos títulos anuais do século passado. Seria a consolidação dos periódicos nascidos na era digital? Não sabemos. É certo, porém, que apenas 9 dessas 213 revistas foram descontinuadas (ou ganharam novo nome e série), como os Cadernos de História/UFU (1989/2007), Textos de História/UNB (1993/2009), Trajetos/UFC (2001/2009) e a Revista Paraibana de História/ANPUH-PB (2014-2016).

Observando a distribuição espacial, constatamos que apenas uma unidade da federação não está contemplada neste levantamento. Dentro de cada estado, há concentração de títulos nas capitais. Em alguns lugares, por outro lado, há melhor capilaridade, como na Bahia (que possui revistas em Cachoeira, Caetité, Ilhéus, Vitória da Conquista, além de Salvador), em Minas Gerais (Ibirité, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas e Uberlândia, além de Belo Horizonte) e no Mato Grosso do Sul (Aquidauana, Coxim, Dourados, Três Lagoas e Cáceres). Há também concentração de títulos no conjunto de estados formado por São Paulo (32), Rio de Janeiro (31), Minas Gerais (22), o que representa 41% do total. Somando esse quantitativo aos títulos do Rio Grande do Sul (17) e do Paraná (16), o número vai a 51% das revistas brasileiras de História disponíveis, convencionalmente, em formato eletrônico.

Aproximadamente ¾ desse conjunto está custodiado por instituições do setor público e ¼ pelo setor privado, havendo poucas parcerias entre instituições públicas, como a Revista Veredas da História (UFBA/UERJ/UFRJ/UFPEL/UnB) e Crítica Historiográfica (UFRN/UFS), ou entre instituições públicas e instituições privadas, como a Jamaxi – Revista de História e Humanidades (UFAC/ANPUH-AC) e a História – Questões & Debates (UFPR/ANPUH-PR).

Esses dados dizem muito sobre os traços diacríticos explicitados pelos editoriais dos números iniciais e descrições de “foco e escopo” de cada periódico. São, dominantemente, revistas armazenadas e/ou apoiadas por instituições do ensino superior público – como a Revista Antígona, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), e a Sertão História, da Universidade Regional do Cariri (URCA) – ou do ensino superior privado – Revista Historiador, da Faculdade Porto-Alegrense (FAPA). São também custodiadas, armazenadas ou constituídas por associações que congregam pesquisadores de certo domínio acadêmico ou função profissional – Palavras ABEHrtas, da Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH) e profissionais de áreas do conhecimento – Revista Brasileira de História, da Associação Nacional de História (ANPUH). Apenas 4% são de iniciativa discente, a exemplo da Aedos, dos alunos de pós-graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e a revista Em Tempo de Histórias, dos alunos de pós-graduação em História da Universidade UnB.

O que faz com que uma revista seja reconhecida como “de história”, segundo tal levantamento, não se limita, obviamente, à presença do termo (história) no título, fato verificado em pouco mais de 6% delas. Também não se limita à presença de “história”, “histórico” no nome da instituição proprietária, número que pode chegar a pouco mais de 15%. Os periódicos AbeÁfrica, da Associação Brasileira de Estudos Africanos (ABE-ÁFRICA), e Revista M., produzida pela Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC) são bons exemplos. Albuquerque – Revista de História (outro exemplo), é uma revista do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais (PPGCult), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/Aquidauana), que homenageia a transsexual Camila Albuquerque, assassinada em 15/03/2015, na cidade de Salvador-BA. O reconhecimento, por fim, não se limita à natureza formação dos seus criadores e gerentes, pois vários domínios negligenciados por programas de pós-graduação em História possuem periódicos especializados na historicidade dos seus objetos substantivos. São os casos de: História da Enfermagem, do Forum Permanente de Pesquisadores de História da Enfermagem (FPHE), da Revista História do Direito, do Instituto Brasileiro de História do Direito (IBHD), da Carta Internacional, revista de História das Relações Internacionais e da Política Externa da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI), e da History of Education in Latin America, que congrega pesquisadores da História da Educação, radicados, principalmente, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN. Enfim, o caráter “de História” das revistas com as quais construímos este perfil é reivindicado por seus diretores, editores e secretários executivos mediante estratégias isoladas ou combinadas.

A revista Cantareira (UFF) e a revista Clio (UFPR), por exemplo, são simplesmente (1) revistas de ciência (ou da área) da História. Já os periódicos Perspectiva Histórica (CEBEP) e Revista Rumos da História (IFES) demarcam identidade somente nos (2) títulos, enquanto Albuquerque – Revista de História e Revista Ciências da Religião – e História e Sociedade vincam inicialmente identidade apenas no (3) subtítulo. Outros demarcadores frequentemente empregados de modo isolado são: (4) a referência à instituição de custódia (ou proprietária) – Revista Maracanã, revista dos professores do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ, ao (5) domínio histórico específico (subárea, campo, subcampo, disciplina ou subdisciplina, à depender da chave teórica sugerida por essas palavras) – como Kwanissa – Revista de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros, que foca na história e cultura africana e afro-diaspórica – ou (6) ao objeto intelectual/material privilegiado pelo periódico, como é o caso da Revista Fontes (UNIFESP), que explicita o caráter de “instrumento de trabalho para historiadores”.

Os demais casos de identificação combinam, como anunciamos, vários demarcadores entre mais de uma dezena possíveis: (7) o título e o domínio – História da Historiografia (UFOP); (8) o título metafórico e a custódia – Ofícios de Clio, revista discente vinculada ao Laboratório de Ensino de História e ao Programa de Pós-Graduação em História da UFPEL; (9) o título, o domínio, e a custódia – Revista de História e Historiografia da Educação, do Grupo de Trabalho de História da Educação da ANPUH-BR; (10) o subtítulo e a custódia – Igualitária – Revista do Curso de História da Estácio BH; (11) o subtítulo, a custódia e, implicitamente, a área – Revista Contraponto (UFPI), periódico do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História; (12) o domínio, a custódia e a destinação a um público multidisciplinar de autores – Alétheia – Revista de Estudos sobre Antiguidade e Medievo (Unipampa), periódico do curso de Licenciatura em História que acolhe a produção de licenciados, pós-graduandos e doutores em História Antiga e Medieval, Filosofia Antiga e Medieval e em Letras Clássicas; e, ainda, (13) a natureza interdisciplinar e a inclusão da ciência da História no escopo, como faz a Revista Estudos Feministas (UFSC), que acolhe trabalhos construídos nas áreas da Sociologia, Antropologia, Literatura, Estudos Culturais, Ciência Política, entre outras.

Estamos longe de esgotar as possibilidades analíticas do inventário continuado disponível no blog Resenha Crítica. Mas já é possível afirmar que os periódicos classificados como “de História” estão sob a responsabilidade de profissionais das ciências humanas, sociais, naturais, biológicas e das matemáticas. A holística rubrica “História”, como vimos, é minoritária, ou seja, os periódicos estão cada vez mais especializados na historicidade de objetos os mais diversos em tempo, espaço e natureza, a exemplo do Gênero Mulher e do Partido Político, da Ciência e da Religião, da Morte e da Saúde, da América e do Brasil, do Medievo e do Tempo Presente, do Rural e do Urbano, das Ideias e dos Intelectuais, dos Acervos de Museu e de Arquivos, das Fontes, da Comparação e da Crítica. Essa capilaridade, diversidade e quantidade de objetos/títulos sugere que, na condição de leitores e autores, podemos observar os periódicos de História um pouco além do que indica a nova classificação do Qualis, no momento de selecionar um título para a publicação do artigo, da resenha, da entrevista ou da fonte comentada e, principalmente, no início das nossas necessárias revisões de literatura. A representatividade na citação não pode andar distante da exaustividade da consulta.


Autores

Margarida Maria Dias de Oliveira – Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRN. Publicou, entre outros trabalhos, Dicionário do Ensino de História(2020), em coautoria com Marieta e Morais Ferreira, e Formação dos professores de História: os desafios de uma profissão em processo de reinvenção. ID: https://orcid.org/0000-0002-8542-4173; E-mail: margaridahistoria@yahoo.com.br.

 

Itamar Freitas – Doutor em História (UFRGS) e em Educação (PUC-SP), Professor do Departamento de Educação e do Mestrado Profissional em História, da Universidade Federal de Sergipe, e editor do blog Resenha Crítica. Publicou, entre outros trabalhos, Uma introdução ao método histórico (2021) e “Objetividade histórica no Manual de Teoria da História de Roberto Piragibe da Fonseca (1903-1986)”. ID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214; Email: itamarfreitas@gmail.com.

 

Jane Semeão – Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA) e editora do bolg Resenha Crítica. Um “oásis” chamado Cariri: Instituto Cultural do Cariri, natureza, paisagem e construção identirária do sul cearense (1950-1970) e “O que a Austrália tem nos ensinar?” O Tempo Presente nos programas de História produzidos pela Australian Curriculum and Assessment Authority – ANCARA (2008-2013). ID: https://orcid.org/0000-0001-6804-1640. E-mail: janesemeão@globo.com


Para citar este artigo

FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de; SEMEÃO, Jane. Revistas Brasileiras de História: breve perfil em 2022 Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.7, set./out, 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/revistas-brasileiras-de-historia-breve-perfil-em-2022/>


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo 7ara fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n. 7, set./out, 2022 | ISSN 2764-2666

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